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Bilionário que mora no RN viveu em prisão, é amigo de Beira-Mar e Cesare Battisti, e tem vídeo queimando fortuna

Biolionário Walter Werner Rydl - Arquivo pessoal
A história é mesmo incrível. Estamos falando de um bilionário excêntrico, e que já figurou no noticiário policial nacional por anos  |   BNews Natal - Divulgação Biolionário Walter Werner Rydl - Arquivo pessoal

Publicado em 10/06/2025, às 17h50   Redação



Walter Werner Rydl tem 67 anos. Austríaco e naturalizado brasileiro, mora em uma vila de pescadores na praia de Ponta do Mel, no município de Areia Branca, litoral potiguar. Nesta semana, chamou a atenção da mídia pelo fato de ter declarado à Receita Federal uma fortuna de R$ 100 bilhões em barras de ouro. Mas, o que o BNews Natal descobriu também impressiona: a figura já passou 4 anos reclusa no Complexo Prisional da Papuda, em Brasília, dividiu cela com Fernandinho Beira-Mar e Cesare Battisti, e ainda foi notícia ao gravar um vídeo em que aparece queimando R$ 21 milhões de euros em espécie.

A história é mesmo sensacional, fantástica, incrível... quase inacreditável. Estamos falando de um bilionário excêntrico, e que já figurou no noticiário policial nacional por anos. As páginas mais recentes desta mirabolante aventura foram contadas pelo jornalista Allan de Abreu, na mais recente edição da revista Piauí.   

“Ponta do Mel é um vilarejo espremido entre o mar de tons esverdeados e a Caatinga, no Rio Grande do Norte. Como fica distante das praias mais badaladas do litoral potiguar, é a pesca e não o turismo que garante a sobrevivência da maior parte dos 1,1 mil habitantes. Com seus casebres, o lugar seria mais um entre tantos povoados de pescadores do litoral brasileiro, não fosse por um detalhe exótico: é lá que mora, há dez anos, o austríaco naturalizado brasileiro Werner Rydl, o homem que declarou à Receita Federal um patrimônio assombroso de 100 bilhões de reais. Caso fosse incluído na lista de bilionários divulgada anualmente pela revista Forbes, Rydl seria a terceira pessoa mais rica do Brasil, superada apenas por Eduardo Luiz Saverin, ex-sócio de Mark Zuckerberg na Meta, e de Vicky Sarfati Safra, herdeira da famosa família de banqueiros”, conta a reportagem.

Ouro em depósito de Werner Rydl
Ouro em depósito de Werner Rydl

E segue o relato do jornalista: “Sentado em uma cadeira na recepção de uma pousada em Ponta do Mel, o austríaco me diz que a maior parte de sua fortuna é constituída por um estoque estratosférico de 306 toneladas de ouro – mais do que o dobro das reservas do Banco Central brasileiro. Quando pergunto a Rydl onde guarda tanto ouro, ele aponta com firmeza o dedo na direção do mar, a nordeste de Ponta do Mel, e declara: Seagarland”.

Seagarland: um país independente, flutuante, sem gente e com moeda própria

A história de Seagarland – nome criado da junção de três palavras inglesas: sea (mar), cigar (charuto) e land (terra) – aparece para a mídia brasileira em março de 2016, com o jornalista Lucas Rodrigues, do portal MidiaNews, o primeiro site de notícias de Mato Grosso. Ele conta que Werner Rydl havia criado a Fundação Seagar, que situada na Seagarland, dois anos antes, em 2014. “Trata-se de um território flutuante no Oceano Atlântico, localizado em águas internacionais, fora da extensão marítima brasileira e registrada em nome do bilionário. Uma espécie de país não-oficial. Para lá, Rydl transportou cerca de 765 kg de ouro, avaliados em 32 milhões de dólares”, diz a matéria, à época.

Seagarland
Seagarland

E tem mais: “O ouro transportado tem como finalidade a criação da moeda própria de Seagarland, chamada de ‘Eternity’. “É um papelzinho, e dentro do papel você tem 1 grama de ouro. Nessa minha atividade social, eu publico o Eternity. A pessoa compra pela mesma cotação da grama do ouro e pode vender pelo mesmo preço. É um dinheiro mundialmente público. A finalidade é uma atividade social para restabelecer nosso sistema financeiro mundial. Cada indivíduo pode comprar. Hoje temos no mundo cerca de 170 mil toneladas de ouro. Se você dividir por pessoa, cada pessoa fica com 30 gramas. O ouro do mundo pode ser distribuído e isso estabiliza a pessoa. Quando a pessoa tem 30 gramas de ouro, ela não é pobre e nem rica. Tem o necessário”, explicou o austríaco ao jornalista.

Escândalos fiscais

Werner Rydl foi protagonista de um dos maiores escândalos fiscais da história da Áustria. Em 2016, esteve na capital mato-grossense para prestar esclarecimentos à Justiça sobre o episódio ocorrido um ano antes, quando foi preso (e liberado dias depois) por portar uma barra de ouro sem nota fiscal. Ele relatou que sempre carregava a barra, e que ela era seu anjo da guarda. “Viajo o país e o mundo todo com esta barra de ouro e nunca havia dado problema. Sempre que a barra era descoberta, eu explicava a situação aos delegados. A barra está marcada com o meu CPF”, contou Rydl.

Werner Rydl foi protagonista de um dos maiores escândalos fiscais da história da Áustria
Werner Rydl foi protagonista de um dos maiores escândalos fiscais da história da Áustria

Os dois dias em que ficou preso no antigo Presídio do Carumbé, em Cuiabá, não incomodaram o bilionário. “Café da manhã: gratuito. Almoço: gratuito. Jantar: gratuito. Não existe coisa melhor para um milionário”, brincou o empresário sobre a “estadia” no presídio.

Extradição

O pouco-caso de Rydl com o curto período detido em Cuiabá não foi sem motivo. Ele havia passado 4 anos (2005 a 2009) recolhido no Complexo Prisional da Papuda, no Distrito Federal, onde aguardou um longo e polêmico processo de extradição que tramitou no Supremo Tribunal Federal (STF). A extradição foi pedida pelo Governo da Áustria, que exigia a devolução de Werner Rydl para ser julgado pelos alegados crimes financeiros que teria cometido naquele país, no caso, o não pagamento de cerca de 116 milhões de euros em impostos, no final dos anos 80.

O bilionário, no entanto, diz que não pagou os impostos, na época, como um “embargo” ao governo austríaco, que, segundo ele, obrigava os empresários a compactuar com corrupção. “Eu era empresário de construção na Áustria. Eu me recusei a participar desse sistema de pagar propina para receber contratos de obras públicas. A mesma coisa que acontece no Brasil. Então eu promovi um embargo contra o governo austríaco. Eu declarei meu imposto, mas deixei claro que não iria pagar para aquele sistema corrupto. Sonegar é crime, mas eu não soneguei. Eu declarei oficialmente e não paguei, e isso não é crime na Áustria e nem aqui. Não se pode ser preso por dívidas. E o governo passou a me ameaçar por alguns anos. Então vim para o Brasil”, contou.

Protesto e 21 milhões de euros incendiados

Em protesto contra a corrupção do governo austríaco, Rydl chegou a queimar 21 milhões de euros em uma praia do Recife, em 2002 (veja o vídeo AQUI). Durante sua prisão na Papuda, Rydl contou que dividiu cela com o italiano Cezare Battisti, que havia fugido para o Brasil em 2004 após ser condenado na Itália à prisão perpétua. Cesare Battisti é condenado por quatro homicídios ocorridos na década de 1970, sendo um dos últimos protagonistas da violência política da época na Itália. 

Amizade com Beira-Mar: "pessoa maravilhosa de conviver"  

“Tudo o que publicavam sobre ele [Battisti] eu já sabia antes porque ele me contava na cela. Cezare Battisti foi o primeiro e único comunista de verdade que conheci”, detalhou Rydl. Outra celebridade do crime que Werner Rydl conviveu na penitenciária de segurança máxima foi Fernandinho Beira-Mar, líder do Comando Vermelho e considerado um dos maiores traficantes de drogas da América Latina. "Jogava xadrez todo dia com ele, era uma pessoa maravilhosa de conviver. Éramos equilibrados nas partidas. Ele tinha uma altíssima inteligência, mas possuía problemas para controlar seus ânimos. Havia momentos em que ficava muito agressivo”, disse.

Luiz Fernando da Costa, conhecido como Fernandinho Beira-Mar, está atualmente preso no Presídio Federal de Segurança Máxima de Catanduvas, no Paraná. Ele foi transferido para essa unidade em março de 2024, após uma passagem pela Penitenciária Federal de Mossoró, no RN. Beira-Mar cumpre pena por crimes como tráfico de drogas, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e homicídios, acumulando penas que somam mais de 300 anos de prisão.

A permanência do bilionário na Papuda foi encerrada em 2009, quando o STF, após longos debates, autorizou a extradição. Na Áustria, Rydl foi absolvido por alguns crimes, outros prescreveram e os delitos em que foi condenado resultaram em três meses de prisão. Após cumprir a pena, voltou ao Brasil.

Walter, em Ponta do Mel
Walter Werner Rydl, em Ponta do Mel

Cidadão brasileiro

Werner Rydl foi reconhecido como cidadão brasileiro em 3 de fevereiro de 2015. Nesta data, o então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, assinou oficialmente sua naturalização no país.

Passado o período na cadeia, Werner Rydl relatou que processou o governo austríaco e conseguiu ser indenizado pelo fato de ter ficado mais de 4 anos preso por culpa do pedido de extradição. “Foi um ato de abuso de poder. Ninguém no mundo ficou tanto tempo preso por extradição quanto eu. Na Aústria, consegui direito à indenização pela prisão. Cada dia que fiquei preso na Papuda eu faturei um valor de 9 milhões de euros de indenização, então no final das contas foi ótimo”, acentuou.

Império do ouro

O império de mais de 300 toneladas de ouro que possui, segundo Werner Rydl, começou assim que chegou no Brasil, em 1991.“Com o dinheiro que acumulei na Áustria, comecei a comprar ouro aqui. O ouro não quebra, não perde valor igual o papel. Comprei todo o ouro que podia, cerca de 200 kg, 300 kg por semana. No início eu usava outras pessoas para cuidar do ouro, mas hoje só eu faço isso. Uma vez por mês eu saio com o barco para transportar o ouro para os locais onde guardo. Eu construí uma torre em que guardo uma parte do ouro, que tem uma porta de 4 toneladas. Não tem vigia, nada. Abro a porta, entro, fecho. Nunca aconteceu nada”, disse ele, dando detalhes sobre a torre localizada na mesma praia de Recife onde queimou os 21 milhões de euros.

Classificação Indicativa: Livre

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