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Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e do Instituto Santos Dumont (ISD) desenvolveram um equipamento inovador que pode transformar o tratamento de enxaquecas, zumbidos no ouvido, epilepsia resistente a medicamentos, disfunções cardíacas e até diabetes.
Chamado de Eletroestimulador Auricular do Nervo Vago com Sensor de Frequência Cardíaca Incorporado, o dispositivo se encaixa na orelha como um fone auditivo, mas em vez de amplificar sons, estimula eletricamente o nervo vago de forma não invasiva.
O equipamento combina estimulação controlada e monitoramento cardíaco em tempo real, oferecendo uma abordagem personalizada.
Segundo o idealizador Jason Azevedo de Medeiros, o sistema atua como um “disjuntor” fisiológico, protegendo o paciente contra variações extremas de batimentos cardíacos.
A tecnologia foi pensada como terapia complementar, usada em conjunto com medicação tradicional.
O diferencial do dispositivo está no sensor de eletrocardiograma acoplado, que ajusta automaticamente a intensidade dos estímulos conforme a resposta do corpo. “A tecnologia adapta a corrente elétrica de modo inteligente, garantindo segurança e eficiência”, explica Medeiros.
Além disso, o design anatômico, impresso em 3D, foi desenvolvido para garantir conforto e estabilidade durante o uso prolongado.
O nervo vago, essencial no controle de órgãos como coração, pulmões e sistema digestivo, exige cuidado durante qualquer estimulação.
Por isso, o eletroestimulador conta com um sistema automático de segurança: caso a frequência cardíaca ultrapasse ou caia além do limite saudável - como abaixo de 50 batimentos por minuto - o aparelho interrompe imediatamente a estimulação.
O pesquisador José Carlos Gomes da Silva destaca que os modelos tradicionais não possuem esse tipo de controle. “Nosso sistema é guiado por parâmetros biológicos, o que evita riscos como a bradicardia”, afirma.
O dispositivo complementar, posicionado próximo ao coração, monitora constantemente os batimentos e serve como referência para o funcionamento seguro do equipamento.
Feito em material leve e de baixo custo, o aparelho é adaptável a diferentes formatos de orelha e pode ser usado inclusive em casa, com manutenção mínima.
“Buscamos unir eficiência, conforto e acessibilidade”, resume Amon Gonçalves de Melo Neto, responsável pelo design e pelo software do equipamento.
Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN
O protótipo surgiu das pesquisas do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFRN, especialmente a partir dos estudos de Medeiros com pessoas vivendo com HIV.
O doutorando relata que a falta de dispositivos seguros e acessíveis inspirou o desenvolvimento do equipamento. O pedido de patente foi depositado em julho e inclui a participação de dez pesquisadores da UFRN e do ISD.
A equipe integra o grupo de pesquisa Atividade Física e Saúde (Afisa), coordenado pelo professor Paulo Moreira Silva Dantas, do Departamento de Educação Física da UFRN. O grupo reúne profissionais de Educação Física, Fisioterapia e Nutrição, com foco em inovação tecnológica aplicada à saúde.
Segundo Dantas, o processo de patenteamento reforça o papel da universidade como produtora de conhecimento com impacto direto na sociedade.
“O registro dessa invenção demonstra que a pesquisa científica feita na UFRN vai além dos laboratórios e pode gerar soluções concretas e acessíveis. Isso fortalece nossa cultura de inovação e empreendedorismo acadêmico”, defende o professor.
Classificação Indicativa: Livre