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'Bonita demais para ser freira': brasileira acusa Igreja de machismo e recorre ao tribunal do Vaticano

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BNews Natal - Divulgação Foto: Reprodução.

Publicado em 12/05/2025, às 10h21   Redação



Nos 18 dias entre a morte do papa Francisco e a eleição do novo pontífice, Leão XIV, uma religiosa brasileira protagonizou uma história que mistura fé, intrigas e disputas internas no alto escalão da Igreja Católica. Aline Pereira Ghammachi, nascida no Amapá, foi removida do cargo de madre-abadessa do Mosteiro San Giacomo di Veglia, localizado próximo a Veneza, após ser alvo de uma denúncia anônima encaminhada ao Vaticano.

Até então, irmã Aline era considerada uma liderança jovem e inovadora na ordem religiosa. Formada em administração e fluente em várias línguas, atuou como tradutora e intérprete da Igreja antes de assumir o mosteiro, aos 33 anos, em 2018. Sob sua gestão, a comunidade religiosa ampliou projetos sociais, como atendimento a mulheres vítimas de violência e atividades terapêuticas para pessoas com autismo.

A denúncia, recebida em 2022, acusava a religiosa de manipular outras freiras e ocultar as finanças do mosteiro. Uma auditoria foi realizada no local em 2023 e, inicialmente, recomendou o arquivamento do caso. No entanto, o processo foi reaberto. Segundo Aline, a reabertura teria sido influenciada por frei Mauro Giuseppe Lepori, chefe da ordem à qual o mosteiro pertence. Ela afirma que o religioso fazia comentários inadequados sobre sua aparência, dizendo que era “bonita demais para ser freira”.

Em 2024, uma nova inspeção apostólica concluiu, após uma breve visita, que Aline era “desequilibrada” e temida pelas demais religiosas. Com base nessa avaliação, ela foi removida do cargo, e uma nova abadessa, de 81 anos, assumiu a liderança do mosteiro no mesmo dia da morte de Francisco.

Aline questiona a legalidade e a transparência do processo. “Nunca fui formalmente acusada ou julgada. Simplesmente me disseram que eu teria de sair e passar por um processo de amadurecimento psicológico”, relatou. Uma semana após sua saída, cinco freiras deixaram o mosteiro em protesto. Ao todo, 11 das 22 religiosas abandonaram a comunidade.

Uma das irmãs que deixaram o local, Maria Paola Dal Zotto, saiu em defesa de Aline em entrevista ao jornal Gazzettino, denunciando o que chamou de “clima medieval” e “calúnias infundadas”.

A Igreja não se pronunciou oficialmente sobre o caso, mas frei Lepori afirmou ao jornal que a ex-abadessa estaria tentando recuperar poder “por meio de mentiras e manipulação da mídia”.

Após a saída, Aline se hospedou na casa da irmã, em Milão, e protocolou recurso no Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, buscando reverter sua destituição. Ela diz ser vítima de machismo, xenofobia e etarismo. “Sou jovem, brasileira e mulher. Parece que isso já é um problema para muitos.”

Com o apoio de benfeitores, ela e as demais religiosas que a seguiram receberam abrigo em uma villa, onde pretendem retomar os trabalhos sociais. Para isso, terão que pedir dispensa formal de seus votos, mas afirmam que não abrirão mão da vida religiosa. “Vamos começar do zero, com oração e serviço, talvez em outra congregação.”

A eleição do novo papa Leão XIV renova as esperanças de Aline. “Ele é um canonista, conhece a lei. Não quero privilégios. Quero justiça”, afirmou.

A história, que ganhou repercussão internacional, está sendo adaptada por uma produtora alemã e pode virar filme. Para Aline, no entanto, a luta agora é por reconhecimento e liberdade religiosa. “A beleza ou a origem de uma mulher não podem ser um impedimento para servir à Igreja com dignidade.”

Classificação Indicativa: Livre

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