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Publicado em 04/06/2025, às 08h13 A defesa alegou cerceamento de defesa, enquanto o MP defendeu a dignidade da vítima, resultando na suspensão do júri. - Divulgação Dani Oliveira
O julgamento de Pedro Inácio, acusado de feminicídio contra a universitária Zaira Cruz, foi cancelado nesta terça-feira (3), após a defesa do réu abandonar o plenário do Fórum Miguel Seabra Fagundes, em Natal. Diante do impasse, o Ministério Público solicitou o levantamento de todos os custos envolvidos na sessão, com a intenção de cobrar da defesa os prejuízos causados ao erário público.
Além do impacto financeiro, o cancelamento gera entraves logísticos. A 2ª Vara Criminal de Natal tem júris marcados até dezembro de 2025. Por isso, a nova data do julgamento pode exigir o remanejamento de outros processos.
Defesa alegou cerceamento e MP falou em respeito à vítima
A defesa de Pedro Inácio deixou o plenário alegando cerceamento de defesa. Os advogados tiveram perguntas indeferidas pelo juiz presidente do júri e consideraram a decisão prejudicial à sua tese.
O Ministério Público, por outro lado, argumentou que as perguntas poderiam ferir a dignidade da vítima, o que foi acatado pelo magistrado. Com a saída da defesa, o Conselho de Sentença foi dissolvido e a sessão suspensa. O caso permanece sob segredo de Justiça.
A mãe de Zaira, Ozanete Dantas, demonstrou revolta.
Eu fiquei revoltada demais, porque é uma coisa séria. Todo um trabalho foi feito, teve logística, investimento, e eles não tiveram respeito com a gente. Eu espero a justiça de novo. Para poder dizer à minha filha que agora sim ela vai dormir em paz.”
Relembre o caso
Zaira dos Santos Cruz, de 22 anos, foi morta no dia 2 de março de 2019, no sábado de carnaval, no município de Caicó. Ela foi encontrada sem vida dentro do carro do policial militar Pedro Inácio Araújo, que estava trancado. Foi preciso que os bombeiros abrissem o veículo.
Segundo as investigações, o PM, a vítima e mais um grupo de amigos haviam alugado uma casa para passar o carnaval em Caicó. De acordo com a Polícia Civil, foi o próprio policial que chamou a polícia. Ele alegou que relações sexuais com Zaira e, em seguida, a deixou dormindo no carro.
No dia 15 de março, o policial militar foi preso suspeito dos crimes de estupro e homicídio. Ele foi detido no município de Currais Novos, onde morava e cidade natal também da vítima. Zaira morava em Mossoró, onde cursava Engenharia Química da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa).
Em 26 de março, a Polícia Civil encerrou o inquérito e concluiu que Zaira foi vítima de estupro e feminicídio.
No dia 2 de abril, o policial militar foi denunciado pelo MP pela prática de homicídio triplamente qualificado, com uso de asfixia, para assegurar a ocultação de outro delito, e feminicídio. Ele cumpre prisão preventiva desde 15 de março de 2019.
A Justiça decidiu em 2021 que o caso seria levado a Juri popular. Em 2024, o Tribunal de Justiça atendeu um pedido da defesa do réu e transferiu o julgamento para Natal.
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