Negócios
Publicado em 21/04/2025, às 12h08 Carol Maciel
Concebido para se tornar a maior e mais moderna fábrica de vacinas e medicamentos da América Latina, o Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Cibs), em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, se resume hoje aos alicerces de 46 prédios, onde deveriam estar sendo produzidos 120 milhões de frascos de imunizantes por ano. Em lugar do centro de excelência, o terreno de 580 mil metros quadrados serve de pasto para cerca de 40 bois e vacas.
Equipamentos comprados por R$ 813 milhões estão encaixotados desde 2018. A conclusão da obra, prevista para 2028, ainda depende de R$ 5,4 bilhões e enfrenta investigações do TCU.
Sete relatórios do TCU detalham o andamento do projeto, que começou a ser desenvolvido em 2009. Sem data para retomar as obras, a atual direção da Fiocruz estima que serão necessários quase quatro anos para finalizar a fábrica e colocá-la em operação. Ou seja, na melhor das hipóteses, as vacinas só deverão começar a ser produzidas no fim de 2028, quase 20 anos depois do início dos trabalhos. Para isso, a fundação calcula que serão necessários mais R$ 5,4 bilhões.
Retomado o projeto, teremos dois anos e meio de obras e mais um ano de qualificação dos profissionais, de certificação dos equipamentos e de qualificação dos sistemas. É um processo bastante demorado, e essa indústria é altamente regulada pela Anvisa, que é bastante cuidadosa com isso — explica o presidente da Fiocruz, Mário Moreira.
Quando ainda era feita a terraplenagem do terreno, em 2014, a Bio-Manguinhos, unidade responsável pela produção de vacinas da Fiocruz, fez a compra de equipamentos para o complexo. Foram importadas de diferentes países 27 máquinas industriais de grande porte ao custo de R$ 813 milhões — valores atualizados pelo TCU. Sem uso, os equipamentos — feitos sob medida — estão encaixotados desde 2018 num galpão alugado na Baixada Fluminense, e a garantia dos fabricantes já expirou, segundo o TCU. A lista inclui oito liofilizadores (usados para prolongar a vida útil de vacinas), cada um com 63,3 toneladas.
Aluguel milionário
Entre os itens comprados estão ainda quatro linhas de envase para cumprir a etapa final de produção, com lavadoras, túneis de esterilização e mesas para acomodação de frascos. Sem uso, esse material ainda gera despesa para a Fiocruz. Nos últimos três anos, a fundação autorizou pagamentos que totalizam R$ 14,3 milhões para o aluguel do depósito no bairro Figueira, em Duque de Caxias. Esse dinheiro seria suficiente para produzir cerca de 400 mil doses de vacinas contra a Covid-19.
Em 2017, segundo o TCU, a Bio-Manguinhos justificou a compra antecipada dos equipamentos afirmando que esta era considerada uma pré-condição técnica para o desenvolvimento do projeto executivo da obra “porque haveria o risco de uma incompatibilidade física, comprometendo a instalação e a operação do complexo’’. O TCU discordou dos argumentos e multou três funcionários da Bio-Manguinhos em R$ 50 mil cada pela aquisição do maquinário — valores que já foram pagos.
Fonte: O GLOBO
Classificação Indicativa: Livre