Negócios
por Giovana Gurgel
Publicado em 01/08/2025, às 13h03
O preço da carne bovina disparou nos Estados Unidos, impulsionado por uma série de fatores que vão desde uma redução histórica no rebanho até o temor da chegada da mosca-da-bicheira, praga já presente no México e que ameaça a pecuária norte-americana.
O rebanho do país atingiu o menor número em mais de 70 anos, o que, somado ao encarecimento da ração e às dificuldades climáticas, pressiona fortemente a inflação.
A possível disseminação da mosca-da-bicheira levanta alertas sanitários. Segundo a nutricionista Anete Mecenas, professora da Estácio, o consumo de carne contaminada por ovos ou larvas pode causar miíase intestinal em humanos. Entre os sintomas, estão dores abdominais, náuseas, vômitos e, em casos mais graves, presença de sangue nas fezes.
“Essas moscas depositam seus ovos em feridas abertas e podem infectar tanto animais quanto pessoas. Além das infecções intestinais, há risco de lesões cutâneas e complicações como destruição de tecidos”, explica Anete. Por isso, a especialista recomenda evitar o consumo de carne de regiões onde houver surtos confirmados da praga.
Pecuária americana enfrenta desequilíbrio produtivo
O economista Hugo Mezza, também professor da Estácio, afirma que a situação atual representa um cenário de forte pressão sobre os preços internos dos EUA.
Ele acredita que o governo norte-americano poderá ser forçado a revisar suas barreiras comerciais para conter a escalada inflacionária. “Com a redução da oferta e aumento de riscos sanitários, há espaço para flexibilização das tarifas contra países como o Brasil”, avalia.
Desde 2020, os consumidores norte-americanos vêm sentindo no bolso os impactos da crise. Além dos problemas climáticos, as tarifas impostas durante o governo Trump, especialmente contra o Brasil, contribuíram para o aumento da inflação e dificultaram o controle da taxa de juros, que segue elevada. Para Mezza, manter essa postura protecionista contraria os esforços para conter a inflação.
Outro ponto crítico destacado pelo economista é a quebra no ciclo produtivo da pecuária. Muitos pecuaristas, diante da valorização do boi gordo, optaram por abater fêmeas, o que compromete a reprodução e a reposição do rebanho.
“Essa escolha imediatista afeta todo o ecossistema produtivo e pode agravar ainda mais a escassez de carne no médio prazo”, alerta.
Brasil pode se beneficiar com possível abertura do mercado
Mesmo atualmente penalizado por barreiras tarifárias, o Brasil pode ser um dos grandes beneficiados com o agravamento da crise americana, desde que os EUA adotem uma postura mais flexível. Para Mezza, o país tem capacidade de suprir parte da demanda norte-americana e, com isso, conquistar novos espaços no mercado internacional.
A expectativa é de que os Estados Unidos se vejam obrigados a importar mais carne para garantir o abastecimento interno e conter os preços. Uma reaproximação com fornecedores internacionais, como o Brasil, pode ser estratégica nesse momento de instabilidade.
Enquanto isso, o mercado brasileiro acompanha com atenção os desdobramentos da crise. Caso haja uma flexibilização das barreiras comerciais, o país pode abrir uma nova frente de exportação, aproveitando o cenário de escassez e o aumento da demanda global por proteína animal.
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