O câncer infantojuvenil, que registra cerca de 8.460 novos casos por ano no Brasil segundo o INCA, ainda enfrenta desafios quando o tema é a combinação entre diagnóstico precoce e cuidados paliativos.
Luiz da Costa Nepomuceno Filho, coordenador do Diagnóstico Precoce da Casa Durval Paiva, explica que essas duas práticas não devem ser vistas como opostas, mas como complementares para garantir qualidade de vida e melhores chances de cura.
O papel do diagnóstico precoce
Segundo Nepomuceno Filho, identificar a doença em estágios iniciais é determinante para ampliar as possibilidades de tratamento menos invasivo e mais eficaz. Ele cita o exemplo da leucemia linfoblástica aguda, que pode alcançar até 90% de cura quando diagnosticada precocemente.
Apesar disso, os procedimentos necessários, como quimioterapia e radioterapia, geram efeitos colaterais severos, entre eles dor crônica, náuseas e fadiga.
“Mesmo quando temos altas chances de cura, o tratamento pode ser extremamente doloroso e desgastante para crianças e adolescentes. É nesse ponto que os cuidados paliativos precisam estar presentes desde o início”, destacou o especialista.
Cuidados paliativos não significam fim de vida
Um dos mitos mais comuns, de acordo com Nepomuceno Filho, é acreditar que os cuidados paliativos são exclusivos para pacientes em fase terminal.
Ele ressalta que a própria Organização Mundial da Saúde recomenda que o suporte paliativo comece logo no momento do diagnóstico, atuando no controle de sintomas, no apoio psicossocial e na tomada de decisões compartilhadas com a família.
“O cuidado paliativo não é sinônimo de desistência. Pelo contrário, ele ajuda a reduzir sequelas e a dar dignidade em todas as fases do tratamento”, afirmou.
Exemplos práticos e impacto social
O coordenador lembra experiências positivas de iniciativas locais, como o projeto “Aconchego”, desenvolvido no Rio Grande do Norte, que ofereceu apoio a famílias de crianças com tumores cerebrais.
“Muitos relataram melhora significativa na qualidade de vida com serviços de musicoterapia e acompanhamento espiritual. Isso mostra que cuidar também é acolher”, relatou Nepomuceno Filho.
Para ele, a integração entre diagnóstico precoce e cuidados paliativos deve ser tratada como prioridade em políticas públicas, com investimentos em capacitação profissional e campanhas de conscientização.
“Cada dia de vida importa, seja para comemorar a cura, seja para oferecer conforto quando a cura não é possível”, concluiu.