Política

Gasto do governo Lula cresce quase o dobro da arrecadação e cria risco de "apagão" em 2027

Medidas para aumentar receitas, como taxação de apostas, enfrentam resistência no Congresso, complicando a situação fiscal. - Reprodução/Reuters
Com um déficit primário previsto e aumento da dívida pública, a situação fiscal do Brasil se torna crítica sob a gestão atual  |   BNews Natal - Divulgação Medidas para aumentar receitas, como taxação de apostas, enfrentam resistência no Congresso, complicando a situação fiscal. - Reprodução/Reuters

Publicado em 19/06/2025, às 16h25   Aryela Souza



Uma análise das contas federais sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) revela uma trajetória fiscal preocupante: as despesas estão crescendo em um ritmo quase duas vezes superior ao do aumento da arrecadação.

Segundo projeções oficiais, incluindo as da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, esse padrão deve se manter em 2026, levando a um possível colapso no funcionamento da máquina pública a partir de 2027 – um "shutdown" por falta de dinheiro para despesas básicas.

O Problema em Números

Apesar de um aumento substancial na receita líquida (acima da inflação) de R$ 191,3 bilhões durante a gestão, as despesas cresceram R$ 344 bilhões no mesmo período. Com os gastos superando a receita, o governo pode encerrar 2025 com um déficit primário de 0,77% do PIB. Essa dinâmica impacta diretamente a dívida pública, principal termômetro de solvência do país, que, segundo projeções da IFI, deve aumentar em cerca de 12 pontos percentuais durante os quatro anos do governo Lula.

É para conter essa trajetória explosiva que a equipe do ministro Fernando Haddad (Fazenda) busca elevar receitas, com medidas como a taxação de aplicações financeiras, apostas esportivas e uma tentativa de aumento do IOF, que enfrenta forte resistência no Congresso.

As Principais Causas do Aumento dos Gastos

O crescimento acelerado das despesas não é acidental, mas sim fruto de decisões estruturais e de manobras para ampliar os gastos:

  1. Gastos Vinculados: Ao assumir e acabar com o antigo teto de gastos, o governo restabeleceu a regra que atrela os gastos mínimos com saúde e educação ao crescimento da receita (15% e 18%, respectivamente). Assim, quando a arrecadação sobe, esses gastos obrigatórios sobem junto.
  2. Aumento Real do Salário Mínimo: A política de correção do salário mínimo acima da inflação tem um impacto enorme na Previdência, a maior despesa da União, já que 70% dos benefícios seguem o piso nacional. No atual governo, o valor dos benefícios previdenciários saltou de R$ 912,2 bilhões para R$ 1,053 trilhão.
  3. Outras Despesas Crescentes: Gastos com o Benefício de Prestação Continuada (BPC) também dispararam, com o número de beneficiários passando de 5,1 milhões para 6,3 milhões por decisões administrativas ou judiciais.
  4. "Contabilidade Criativa": O governo tem utilizado mecanismos para gastar fora da regra do arcabouço fiscal. Uma das estratégias é direcionar recursos do Fundo Social (abastecido com royalties do petróleo) para programas como Minha Casa Minha Vida e para o BNDES. Antes, grande parte desses recursos era usada para abater a dívida pública. Segundo especialistas, esses gastos com "cara de despesa financeira" são R$ 59 bilhões maiores que a média de anos anteriores.

A Armadilha Política e o Risco de "Shutdown"

Para analistas, Lula criou uma armadilha para si mesmo, chegando ao ano eleitoral de 2026 com pouco espaço para novos gastos e enfrentando um Congresso de centro-direita resistente a aumentar impostos. O temor é que, para manter a máquina funcionando e os investimentos, o presidente abandone as regras do arcabouço fiscal que ele mesmo instituiu, pressionando a inflação e os juros para cima.

Marcus Pestana, diretor-executivo da IFI, alerta que a trajetória atual levará o Brasil a um "shutdown" em 2027, estrangulando os gastos não obrigatórios.

Não haverá munição para as Forças Armadas, gasolina para o Ibama e Polícia Federal, nem internet e telefone para os órgãos. Este é o desenho da mediocridade do horizonte brasileiro", afirma Pestana, que considera as medidas de aumento de receita da Fazenda como "band-aids".

A própria equipe econômica do governo já admitiu essa possibilidade no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2026. Com isso, o Brasil pode ter perdido a chance de fazer um ajuste fiscal gradual, empurrando a necessidade de um "choque" – com possíveis mudanças em regras do salário mínimo e das vinculações de saúde e educação – para depois das eleições.

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