Polícia
A prisão de um policial militar com R$ 5 milhões em espécie, dois dias antes das eleições municipais de 2024, desencadeou uma investigação da Procuradoria-Geral da República (PGR) que aponta indícios de corrupção em uma licitação de R$ 142 milhões ligada à COP30, que será realizada em Belém.
O caso envolve o deputado federal Antônio Doido (MDB-PA), sua esposa, empresas de fachada e o secretário de Obras do Pará.
A operação começou em 4 de outubro, quando a Polícia Federal foi até uma agência do Banco do Brasil em Castanhal, no interior do estado, após denúncia anônima. No local, o PM Francisco Galhardo foi flagrado ao entregar R$ 380 mil a Geremias Hungria, funcionário de uma fazenda do deputado. Os dois foram presos em flagrante por suspeita de crime eleitoral.
A apreensão do celular de Galhardo revelou não só conversas sobre compra de votos, mas também mensagens que levantaram suspeitas de corrupção em contratos públicos.
A investigação da PGR identificou que o PM agia como operador financeiro de Antônio Doido e sacou R$ 48,8 milhões em nome de duas construtoras entre 2023 e 2024.
Construtoras ligadas ao deputado venceram contratos da COP30
Os saques milionários foram feitos em contas da J.A Construcons, cuja sócia é Andréa Dantas, esposa do deputado, e da JAC Engenharia, registrada em nome de Geremias Hungria. Ambas as empresas venceram licitações do governo do Pará para obras associadas à COP30, totalizando quase R$ 300 milhões em contratos. A licitação de R$ 142 milhões é o principal foco da suspeita.
As mensagens encontradas no celular indicam a movimentação de grandes quantias no mesmo dia em que o consórcio das duas empreiteiras venceu a licitação. Em 20 de setembro de 2024, Galhardo sacou R$ 6 milhões e trocou mensagens com o secretário de Obras do estado, Ruy Cabral, que conduzia o processo licitatório.
Conversas como “Vem”, “Na minha porta atrás” e “Deixei com a Andreia” foram interpretadas pelos investigadores como código para a entrega de valores. A PGR aponta que as mensagens demonstram relação direta e íntima entre Galhardo e o secretário, com forte suspeita de corrupção passiva e ativa.
Após denúncias, governo revoga contrato milionário da COP30
O avanço da investigação levou a PGR a pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito contra o deputado Antônio Doido, sua esposa Andréa Dantas, o PM Francisco Galhardo e o secretário Ruy Cabral. O grupo é suspeito de integrar uma organização criminosa voltada ao desvio de recursos públicos e fraudes em licitações no Pará.
Em janeiro de 2025, o governo estadual cancelou o contrato com o consórcio vencedor da licitação, quatro meses após o escândalo vir à tona. A PGR aponta que a revogação ocorreu em decorrência da prisão em flagrante de Geremias Hungria e das denúncias que questionavam a lisura do processo.
O caso, que agora tramita no STF sob relatoria do ministro Flávio Dino, levanta a suspeita de que mais um grande evento internacional realizado no Brasil, como já ocorreu com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, possa ser marcado pela sombra da corrupção.
Governo do Pará nega irregularidades e diz prezar pela transparência
Procurado, o governo do Pará afirmou inicialmente que a licitação em questão não fazia parte das obras da COP30. Após ser confrontado com informações disponíveis em seu próprio site, reconheceu que o projeto chegou a ser incluído no portfólio, mas foi posteriormente retirado da lista oficial de intervenções.
Sobre o secretário de Obras, o governo negou qualquer envolvimento com o policial preso e garantiu que Ruy Cabral “mantém interlocução exclusivamente institucional”. Informou ainda que ele não foi notificado de qualquer investigação e que, caso isso ocorra, todas as informações e documentos serão disponibilizados às autoridades.
A documentação da licitação permanece disponível para consulta pública, segundo nota oficial, que também reforça o compromisso do estado com a transparência e o interesse público.
Informações: Metrópoles
Classificação Indicativa: Livre