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Saiba como o RN está posicionado no ranking de geração de energia eólica e quantos parques já estão em funcionamento

Investimentos em energia eólica no RN promovem desenvolvimento regional e geram empregos, mas também trazem desafios sociais e ambientais. - Divulgação
A energia eólica no RN não só atende ao consumo local, mas também exporta energia para outras regiões, contribuindo para a economia nacional  |   BNews Natal - Divulgação Investimentos em energia eólica no RN promovem desenvolvimento regional e geram empregos, mas também trazem desafios sociais e ambientais. - Divulgação

Publicado em 05/06/2025, às 09h02   Dani Oliveira



O Rio Grande do Norte é o segundo estado do País no ranking nacional de geração de energia eólica. Dados atualizados da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica) apontam que o Estado tem, atualmente, 308 parques instalados, com 3.446 aerogeradores. Ao todo, são mais de 10 mil MW de potência instalada.

A produção do RN representa cerca de um terço de tudo o que é produzido de energia eólica no Brasil. Para se ter uma ideia do protagonismo que o RN exerce nessa área, ao todo, no País, são 1.109 parques eólicos e 11 mil aerogeradores – o que representa uma capacidade instalada de 34 mil MW. A produção toda está distribuída em 12 estados, dos quais oito estão no Nordeste.

O RN fica atrás apenas da Bahia, que lidera o ranking nacional, com 360 parques e 3.529 aerogeradores, o que representa 11 mil MW. Outros dois estados do Nordeste aparecem na 3ª e 4ª posição, respectivamente. São eles o Piauí, com 126 parques e 1.392 aerogeradores, e o Ceará, com 99 parques e 1.146 aerogeradores.

Segundo a Abeeólica, a geração das eólicas atende a 100% do consumo do Nordeste e ainda “exporta” 29,41% para as demais regiões do País. É de longe a região com maior produção de energia do País.

A geração da energia limpa vem avançando ao longo dos últimos anos no Brasil. Em 2012, o País era o 15º colocado no ranking mundial de produção desse tipo de energia. Agora, é o 6º colocado. A energia que é produzida pelas eólicas seria, sozinha, capaz de abastecer o consumo dos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro – respectivamente o 2º e 3º mais populoso do País.

E esses números seguem aumentando. No início deste ano, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamento no valor total de R$ 690 milhões para a TGR Subholding 1 S.A., subsidiária da Casa dos Ventos, implantar dois parques eólicos, que integram o Complexo Eólico Serra do Tigre, nos municípios de Campo Redondo, Currais Novos, Lajes Pintadas e São Tomé, todos no Rio Grande do Norte. Os aerogeradores do Complexo Eólico Serra do Tigre serão fornecidos pela Vestas, com fabricação em Aquiraz (CE).

Produção evitou emissão de 40 milhões de toneladas de CO2
O investimento em energia eólica é considerado essencial por se tratar de uma fonte limpa, renovável e de baixo impacto ambiental. Diferente das usinas que utilizam combustíveis fósseis, os parques eólicos não emitem gases de efeito estufa nem poluentes atmosféricos, contribuindo diretamente para o combate às mudanças climáticas. Além disso, o vento é um recurso abundante e gratuito, especialmente em regiões como o Nordeste brasileiro, o que garante uma produção constante e confiável de energia ao longo do ano.

Em relação às emissões evitadas pela energia eólica, a Abeeólica estima que, em 2024, a geração eólica evitou a emissão de 40 milhões de toneladas de CO2₂ (gás carbônico)₂, o equivalente à emissão anual de cerca de 27 milhões de automóveis de passeio.

Do ponto de vista econômico, a energia eólica promove desenvolvimento regional, geração de empregos qualificados e atração de investimentos. De 2015 a 2024, foram mais de US$ 42 bilhões investidos no setor, no Brasil.

A construção e operação dos parques movimenta a economia local, especialmente em municípios interioranos, como ocorre no Rio Grande do Norte. Além disso, ao ampliar a diversificação da matriz energética, o país reduz sua dependência de fontes hidrelétricas e termelétricas, aumentando a segurança energética e a resiliência do sistema elétrico diante de crises hídricas ou oscilações nos preços de combustíveis.

Considerando a matriz energética brasileira, há muito o que avançar ainda, no entanto. A energia eólica representa 16% da energia produzida no Brasil. A energia hidrelétrica representa 49%, por exemplo.

Eólicas mudaram a economia do RN, diz presidente de associação
Presidente da Abeeólica, Elbia Gannoum destaca que as empresas geradoras de energia eólica mudaram a economia do Rio Grande do Norte e de outros estados do Nordeste. Um estudo da consultoria GO Associados, publicado em 2020, mostra que, após a instalação de parques eólicos, municípios brasileiros tiveram um avanço de 20,19% no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e de 21,15% no Produto Interno Bruto (PIB).

“A presença das eólicas mudou a economia. A renda da eólica é hoje uma das maiores do Estado”, afirma Elbia .

De acordo com a presidente da associação, vários fatores explicam o fato de o Rio Grande do Norte estar na parte de cima do ranking nacional de produção de energia eólica. “O Rio Grande do Norte se destaca desde o início pela qualidade do vento, pela natureza do vento. Outro fator muito importante para que o setor cresça são as políticas governamentais. O Governo do Estado precisa estar atento à economia da energia eólica e criar as condições para que os investimentos aconteçam”, destaca.

A presidente da Abeeólica acrescenta que as eólicas têm no RN um ambiente regulatório propício aos investimentos. “Os estados são responsáveis pela legislação ambiental. É muito importante que os estados tenham uma lei ambiental própria, que seja segura e que indique caminhos para o investimento. De um lado, tem a natureza do vento, e do outro, o papel importante dos governos estaduais”, afirma Elbia.

A questão ambiental está muito bem estruturada no Rio Grande do Norte. O governo está trabalhando na atualização da legislação e está discutindo com os investidores. Para nós, é tranquilo. Não vejo nenhum gargalo”, destaca a presidente da Associação.

Guia orienta instalação de novos parques para mitigar impactos sociais
Se por um lado o impacto ambiental da energia eólica é reduzido, nos últimos anos tem crescido a preocupação com os impactos sociais dos aerogeradores, também conhecidas como turbinas eólicas. Nesta semana, repercutiu a notícia de que produtores rurais de Serra do Mel, na região da Costa Branca potiguar, entraram com uma ação contra a multinacional Voltalia por conta dos empreendimentos eólicos instalados no município.

Os agricultores pedem indenização e a paralisação de novos projetos na região alegando prejuízos na produção de caju, castanha e mel, as principais atividades econômicas da cidade, em função dos impactos dos aerogeradores. A produção rural estaria sendo afetada, entre outros aspectos, pela poeira das turbinas.

Entre outros pontos, os produtores destacam também que tem havido um aumento da “Síndrome da Turbina Eólica”, relacionada a casos de transtornos de ansiedade e distúrbio do sono, e a perda de direitos como aposentadoria e direito ao crédito rural por causa dos contratos assinados com a empresa para a cessão do terreno.

A presidente da Abeeólica afirma que problemas dessa natureza começaram a ser percebidos a partir de 2020, cerca de 10 anos depois do início dos investimentos em eólica n País. “Começamos a perceber reclamações de algumas comunidades, principalmente em parques mais antigos. Reclamam de barulho dos aerogeradores, que a distância não era adequada, de contratos e da convivência com as empresas”, destaca.

“A gente está fazendo um trabalho importante. Criamos um guia de boas práticas, que mostra o caminho de como fazer um parque eólico. Isso envolve a relação com as comunidades. Os problemas existentes estão sendo negociados”, acrescenta.

Freio na produção gera prejuízo bilionário para eólicas

As eólicas e outras empresas de produção de energia renovável amargam um prejuízo bilionário desde 2023 por causa da decisão do Governo Federal de determinar um corte na produção de energia dessas fontes. O Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne) estima que o prejuízo foi de R$ 1,6 bilhão só em 2024. Este ano, já passa dos R$ 2 bilhões.

O corte de geração de energia, chamado de curtailment, acontece quando o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determina que uma usina reduza ou pare de gerar energia por um tempo. Esse tipo de medida já se tornou frequente e bateu recorde em fevereiro de 2025.

Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica, afirma que as razões para o corte são operacionais e técnicas, e não políticas. “É uma questão técnica e operacional. O governo não tem muito o que fazer para mudar essa realidade. Hoje, a potência instalada no Brasil é muito grande em relação à demanda. Tem momentos do dia em que a produção solar, principalmente dos telhados das casas, é muito alta. O ONS tem que mandar desligar, porque tem sobra de energia”, afirma a presidente.

Ela acrescenta que, além da sobra de energia, “às vezes, falha em determinadas regiões e o operador precisa mandar desligar”. “É uma medida técnica que vai ser resolvida quando o Brasil crescer mais e a demanda por energia aumentar”, aponta Elbia Gannoum.

Além do freio na produção de energia limpa, outro problema resultante do curtailment é o risco de demissões na indústria. Isso ocorre porque, à medida em que as eólicas reduzem sua produção, demandam menos peças e equipamentos à indústria – que diminuem também as suas atividades.

A presidente da Abeeólica defende que as eólicas sejam indenizadas pela paralisação da produção. “Quando as eólicas precisam gerar, elas precisam ser remuneradas, mesmo paradas, porque não têm culpa de não gerar. Muito em breve deve vir uma solução em que o governo vai pagar”, enfatizou.

Além desse fator, outra questão que tem preocupado as empresas é a baixa da demanda por energia, provocada, entre outros fatores, pela redução no ritmo de crescimento da economia. Por isso, novos investimentos estão estagnados.

“O gargalo é a demanda. Se a gente conseguir retomar a demanda, a gente vai retomar os investimentos. A crise é conjuntural, não específica do RN. Estamos buscando criar novos mercados, mais demanda de energia — como data centers e produção de hidrogênio. Essas duas economias serão suficientes para alavancar a eólica para outro patamar. A partir de 2027, a gente deve voltar a crescer, com os contratos que estamos fazendo hoje”, declara.

Classificação Indicativa: Livre

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