Política
por Giovana Gurgel
Publicado em 04/08/2025, às 14h15
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) deu início à fase de testes de um novo aplicativo de mensagens para uso interno do governo federal, em substituição a plataformas comerciais como WhatsApp e Telegram. O objetivo é garantir mais segurança, soberania digital e controle sobre o tráfego de informações sensíveis entre autoridades públicas.
A novidade foi revelada pelo diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, à Comissão de Controle de Atividade de Inteligência do Congresso Nacional no início de julho. Embora a reunião tenha sido secreta, a apresentação do projeto foi posteriormente divulgada.
De acordo com a agência, o aplicativo integra o Programa de Transformação Digital (PDX) e será destinado, inicialmente, aos órgãos do Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência), podendo ser ampliado para toda a administração pública federal.
A proposta reacende a preocupação com a segurança das comunicações no governo, especialmente após o uso do WhatsApp ser apontado como falha crítica durante os ataques de 8 de janeiro de 2023. Na ocasião, alertas da Abin sobre possíveis ataques foram enviados por mensagens instantâneas, o que gerou controvérsias e versões conflitantes entre autoridades.
App terá criptografia própria e recursos de segurança avançados
O novo sistema será criptografado e desenvolvido com tecnologias que permitem, por exemplo, a destruição remota de dados em caso de perda ou roubo de dispositivos, recurso já presente no antigo app Athena, desativado durante o governo Bolsonaro.
A ferramenta também permitirá envio de mensagens de texto, áudios, vídeos, fotos, chamadas e criação de grupos, similar aos aplicativos comerciais, mas com proteção reforçada.
Segundo a Abin, a tecnologia está sendo desenvolvida em parceria com a Universidade Federal do Ceará e o Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados).
Além do mensageiro, a agência informou ainda que trabalha em uma nova plataforma de compartilhamento seguro de documentos e dados de inteligência entre os órgãos do Sisbin, obedecendo regras legais de compartimentação.
A medida reforça a postura do governo federal de reduzir a dependência de ferramentas controladas por empresas estrangeiras, como a Meta (controladora do WhatsApp) e o Telegram, comandado pelo russo Pavel Durov.
8 de janeiro expôs fragilidade da comunicação entre órgãos
A criação de um sistema estatal de mensagens também responde às críticas sobre a condução da comunicação institucional durante os atos golpistas de janeiro de 2023. O uso de apps privados foi alvo de severas críticas por parte de autoridades como Ricardo Capelli, interventor da segurança do DF na época e hoje presidente da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial).
“Não é adequado que informes confidenciais de inteligência sejam repassados por aplicativos de empresas privadas de países estrangeiros. Isso é uma questão de soberania nacional”, afirmou Capelli. Já o diretor da Abin reconheceu, em entrevista à Agência Brasil, que houve falha de mensageria naquele episódio.
A Abin informou que o novo aplicativo está em processo de validação pelo Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, e que mais detalhes só serão divulgados após essa etapa.
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