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Relatório aponta caos no João Machado e recomenda bloqueio de leitos por falta de insumos

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Relatório aponta desabastecimento crítico de insumos essenciais no Hospital João Machado, comprometendo a segurança de pacientes e profissionais de saúde  |   BNews Natal - Divulgação Reprodução/Internet
Giovana Gurgel

por Giovana Gurgel

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Publicado em 20/08/2025, às 14h10



Um relatório da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital João Machado, em Natal, revelou um cenário crítico de desabastecimento de insumos e medicamentos essenciais.

A falta de antibióticos como piperacilina + tazobactan e meropeném, além de luvas, aventais, álcool e antissépticos, comprometeu a segurança de pacientes e profissionais. Diante da gravidade, a comissão recomendou o bloqueio técnico de leitos. O documento foi enviado à Secretaria de Estado da Saúde no dia 14 de agosto.

O texto alerta que, sempre que não houver condições mínimas de segurança, a suspensão temporária de leitos deve ser registrada, comunicada à direção técnica e, se necessário, notificada à vigilância sanitária. O relatório não especifica números, mas informa que a escassez tem impactado diretamente nos índices de infecção hospitalar.

Em 2025, os indicadores superaram várias vezes as metas previstas. As infecções de corrente sanguínea chegaram a 8,58 em fevereiro e 8,20 em abril, quase três vezes acima do limite. Pneumonia associada à ventilação mecânica atingiu índices de 23,12 e 21,98, também muito acima da meta.

Já as infecções urinárias, zeradas em 2024, chegaram a 3,31 em abril, até cinco vezes acima do parâmetro. A adesão à higiene das mãos despencou, ficando em apenas 15,9% em janeiro e 19,5% em julho, quando a meta era 85%.

Rede estadual em colapso

O relatório ainda destaca a baixa adesão às práticas básicas de segurança e o déficit de leitos de isolamento, sobretudo na clínica médica e na psiquiatria.

Em resposta, a Subcoordenação de Assistência Farmacêutica da Sesap reconheceu a escassez e afirmou que medidas emergenciais foram tomadas, prometendo normalizar o abastecimento “nos próximos dias”. A taxa de fornecimento, no entanto, estaria em apenas 73,5%.

A crise, porém, não se restringe ao João Machado. Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed), Geraldo Ferreira, há um desabastecimento generalizado em hospitais da rede estadual, com falta de medicamentos, materiais de intubação, lençóis, máscaras e seringas.

“Essa situação compromete o tratamento, aumenta os riscos de infecção, prolonga o tempo de internação e eleva a mortalidade dos pacientes”, alertou.

O problema também recai sobre os profissionais. Ferreira destacou que médicos ficam expostos a responsabilidades que não lhes cabem, já que a ausência de antibióticos pode levar a processos judiciais por complicações que decorrem, na verdade, da falta de estrutura.

Hospitais fecham leitos e cancelam cirurgias

No Hospital Maria Alice Fernandes, em Natal, a Justiça chegou a determinar a reabertura de leitos de UTI após denúncias de fechamento por escassez de insumos e profissionais. Segundo o Sinmed, cinco leitos de UTI neonatal e dois pediátricos foram desativados recentemente.

No Hospital Deoclécio Marques, em Parnamirim, a situação também é grave. Nesta terça-feira (19), cirurgias ortopédicas foram canceladas por falta de fios cirúrgicos e outros materiais básicos. Pacientes seguem internados sem previsão de procedimento, o que agrava o quadro clínico e sobrecarrega as equipes médicas.

Já o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, maior pronto-socorro do estado, será alvo de inspeção nesta quinta-feira (21). A ação reunirá Sinmed, Conselho Regional de Medicina e Ministério Público.

Denúncias apontam inclusive que a obra do centro de queimados está parada há mais de um ano, colocando em risco a manutenção de recursos federais que somam R$ 2 milhões anuais.

Para o Sinmed, a crise ultrapassou os limites do aceitável e exige respostas imediatas. “É preciso que os gestores hospitalares cobrem mais firmeza da administração estadual, porque não se pode continuar esmagando a saúde pública dessa forma”, concluiu Ferreira.

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