Geral
por Giovana Gurgel
Publicado em 31/07/2025, às 13h07
O brasileiro só separa o lixo quando entende que está protegendo o meio ambiente. É o que mostra uma pesquisa inédita conduzida pelo Instituto Recicleiros em parceria com o Neper/USP e apoio da SIG.
O levantamento, divulgado no 33º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES 2025), analisou como fatores como renda, escolaridade e idade interferem no engajamento da população com a coleta seletiva.
Com mais de 4.400 pessoas entrevistadas em 11 cidades brasileiras, a pesquisa apontou que mais da metade dos participantes (50,8%) só reciclam porque acreditam estar ajudando a preservar a natureza.
Em contraste, apenas 11,5% afirmam reciclar para contribuir com a renda dos catadores, evidenciando uma baixa consciência sobre o impacto social da prática.
O estudo foi realizado entre novembro de 2022 e julho de 2024 em municípios como Cajazeiras (PB), Serra Talhada (PE), Três Rios (RJ), Caldas Novas (GO), Garça (SP), Piracaia (SP) e outros. A análise estatística utilizou ferramentas como o teste de Qui-Quadrado e a correção de Bonferroni para garantir a confiabilidade dos dados.
Escolaridade e renda influenciam comportamento sustentável
Quando observados por faixa etária, os dados revelam que os jovens entre 18 e 25 anos são os mais engajados na reciclagem por motivos ambientais.
Já entre os idosos com mais de 83 anos, a principal motivação passa a ser a limpeza urbana e a valorização do trabalho dos catadores. Isso indica que a preocupação ambiental tende a diminuir com o avanço da idade, dando lugar a interesses mais locais e imediatos.
O perfil econômico também pesa: quanto maior a renda, maior o apelo ambiental. Entre os que ganham de 12 a 20 salários-mínimos, 60% citam o meio ambiente como razão para reciclar, enquanto apenas 4,4% mencionam a limpeza urbana ou apoio a catadores.
Já entre os mais pobres, que ganham até um salário-mínimo, esses percentuais sobem para 22,6% e 14,7%, respectivamente.
Na escolaridade, o padrão se repete. Participantes com pós-graduação são os mais atentos às questões ambientais (59,2%), enquanto apenas 3,9% se mostram preocupados com a renda dos catadores.
No outro extremo, entre os sem instrução formal, o índice de preocupação com o meio ambiente cai para 33,7%, ao passo que 18,3% reconhecem o valor da reciclagem para a geração de renda.
Campanhas precisam ser personalizadas, alertam especialistas
Para Monica Alves, mestre em Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental e coordenadora da pesquisa pelo Vox Lab, laboratório do Instituto Recicleiros, os resultados mostram a necessidade de segmentar as campanhas de conscientização.
“A escuta ativa e a observação de comportamentos reais são fundamentais para criar estratégias eficazes. Nosso objetivo é entender as barreiras concretas que impedem a população de adotar hábitos sustentáveis no dia a dia”, explica.
A gerente de Sustentabilidade da SIG na América do Sul, Isabela de Marchi, reforça a importância de estratégias adaptadas. “A transformação dos sistemas de reciclagem passa pela compreensão do comportamento das pessoas.
Apoiar essa pesquisa nos ajuda a identificar barreiras e motivações para desenhar ações mais eficazes, alinhadas às diferentes realidades do país”, afirma.
Além de idade, escolaridade e renda, o local de moradia também interfere no engajamento. Não há um padrão regional claro, e cidades vizinhas podem apresentar comportamentos distintos.
Em Três Rios (RJ), por exemplo, muitas pessoas alegaram “não saber” ou deram outras justificativas vagas para a separação do lixo. Já em Guaxupé (MG) e Piracaia (SP), o apelo ambiental lidera com folga.
Atenção ao perfil do público é chave para a mudança
O levantamento conclui que campanhas educativas e políticas públicas precisam considerar as diferenças culturais, econômicas e sociais dos públicos-alvo. Só assim será possível aumentar a adesão à coleta seletiva e, de fato, construir um modelo de economia circular no Brasil.
A íntegra do artigo está disponível nos anais do Congresso ABES 2025.
Classificação Indicativa: Livre