Cidades
por Gabi Fernandes
Publicado em 02/08/2025, às 12h14
Um ex-auxiliar de manutenção da Voepass afirmou que a aeronave que caiu em Vinhedo (SP), no ano passado, apresentou uma falha técnica grave no dia anterior ao acidente. O modelo envolvido era um ATR 72-500, e segundo o ex-funcionário, o problema foi relatado verbalmente pelo piloto, mas ignorado pela equipe de manutenção.
A equipe argumentou que negligenciou o aviso por não ter sido registrado no diário de bordo técnico — documento oficial que relata ocorrências mecânicas da aeronave. De acordo com o relato, o sistema de degelo do avião apresentou mau funcionamento.
O piloto que operou a aeronave no voo anterior argumentou que o sistema desarmava sozinho durante o acionamento, o que não poderia acontecer, especialmente em trajetos com risco de formação de gelo.
“Essa aeronave nunca tinha apresentado esse tipo de falha, né? Só que no dia do acidente, quando essa aeronave chegou de Guarulhos para Ribeirão, ela foi reportada verbalmente pelo comandante que trouxe ela. Foi alegado que ela tinha apresentado o airframe [fault] durante o voo. E ela estava desarmando sozinha. Ele acionava [o sistema] e ela desarmava. Coisa que não poderia acontecer”, relatou o ex-funcionário.
O pleno funcionamento do sistema de degelo é obrigatório em voos com possibilidade de gelo, como era o caso do trajeto para Cascavel (PR), que estava na rota do avião. O sistema é fundamental para garantir a segurança onde há risco de formação de gelo nas superfícies externas, como asas, cauda e motores.
Quando o gelo se acumula nessas áreas, ele altera a aerodinâmica do avião, podendo comprometer a sustentação, causar perda de controle e até falha de instrumentos sensíveis. Por isso, regulamentos internacionais e nacionais de aviação civil exigem que o sistema esteja plenamente funcional antes de qualquer voo sob essas condições.
Rotina da aeronave
A aeronave realizou vários voos no dia 9 de agosto de 2023: operou o voo 2293 de Guarulhos a Ribeirão Preto, onde ocorreu a primeira queixa; ficou no hangar para manutenção entre 1h e 5h30; voou de Ribeirão a Guarulhos às 5h32; decolou para Cascavel às 8h30; retornou de Cascavel às 11h56; e, às 13h22, caiu em Vinhedo.
Ainda segundo o ex-funcionário, a falha não foi registrada oficialmente devido à pressão da diretoria da Voepass para evitar que aeronaves ficassem paradas por manutenção; ele contou que o líder do turno foi informado sobre o alerta feito verbalmente pelo comandante, mas, ao constatar que nada havia sido escrito no livro de bordo, decidiu ignorar o problema.
A investigação sobre o acidente segue em andamento.
O acidente
A tragédia ocorreu no início da tarde de 9 de agosto de 2023. A aeronave, um ATR 72-500, decolou do Aeroporto de Guarulhos (SP) com destino ao interior paulista, em mais um trecho de uma sequência intensa de voos operados no mesmo dia.
Às 13h22, durante a aproximação para pouso, o avião caiu em uma área de mata no município de Vinhedo, a cerca de 75 km da capital. Estavam no avião 57 passageiros e quatro tripulantes. Ninguém sobreviveu.
Classificação Indicativa: Livre