Política
Publicado em 19/05/2025, às 07h42 Dani Oliveira
A CPI das Apostas Esportivas, batizada em Brasília de "CPI das Bets" mergulhou de vez no terreno de acusações de propina, tráfico de influência e relações obscuras entre políticos e lobistas.
O convite do lobista Silvio de Assis, pedido pelo senador Eduardo Girão (Novo-CE), mudou o ambiente montado para ouvir a influenciadora Virginia Fonseca, na terça-feira 13. Até então, a comissão caminhava entre selfies e discursos genéricos.
Girão recordou denúncias de que o lobista é peça-chave de um suposto esquema de extorsão contra empresários do setor de apostas. O plano, segundo ele, seria simples: empresários pagam para não ser convocados pela CPI. Em troca, recebem o benefício da invisibilidade; não precisam aparecer nem prestar contas.
A Revista Oeste confirmou que o nome de Silvio de Assis apareceu numa reunião entre o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o ex-presidente do Senado Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), no ano passado.
O tema do encontro: denúncias de achaque a empresários ligados ao setor.
Segundo relatos de parlamentares, há indícios de que requerimentos da CPI estejam sendo direcionados de forma seletiva. Em outras palavras: quem paga não vai. Parte do dinheiro, conforme as acusações, seria repassada a senadores envolvidos no esquema.
O nome da senadora Soraya
Thronicke (Podemos-MS), relatora da CPI, surgiu no centro das denúncias.
De acordo com um relato de Silvio de Assis, repercutido por Girão, a senadora teria usado o lobista para pedir R$ 40 milhões. O objetivo seria o mesmo: evitar a convocação de empresários ligados às casas de apostas.
Soraya foi citada
"A senadora Soraya é uma das citadas", declarou Girão. "Através desse lobista, teria pedido R$ 40 milhões para não vir depoente de casas de apostas aqui."
Soraya nega as acusações. Disse ainda apoiar a oitiva do lobista e afirmou que subscreveu o requerimento de Girão.
A situação fica mais complicada com a relação entre a relatora da CPI e o lobista Silvio de Assis. A senadora, inclusive, admitiu conhecer o lobista. Soma-se a isso o fato de que dois parentes de Silvio de Assis, sua irmã e seu genro, chegaram a ocupar cargos de assessoria no gabinete da senadora relatora dessa CPI das Bets", denuncia Girão, no texto do requerimento.
David Vinícius Oruê de Oliveira, genro do lobista, ainda consta entre os assessores da parlamentar.
Presidente da CPI das Bets não quer pautar requerimento
Durante a sessão que ouviu Virginia Fonseca, o presidente da CPI, Hiran Gonçalves (PP-RR), disse que o caso é da competência da Polícia Federal. A reportagem procurou os gabinetes da relatora e do presidente do colegiado sobre a inclusão do requerimento em pauta.
"A senadora Soraya aguarda com urgência o posicionamento do presidente da Comissão para que os requerimentos sejam apreciados", afirmou a assessoria da parlamentar, em nota. "Reforça, ainda, que não tam nada a esconder e que seguirá trabalhando com transparência, ética e comprometimento com a verdade."
O presidente da Comissão ainda não respondeu. O espaço segue aberto.
O que é a CPI das Bets
A CPI foi instalada em novembro de 2024, e tem funcionamento previsto para até o dia 14 de junho no Senado. Ela conta com dez membros titulares e sete suplentes.
O objetivo da comissão é investigar “a crescente influência dos jogos virtuais de apostas online no orçamento das famílias brasileiras, além da possível associação com organizações criminosas envolvidas em práticas de lavagem de dinheiro, bem como o uso de influenciadores digitais na promoção e divulgação dessas atividades”.
Influenciadores como testemunhas
A CPI tem tentado ouvir influenciadores com amplo alcance nacional para esclarecer o funcionamento das plataformas de apostas online, e os contratos de publicidade firmados. A influenciadora Deolane Bezerra, alvo de operação por envolvimento com a Esportes da Sorte, chegou a ser convocada, mas conseguiu decisão favorável no Supremo Tribunal Federal (STF) para não comparecer.
Ao longo das próximas semanas, a CPI das Bets do Senado pode ouvir uma nova leva de celebridades. A comissão de inquérito tem uma extensa lista de convocações e convites já aprovados e que aguardam apenas o agendamento dos depoimentos. Cabe ao presidente do colegiado, senador Hiran Gonçalves (PP-RR), definir a pauta.
Após os depoimentos de Virginia Fonseca e Rico Melquiades, a CPI tem 18 influenciadores digitais e famosos na lista de convocados e convidados.
Entre os nomes, estão dois dos cantores mais ouvidos do Brasil, Wesley Safadão e Gusttavo Lima, e as celebridades Gkay e Jojo Todynho, que juntas têm mais de 40 milhões de seguidores.
Sete influenciadores foram convocados na condição de testemunha — o que obriga o comparecimento. Estão nessa categoria nomes como os ex-BBBs Viih Tube, Rodrigo Mussi e Eliezer.
Outros dois famosos foram convidados a prestar depoimento — e podem escolher ir ou não à CPI. São eles: Felipe Neto e Mayk Santos.
Classificação Indicativa: Livre