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Publicado em 13/07/2025, às 11h17 Aryela Souza
O anúncio de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, feito pelo presidente dos EUA, Donald Trump, já causa um impacto devastador e imediato no mercado de mel do Brasil. Grandes exportadores do Nordeste relataram o cancelamento de centenas de toneladas do produto que seriam enviadas ao mercado americano.
A nova tarifa, que entra em vigor a partir de agosto, promete inviabilizar as negociações.
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Cancelamentos e Prejuízos
Uma das maiores processadoras e exportadoras de mel orgânico do mundo, o Grupo Sama, do Piauí, sofreu o cancelamento de uma carga de 585 toneladas. A tarifa aumentaria o custo deste envio em cerca de US$ 6 milhões.
Com a tarifa, o custo do nosso mel vai dobrar. O preço é impraticável e trava qualquer negociação", define Samuel Araujo, CEO do grupo.
Outro cancelamento foi confirmado neste sábado pela Casa Apis (Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro), que perdeu uma venda de 95 toneladas de mel orgânico do Sul do Piauí.
O produto cancelado, que já estava em diversas fases de produção e envio, agora fica acumulado, gerando altos custos de armazenamento em câmaras refrigeradas.
Crise em um Setor Já Fragilizado
A medida americana atinge um setor que já enfrenta dificuldades.
Vivemos os piores anos de produção de mel das últimas três décadas, devido às condições climáticas, e agora esse tarifaço", descreve Araujo. "É um impacto semelhante ao que vivemos na época da pandemia da Covid".
Ele afirma que o Grupo Sama, que compra a produção de mais de 12 mil pequenos produtores do Nordeste, não cancelou as compras já feitas, mas que a cadeia produtiva ficará paralisada a partir de agora.
Segundo o CEO, não há o que fazer com os envios de curto prazo, pois:
Os navios que chegariam aos EUA antes de 1° de agosto [quando a nova tarifa entra em vigor] estão todos cheios".
Busca por Alternativas
O golpe é duro porque os Estados Unidos consomem 80% de todo o mel produzido no Brasil. No caso do Piauí, líder em exportações para os EUA em 2024, essa dependência é ainda maior, chegando a 85%.
A busca por novos mercados, como a Europa, é vista com cautela. Samuel Araujo teme que outros países se aproveitem da situação para negociar preços mais baixos, sabendo do prejuízo que o setor terá nos EUA.
Além disso, como aponta Islano Marques, da Federação das Indústrias do Piauí (Fiepi), não há um mercado alternativo que consuma o mesmo volume que os EUA.
Nós teríamos que fazer um esforço muito grande de diversificação de mercado para pulverizar melhor essa oferta", diz ele.
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