Polícia

Família de universitária assassinada envia carta a políticos do RN: "justiça e honra"

Imagem Família de universitária assassinada envia carta a políticos do RN: "justiça e honra"
Carta aberta à classe política potiguar pede mobilização e atenção para o júri popular do acusado pelo crime  |   BNews Natal - Divulgação

Publicado em 02/06/2025, às 13h29   Redação



Familiares e amigos da universitária Zaira Dantas Silveira Cruz, de 21 anos, assassinada durante o carnaval de 2019, enviou uma carta aberta à classe política potiguar pedindo mobilização e atenção para o júri popular do acusado pelo crime, o sargento da Polícia Militar Pedro Inácio Araújo de Maria, que começou nesta segunda-feira (02). O julgamento, que acontece no Fórum Miguel Seabra Fagundes, em Natal, tem previsão de ouvir 22 depoimentos, e só deve ter o veredito revelado na quinta-feira, dia 5. 

Na carta, a familiares, amigos e integrantes de movimentos coletivos de mulheres relembram o caso brutal ocorrido no dia 2 de março de 2019. Zaira, à época com 21 anos, estudante de Engenharia Química na UFERSA e natural de Currais Novos, foi encontrada morta dentro do carro do acusado. O laudo do Instituto Técnico-Científico de Perícia (ITEP) apontou que a jovem foi assassinada por asfixia por esganadura, com indícios de estupro e tentativa de ocultação de crime sexual.

A Polícia Civil concluiu que Zaira Cruz foi vítima de estupro e feminicídio, tendo o réu sido denunciado pelo Ministério Público do RN por crime qualificado.

A carta ressalta o impacto do crime na sociedade potiguar e afirma que a luta por justiça representa um compromisso coletivo com a memória da vítima e com todas as mulheres que sofrem com a violência de gênero. “Zaira, que de forma atroz teve a sua vida interrompida, bem como seus sonhos e projetos de vida futura”, diz o texto.

O texto também destaca a importância da realização do Júri Popular como um marco na responsabilização dos culpados e na defesa de uma sociedade mais justa. Os signatários reforçam o apelo por justiça e pedem o apoio das autoridades para que a verdade prevaleça. “Reivindicar justiça por Zaira é defender uma sociedade mais justa e igualitária para todas as mulheres e meninas”, afirmam.

Zaira Cruz / Foto: Divulgação
Zaira Cruz / Foto: Divulgação

Em entrevista ao BNews Natal, antes de iniciar o julgamento, a mãe de Zaira disse que espera que seja feita "justiça da terra e a de Deus".

Abaixo, lei a carta na íntegra

Excelentíssimos/as Senhores Deputados/as e Vereadores/as da cidade de
Natal/RN

Nos dias 2 a 5 de Junho deste ano, será realizado na cidade de Natal/RN, a ação penal de competência do Júri do caso de feminicídio que afetou toda a população do Seridó Potiguar. No dia 02 de Março de 2019, durante o carnaval de Caicó/RN, a jovem Zaira Dantas Silveira Cruz, na época estudante de Engenharia Química da Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA, natural de Currais Novos/RN, 21 anos foi encontrada sem vida no interior do veículo do denunciado Pedro Inácio Araújo de Maria, também residente da cidade de Currais Novos/RN na época do ocorrido. Ambos solteiros, já se conheciam em período anterior ao fato.

O resultado do laudo realizado pelo Instituto Técnico-Científico de Perícia do Rio Grande do Norte - ITEP, a cronologia do crime, o depoimento dos autos, o relatório do encontro de cadáver, o boletim de ocorrência, o laudo de exame de conjunção carnal, o laudo de exame de ato libidinoso, o exame de necroscópio, apontaram assassinato mediante asfixia por esganadura, com o objetivo de assegurar ocultação do crime sexual, conforme previsto na Ação Penal de n°: 0100476-41.2019.8.20.0101. 

Dessa forma, a Polícia Civil concluiu, em Março de 2019, que Zaira Cruz foi vítima de estupro e feminicídio durante a festa de carnaval do município de Caicó/RN. O réu foi denunciado pelo Ministério Público – MPRN por crime triplamente qualificado. 

Após longos seis anos, de várias requisições no processo que envolve as partes, finalmente o Júri Popular veio a ser marcado, e o mesmo ocorrerá na comarca da capital do Estado.

Dessa forma, cientes de que o feminicídio é um crime específico de homicídio contra mulheres, reconhecido como tal pela Lei 13.104/2015, que o inclui como circunstância qualificadora do crime de homicídio, vemos por meio deste documento, em nome do compromisso público com a Justiça e com a Verdade, informar às vossas autoridades sobre o fato, com o intuito de somar esforços coletivos para levar à conhecimento de toda a população à respeito do Júri Popular, para que a justiça seja realizada em honra à memória de Zaira Cruz, que, de forma atroz teve a sua vida interrompida, bem como seus sonhos e projetos de vida futura.

É sabido que os desdobramentos desse acontecimento trará repercussão social, política e cultural na sociedade potiguar, uma vez que reivindicar justiça por Zaira é defender uma sociedade mais justa e igualitária para todas as mulheres e meninas, de todas as classes sociais, que tem sofrido consequências devastadoras com a violência de gênero em suas diversas expressões. A violência de gênero é um desafio social. No Brasil, os dados revelam um cenário alarmante, com altos índices de violência doméstica, agressões, estupros e, infelizmente, feminicídios.

Por isso, contamos com o apoio das vossas autoridades no compromisso com à verdade, com a socialização democrática das informações e no zelo ao cumprimento da representação do povo, que vem clamando pela responsabilização dos culpados e na observância da Lei, por justiça e honra à memória de Zaira Cruz e de todas as mulheres e meninas que sofrem com a violência de gênero.

Natal/RN - 01 de Junho de 2025

Familiares, amigos de Zaira e movimento coletivo de mulheres e pessoas que se somam nesta luta.

Dona Ozanete e sua filha, Zaira Cruz
Dona Ozanete e sua filha, Zaira Cruz / Foto: Divulgação

O júri

Por determinação do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN), o processo corre em segredo de Justiça. Para preservar a dignidade da vítima e proteger dados sensíveis, a participação no julgamento é restrita aos familiares e profissionais autorizados.

Estão credenciados para acompanhar a sessão a mãe, o pai e a irmã de Zaira, além de uma psicóloga do Núcleo de Apoio às Vítimas de Violência Letal e Intencional (NUAVV), do Ministério Público do RN. Do lado do acusado, apenas a mãe e um acompanhante poderão estar presentes.

O Ministério Público do Rio Grande do Norte atua com três promotores de Justiça.

Caso Zaira

Natural de Currais Novos, no Seridó potiguar, Zaira Dantas da Silveira Cruz morava em Mossoró, na região Oeste. Lá, ela cursava o último ano de Engenharia Química na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). O corpo da estudante foi encontrado dentro do carro do sargento da PM Pedro Inácio de Maria. Isso aconteceu no dia 2 de março de 2019, um sábado de carnaval. O veículo estava no estacionamento de um condomínio em Caicó, também no Seridó, onde o policial e um grupo de amigos haviam alugado uma casa para passarem o feriado.

Sargento da PM Pedro Inácio de Maria
Sargento da PM Pedro Inácio de Maria / Foto: Divulgação

De acordo com denúncia feita à Justiça pelo Ministério Público Estadual, a jovem foi estuprada e brutalmente assassinada por estrangulamento. Acusado por homicídio triplamente qualificado (com uso de asfixia, para assegurar a ocultação de outro delito e feminicídio), o sargento foi preso em casa, duas semanas após o crime. Desde então, permanece no Quartel Geral da Polícia Militar, em Natal, onde aguarda o julgamento.

No dia da prisão do sargento, a Polícia Civil divulgou laudo do Instituo Técnico-Científico de Perícia, contendo a causa da morte de Zaira. Segundo o documento, a garota havia sofrido asfixia mecânica por meio de estrangulamento. Na época. O diretor do Itep-RN, Marcos Brandão, chegou declarar que a estudante fora vítima de uma morte cruel. “A estudante apresentava lesões no cérebro, nos olhos e pulmões. Além disso, dedos e lábios cianóticos (roxos). Essas características são bem contundentes para asfixia mecânica por estrangulamento, o que materializa o crime de homicídio”, afirmou.

O delegado de Polícia Civil Leonardo Germano, titular da DP de Caicó quando aconteceu o caso, foi quem presidiu o inquérito. À época, ele disse à imprensa que foi o próprio PM quem chamou a polícia para comunicar que havia encontrado o corpo de Zaira dentro do carro dele. “Em um primeiro depoimento, ele disse que teve relação sexual com a jovem dentro do carro, antes de chegarem ao condomínio. E que ela havia apagado dentro do veículo, e que ele a deixou dormindo no carro porque não quis acordá-la. E quando amanheceu, ele foi no carro vê-la, e ela estava morta. Porém, acreditamos que ele já chegou na casa com ela morta dentro do carro, e que, em algum momento antes, ele a violentou e a matou”, ressaltou o delegado, revelando ainda haver indícios fortes de que a moça havia sido estuprada.

Ainda de acordo com o delegado, no dia da prisão, o sargento se reservou ao direito de permanecer em silêncio e só falar em juízo.

Leia também

Classificação Indicativa: Livre

Facebook Twitter WhatsApp


Whatsapp floating

Receba as notificações pelo Whatsapp

Quero me cadastrar Close whatsapp floating