Política
Publicado em 31/05/2025, às 22h00 Redação
Thabatta Pimenta de Medeiros Silva, 33 anos, é natural de Carnaúba dos Dantas, política, ativista, radialista, filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e atualmente é vereadora por Natal, capital do Rio Grande do Norte. Agora ela sonha mais alto: quer ser a primeira governadora trans e já pediu, inclusive, para que seu nome fosse colocado nas próximas pesquisas eleitorais para "apimentar" a sondagem popular.
A revelação que movimentou o noticiário político da semana foi dada no programa 12 em Ponto da Rádio 98 FM Natal, aos jornalistas Anna Karinna Castro, Túlio Lemos e Ranieri Souza. O BNews Natal traz os detalhes dessa conversa e mostra um pouco mais sobre a história dessa mulher trans, assediada politicamente pelo próprio presidente Lula que a convidou para filiar-se ao PT e que já está fazendo história no Rio Grande do Norte.
Para quem ainda não conhece a Thabatta, ela iniciou sua carreira na comunicação em 2008, quando participou de um concurso de beleza e recebeu o convite para trabalhar em rádio. Na política, candidatou-se em 2016 pelo PSDB, foi a 7ª mais votada da cidade, mas não foi eleita, pois o partido não atingiu o quociente eleitoral.
Em 2020 foi novamente candidata e eleita pelo PROS, a primeira vereadora trans do estado do Rio Grande do Norte.
Nas eleições de 2022 lançou-se candidata a deputada federal pelo PSB, e afirma ser “uma voz travesti, uma voz LGBTQIA+. Uma voz jovem do Rio Grande do Norte, conquistou mais de 40 mil votos, mas ficou fora da Câmara.
Em 2024, foi eleita como a primeira vereadora trans de Natal e mulher mais votada na Câmara, espaço que ocupa com personalidade e garra para enfrentar qualquer tipo de preconceito.
“Transfobia é crime e a transfobia hoje é equiparada ao racismo e a outros crimes. Então, a gente precisa falar sobre isso com urgência, porque cada pessoa pode achar isso, aquilo, ter opiniões, mas a gente precisa seguir a lei. E eu, enquanto representante do povo, parlamentar, estou lá pra reafirmar que é uma casa de leis. E o que aconteceu comigo, o que aconteceu com essa mulher cis, diz muito sobre o quanto essa sociedade ainda está adoecida e o quanto a gente precisa entender as diferenças com urgência”.
Quando você chegou à Câmara, sentiu alguma diferença no tratamento?
Thabatta: Minha presença hoje está desconstruindo muito, inclusive, a imagem que as pessoas tinham da minha chegada naquela Câmara. Até porque a gente está tendo um diálogo muito incrível, com todos os vereadores. Porque eles estão entendendo que as minhas lutas, naquele lugar, são sobre todas as pessoas.
As pessoas achavam: "Ela vai chegar lá, vai falar sobre a pauta LGBT, sobre a pessoa com deficiência"... mas estão vendo que o que a gente está levando à Câmara Municipal é sobre todas as pessoas. Porque quando a gente luta por uma educação de qualidade, uma saúde pública de qualidade, a gente está alcançando a comunidade LGBT, as pessoas com deficiência, as pessoas pretas, as pessoas periféricas... Eu queria exatamente a oportunidade de mostrar isso e estou tendo esse momento nesses cinco meses de mandato.
A gente está tendo um reconhecimento. Já conseguimos quatro projetos aprovados — e um deles é um dos maiores que eu já imaginei: a Política Municipal de Combate ao Capacitismo. Que é o quê? Combater o preconceito contra as pessoas com deficiência. É o primeiro projeto também que trata das mães atípicas, porque há um capacitismo por associação — essas mães sofrem muito também.
Você sofreu uma agressão na semana passada, na Câmara. Conta como foi esse episódio
Thabatta: Naquele dia, a gente precisa entender que todo mundo lá tem a sua opinião. Eu estava dizendo que não votava naquele título ao ex-presidente (Bolsonaro) porque eu perdi a minha mãe pra COVID, e eu estava dando um voto contrário por essas famílias. E não era só sobre o meu voto — era a minha opinião, e isso precisa ser respeitado, entendeu? E logo depois ele (vereador propositor do título, Eliab) disse que “o choro era livre”. Isso ocorreu no primeiro embate, na primeira vez em que foi proposto o título.
E dessa outra vez, nesse bendito dia, semana passada, eu reafirmei o meu posicionamento. Porque eu disse e reafirmo que eu acho que o título de Cidadão Natalense é algo muito importante. Eu sei que cada um tem suas questões e tudo mais, mas eu acho que é algo com que a gente precisa ter muito cuidado. Pensar no que a pessoa fez por Natal, pensar em todas as possibilidades. E eu dei a minha opinião.
E aí você foi chamada de "mulher do Paraguai"...
Thabatta: Entre outras coisas. Não foi só isso, né? Além disso, mais uma vez eu tinha falado sobre o que aconteceu com a minha mãe, tudo aquilo — de ela ter sido uma das vítimas da COVID, de estar na linha de frente — e eu sei o que a gente estava passando naquele momento. E é uma dor minha.
Era uma forma de homenagear sua mãe?
Thabatta: E outras famílias também. Esse é o meu ponto de vista, entendeu? Eu respeito, e lá trato todo mundo com respeito. Porém, ali foi o maior absurdo. Quando eu fiz o meu discurso, começaram a fazer gestos. Essas mulheres que estavam na galeria começaram a fazer gestos pra mim, como se tivesse alguma coisa de roubo, não sei… Enfim, nesses gestos… a minha sorte foi que minha assessoria estava lá. Eu não tinha consciência da gravidade das falas que estavam fazendo.
Além disso, quando eu falava sobre a minha mãe, começaram a dizer absurdos, né? Dizendo “peninha”, “chora”… Continuaram naquela questão do choro, e não entendem o peso que isso tem.
E quando eu continuei falando, foi aí que começaram a dizer: “mulher do Paraguai”, “você nem mulher é”, “eu sou”, “só tem dois sexos”, “é homem e mulher”… Um homem também falou isso. Eu sei que tinham algumas pessoas e a gente só conseguiu ver tudo depois, com algumas imagens. Aí, quando a minha assessora me chamou, ela disse: “fizeram falas criminosas contra você”. E ela só tinha citado uma. Eu nem tinha tido acesso a tudo ainda. Corri para o plenário — que estava sendo presidido por Robson, eu acho, naquela hora — e já estava tendo uma discussão muito grande entre os outros. E eu tentei levar o que estava acontecendo. Eu disse: “olha, ali fizeram falas criminosas contra mim”.
E isso não é só sobre mim. É sobre os meus colegas e, principalmente, as minhas colegas mulheres. Porque nós, mulheres na política, sofremos diariamente. Temos que reafirmar o nosso lugar o tempo todo naquele espaço. É diferente com a gente.
Seja mulher trans ou mulher cis?
Thabatta: Nós somos poucas, mas cada uma de nós carrega uma representatividade. E a gente precisa ser respeitada. Porque se uma parlamentar está sendo desrespeitada e sofrendo crimes como esses... Imagina como é que a gente defende o povo lá dentro?
Você hoje ocupa um espaço de poder. Outras pessoas trans em outras profissões sofrem muito mais do que isso. Você também pauta essa discussão em favor dessas outras pessoas?
Thabatta: Exatamente, porque a gente precisa se colocar no lugar da outra pessoa. Eu disse hoje, lá, enquanto eu estava falando com vocês, que tem uma pessoa trans morrendo. Nós vivemos num país que mais mata pessoas trans e travestis. É um tema urgente, que a gente precisa tratar — não só dessas pessoas, mas de tantas outras em vulnerabilidade nessa sociedade. Então, é necessário começar a pensar em todas essas pessoas, em todos esses públicos. Nosso papel enquanto representantes ali é realmente pensar em políticas públicas para defender não só as pessoas trans, mas as pessoas com deficiência, as pessoas pretas, tantas outras pessoas que sofrem diariamente diversos preconceitos.
Eu fui não só a vereadora mais votada daqui, mas do Rio Grande do Norte. Então, o povo do Rio Grande do Norte, o povo de Natal, deu uma resposta contra os preconceituosos quando fez uma travesti a mulher mais votada da cidade. Então, é um caminho que a gente precisa abrir os olhos.
Travesti ou trans, tem diferença?
Thabatta: Não, é a mesma coisa. O termo travesti foi ressignificado porque era uma forma de nos atacar antigamente, mas a gente ressignificou isso. Então, travesti e mulher trans são a mesma coisa. E eu, como tantas outras pessoas interioranas, estou na capital porque aqui é um lugar para essas pessoas que vêm em busca dos seus sonhos, de seguir a sua vida, de ter o seu trabalho. E, como tantas outras pessoas, aqui eu estou — e tenho muito a fazer ainda.
Quem é sua inspiração?
Thabatta: Minha mãe. Sempre vai ser o meu maior espelho, porque ela enfrentou tudo e todos pelo amor que ela tinha. E enfrentou também um vírus.
Falando de política partidária, você será candidata novamente agora em 2026?
Thabatta: Sou pré-candidata em 2026, só que eu ainda não sei aqui. Não descarto, inclusive, uma candidatura ao Governo do Estado. Eu estou muito focada no que eu estou fazendo aqui em Natal, sim. Mas eu só não coloco meu nome à disposição para o Senado porque não tenho a idade. Mas sigo ouvindo as pessoas.
A Câmara Federal também é um caminho, porque a nossa comunidade trans, por exemplo, quer fazer uma bancada trans no Congresso.
Você acha que o PSOL lhe daria uma nominata competitiva pra você ter chance de ir para a Câmara Federal?
Thabatta: Olha, eu vou dizer o que eu disse para vocês no pessoal nacional hoje: o pessoal no estado não faz uma deputada federal, por exemplo. Mas existem figuras importantes. Se acontecer, por exemplo, a mudança de ganhar mais dois deputados, o coeficiente vai descer, mas nem tanto.
Porém, é o que eu digo: ainda tem essa conversa nacionalmente que tem essa possibilidade da federação. ... Lula me chamou... Lula me convidou para ser deputada federal pelo PT.
Quando?
Thabatta: Quando esteve aqui, as duas vezes, sim. Para a eleição já de 26. Ele me convidou pessoalmente para ir a Oiticica. Eu e Rian Fomas tiramos foto com ele e falamos sobre isso. E foi a segunda vez quando ele veio aqui.
Por que você não aceitou?
Thabatta: Eu estou bem no PSOL. A gente tem que conversar muito
Numa aliança com o PT, você aceitaria ser vice do Cadu?
Thabatta: Eu não conheço o Cadu, inclusive. Hoje, os únicos votos que eu tenho certeza que vou dar são pro presidente Lula, indo para a reeleição, e para a senadora Zenaide Maia.
A governadora Fátima Bezerra não teria seu voto?
Thabatta: Só vou decidir quando alguém vier conversar comigo, porque ninguém fala nada ainda, eu não sei. Mas a Fátima é uma pessoa, assim... Eu hoje estou num lugar que, para quem me conhece dentro da política, sabe que eu não passo pano pra ninguém. Eu já tive meus embates com o PT, com a esquerda, com a direita, porque eu sempre fico reafirmando que a minha luta é por todas as pessoas.
Votei na governadora, não sei se ela realmente... Eu acho que quem deveria ser candidata ao Senado era a Natália.
Por que não a Fátima?
Thabatta: Porque eu acho que ela traz também o que eu penso da política, que é oxigenar essa juventude nesses espaços. Mas tem muito chão ainda.
Faltou o contato da governadora com você? A fazer o convite para integrar o PT no Rio Grande do Norte?
Thabatta: Nunca teve um convite específico para ir para o PT. Mas a gente tem uma bancada de oposição na Câmara, a gente está juntos em várias pautas. Mas, em relação a partido, eu nunca tive esse convite. Mas eu não estou atrás de nenhum partido, estou bem no PSOL.
Em 2026, a candidatura da Thabatta para o Governo do Estado, é pra valer ou é só fofoca?
Thabatta: É pra valer! Meu nome está à disposição de todos os cenários. A gente está nas conversas sobre a chapa, inclusive eu estou em uma corrente que é a Corrente Nacional, que é a primeira socialista. Aqui é outra corrente, mas o PSOL hoje é o meu partido e eu sou partido. Porém, sobre 2026, o meu nome está à disposição, assim, eu vou ouvir as pessoas, né?
Inclusive, deixa eu dar um parabéns aqui, o Felinto vai ficar com ciúme, até porque eu ainda não fui ao programa dele — mas eu queria aproveitar esse espaço para parabenizar a DataVero. Porque o trabalho da DataVero foi muito importante para as pesquisas que têm no nosso estado e em Natal. Quando eu fui candidata aqui, a pesquisa que sempre acertava tudo era a DataVero, e sempre foi muito confiável.
Quando as pessoas diziam “você viu tal pesquisa?”, eu só dizia “vou esperar a DataVero”, porque sempre me colocava exatamente no lugar onde eu fui eleita.
Thabatta candidata à governadora. Vamos raciocinar aqui: um palco de debate contra Cadu Xavier, Rogério Marinho, Álvaro Dias e Alisson Bezerra...
Thabatta: Vocês são animados, né? Está faltando uma mulher nesse negócio, não tá? Então, gente, as pessoas precisam se sentir representadas nesses espaços. E as pessoas falam: “Ah, você tem que ir dando um passo.” É a mesma coisa que disseram quando eu vim pra cá, mas o passo eu dei, as pessoas vieram e colocaram a escadinha, e eu cheguei lá.
As pessoas precisam entender que esses espaços têm que ser da juventude, das mulheres, e eu estou aí, né? Quem sabe, não descarto nenhum governo, Estado, Assembleia...
Não pode jogar em todas as condições...
Thabatta: Não, mas eu tenho que ouvir a população.
Seu nome já vai, já pode ser colocado nas próximas pesquisas?
Thabatta: Arrocha. Arrocha, é arrocha que eu vou. Mas eu trato a política com seriedade, por isso que eu sempre ouço as pessoas. E toda vez que me perguntam sobre 2026, eu digo: eu estou ouvindo as pessoas, e os cenários estão aí, eu não decidi ainda.
Aí eu fico muito assim: o que é que eu faço, gente? Me ajuda, povo de Natal. O que é que eu vou fazer 2026?
Mas pra governadora, esse é tão barra, né? Eu acho que essa é uma eleição bem diferente. Coloque meu nome (nas pesquisas) pra ver se o povo quer.
Classificação Indicativa: Livre