Política
Publicado em 26/06/2025, às 13h46 Redação
Em meio à queda de popularidade e ao avanço de pautas impopulares no Congresso, o governo Lula tenta virar o jogo com medidas que miram diretamente os mais ricos e buscam reforçar seu compromisso com os trabalhadores. Entre as propostas estão o fim da jornada de trabalho 6x1, a taxação de super-ricos e o combate aos supersalários no funcionalismo público.
A estratégia visa reposicionar o governo no cenário político a pouco mais de um ano das eleições municipais de 2026. Segundo fontes do Planalto, a aposta agora é retomar um discurso de enfrentamento aos privilégios, tradicional da esquerda, para conquistar o eleitorado que hoje mostra dificuldade em associar a gestão atual a grandes realizações, como a redução da pobreza nos mandatos anteriores de Lula.
Entre as prioridades, está a reforma no Imposto de Renda. A proposta do Ministério da Fazenda, comandado por Fernando Haddad, pretende ampliar a faixa de isenção do IR para até R$ 5 mil mensais, beneficiando cerca de 10 milhões de contribuintes. Para compensar a perda de receita, o governo propõe tributar um grupo seleto de brasileiros que ganham acima de R$ 600 mil ao ano e hoje contribuem com alíquotas efetivas inferiores a 10%.
A medida, embora tenha gerado reações no Congresso, encontra forte respaldo popular. Pesquisa Datafolha realizada em abril mostra que 76% dos brasileiros apoiam a cobrança de mais impostos sobre quem ganha acima de R$ 50 mil por mês, superando os 70% que apoiam o fim da cobrança para quem ganha até R$ 5 mil.
O discurso de justiça tributária também está no centro da ofensiva política do líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ). Segundo ele, chegou o momento de escancarar a desigualdade na arrecadação brasileira: “Os ricos praticamente não pagam impostos enquanto a classe média e os pobres estão atolados. Essa é a hora de termos nitidez política”.
Outro eixo da estratégia governista é a defesa da revisão da jornada de trabalho 6x1. Em pronunciamento no Dia do Trabalho, Lula já havia sinalizado intenção de avançar nessa pauta, defendendo mais equilíbrio entre vida profissional e bem-estar. Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre o tema foi apresentada pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), mas ainda não há articulação clara do governo para destravar sua tramitação.
Além disso, integrantes do governo defendem que o Planalto adote protagonismo em outra frente sensível: o combate aos supersalários no setor público. Um projeto que limita vencimentos acima do teto constitucional está parado desde 2021 no Senado. Para assessores de Lula, adotar essa bandeira pode reforçar a imagem de enfrentamento aos privilégios num momento de desgaste político.
Na tentativa de evitar mais prejuízos, a base governista também vai reforçar que o Congresso tem responsabilidade sobre o aumento previsto nas tarifas de energia elétrica. Segundo o governo, a derrubada de vetos presidenciais que exigiam a contratação de usinas específicas deve gerar impacto de R$ 35 bilhões por ano, durante 15 anos, nas contas de luz dos brasileiros.
Assim, em um cenário de pressão crescente, o Planalto busca no enfrentamento das desigualdades econômicas uma nova identidade política capaz de resgatar apoio popular e manter viva a agenda do governo até 2026.
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