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Publicado em 08/07/2025, às 13h26 BNews Natal
Garantir alimento volumoso e nutritivo por vários meses tem sido prioridade para quem cria gado em regiões onde a seca avança entre abril e setembro. Nessa época do ano, as chuvas rareiam e o pasto praticamente some, comprometendo não só a produção de leite e carne, mas também a reprodução dos animais. Para contornar esse gargalo que se repete anualmente, a fenação vem conquistando espaço como estratégia central da pecuária nacional.
Segundo a Embrapa, a redução drástica da forragem natural pode levar a quedas de até 30% na produção de leite e perda importante no ganho de peso dos bovinos de corte. Além disso, crescem os riscos de doenças ligadas à deficiência nutricional. Diante desse cenário, muitos produtores têm apostado na conservação do capim em forma de feno, que alia eficiência e praticidade na alimentação do rebanho.
"O feno garante produtividade quando a pastagem falha e ainda possibilita aproveitar oportunidades de mercado, como adquirir animais a preços mais baixos durante a estiagem", explica Thiago Neves Teixeira, engenheiro agrônomo e técnico da Soesp (Sementes Oeste Paulista).
Processo e vantagens
Produzido a partir do corte do capim no estágio certo de maturação, o feno passa pela desidratação ao sol até atingir níveis de 85% a 90% de matéria seca. Depois, é compactado em fardos, o que inibe a proliferação de microrganismos e preserva o valor nutritivo. A escolha correta do capim, aliada ao manejo cuidadoso, é decisiva para a qualidade do produto. "Se houver excesso de umidade, a conservação fica comprometida", alerta Teixeira.
Entre as espécies mais recomendadas estão o Tifton 85, o Coast-cross e cultivares de Panicum maximum, como Tamani e Aruana. Quando bem armazenado e protegido da umidade, o feno mantém suas propriedades por mais de seis meses, funcionando como reserva estratégica em momentos críticos.
Além de reforçar a segurança alimentar do rebanho, o feno permite que o pecuarista programe o fornecimento de volumoso durante todo o ano, equilibrando melhor a dieta entre forragem e concentrado.
Adoção crescente e desafios
Dados da Scot Consultoria apontam que o uso de forragens conservadas tem aumentado cerca de 6% ao ano no Brasil, com o feno se destacando pela estabilidade nutricional e facilidade de transporte. O custo médio da tonelada varia de R$ 700,00 a R$ 950,00, sendo competitivo frente a outras opções como a silagem de milho e o pré-secado, sobretudo em fazendas com estrutura própria.
O uso do feno também se adapta bem a sistemas de confinamento e semiconfinamento, podendo virar até fonte extra de receita com a venda de excedentes. Ainda assim, existem entraves que dificultam a ampliação da técnica, como a necessidade de máquinas específicas — segadoras, ancinhos, enfardadeiras — e de mão de obra treinada.
Outro desafio importante é a falta de assistência técnica e conhecimento sobre o manejo, realidade mais comum entre pequenos e médios produtores. "Muitos ainda desconhecem o potencial do feno e acabam recorrendo a alternativas menos eficazes ou mais caras", comenta Teixeira.
Perspectivas para a pecuária moderna
Com a pressão crescente por produtividade e os efeitos das mudanças climáticas, a conservação de forragens tende a se consolidar como prática indispensável. Para especialistas, investir em planejamento e estruturação da produção de feno é uma forma de proteger a rentabilidade e garantir segurança alimentar do rebanho durante todo o ciclo produtivo.
"O feno deixou de ser um recurso emergencial e passou a integrar a gestão estratégica da propriedade. Quem investe nesse planejamento tem mais controle e mais lucro, mesmo nas fases críticas do ano", conclui o agrônomo.
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