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Publicado em 26/09/2025, às 14h43 Foto: José Aldenir Giovana Gurgel
As artes visuais do Rio Grande do Norte ocupam lugar de honra na mostra “Feito Potiguar: Identidade e Memória das Artes Visuais do RN”, que estreia nesta sexta-feira, 26, na Pinacoteca do Estado.
O evento celebra nomes que moldaram a identidade cultural local, de mestres já consagrados, como Abraham Palatnik e Newton Navarro, a artistas contemporâneos que exploram linguagens digitais e grafite.
Reaberta em 2021 após restauro, a Pinacoteca abriga uma linha do tempo que cruza tradição e inovação, reunindo mais de 50 artistas in memoriam.
Entre os homenageados estão nomes icônicos como Joaquim Fabrício, Dorian Gray e Xico Santeiro, além de dois artistas falecidos recentemente, Célia Albuquerque e Vatenor, o “pintor dos cajus”.
Para o curador Manoel Onofre Neto, a mostra apresenta um panorama coletivo que evidencia como a identidade visual potiguar foi construída em diálogo contínuo.
“Buscamos obras que, mesmo não sendo sempre as mais conhecidas, são essenciais para compreender a evolução do nosso olhar sobre a terra”, destacou.
A exposição é organizada em quatro módulos temáticos: “Poética Fundante”, que retrata paisagens, casarios e o cotidiano potiguar; “Cascudo, as Tradições e o Folclore”, dedicado às festas populares e à fé do povo; “Natureza Viva”, exaltando a flora e a fauna com destaque para o caju.
Há também “Feito Feminino”, que valoriza a trajetória de mulheres pioneiras nas artes visuais.
O núcleo “Feito Feminino” reúne artistas como Marieta Lima, Zaira Caldas e Célia Albuquerque, propondo uma reflexão sobre o papel das mulheres na cena artística potiguar. Para Onofre, revisitar essas histórias é também um ato político e de reparação.
Além disso, a mostra incorpora tecnologia, como o uso de Inteligência Artificial para recriar uma obra de Joaquim Fabrício, recurso que, segundo o curador, demonstra como inovação pode caminhar junto da preservação.
Elementos como sertão, litoral, folclore e caju funcionam como fios condutores da identidade potiguar. “Na arte, eles não são apenas elementos visuais, mas carregam significados profundos: resiliência, leveza, singularidade e sabedoria popular”, explicou Onofre.
Abraham Palatnik, reconhecido mundialmente como mestre da arte cinética, ganha espaço especial no acervo, lembrando que a vanguarda também tem raízes em Natal.
Além de rememorar, a mostra aponta para o futuro. Onofre defende investimentos em residências artísticas, salões de arte e formação de curadores locais como passos fundamentais para dar visibilidade à nova geração.
A digitalização de acervos e a criação de plataformas online são citadas como ferramentas que ampliam o acesso ao patrimônio artístico.
O programa “Feito Potiguar”, viabilizado em parceria entre Sebrae, Conselho Estadual de Cultura e Fundação José Augusto, fortalece a integração entre instituições públicas, setor privado e coletivos culturais.
O apoio da Pinacoteca, da qual fazem parte acervos históricos e coleções cedidas por particulares, garante a diversidade da mostra.
Nomes como Newton Navarro e Dorian Gray também têm lugar de destaque. O primeiro, com traço espontâneo, capturou a essência do povo potiguar; o segundo, com técnica refinada, retratou o cotidiano com sensibilidade crítica.
Ambos, ao lado de Ivon Rodrigues e Erasmo Xavier, foram decisivos para romper com o academicismo e inaugurar uma linguagem visual singular no estado.
Para o curador, o impacto da exposição vai além do reconhecimento artístico.
“Ela inspira novos criadores, fortalece a valorização do nosso patrimônio e envia uma mensagem clara sobre a importância de políticas públicas robustas para a preservação e difusão da arte potiguar”, frisou.
A mostra, segundo ele, reafirma que o cotidiano e a memória local são fontes inesgotáveis de criatividade.