Política

Dino usa tragédia de Mariana para tentar proteger Moraes das sanções dos EUA

Ministro Flávio Dino determina que atos de governos estrangeiros só têm validade no Brasil se homologados pelo STF  |  © Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Publicado em 18/08/2025, às 14h54   © Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil   Giovana Gurgel

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, decidiu nesta segunda-feira (18) que leis, ordens executivas e atos administrativos de governos estrangeiros só têm efeito no Brasil se forem expressamente homologados pelo STF.

A medida, concedida no âmbito de um processo sobre a tragédia de Mariana (MG), tem o objetivo de blindar o ministro Alexandre de Moraes das sanções financeiras da Lei Magnitsky, aplicadas pelo governo dos Estados Unidos.

Dino determinou que “leis estrangeiras, atos administrativos, ordens executivas e diplomas similares não produzem efeitos em relação a pessoas naturais, relações jurídicas, bens ou empresas que atuem no Brasil”.

Segundo o ministro, a “extraterritorialidade é absolutamente excepcional” e pode representar risco à segurança nacional caso decisões estrangeiras sejam cumpridas imediatamente.

O magistrado afirmou que qualquer afastamento dessa presunção de ineficácia só poderá ocorrer mediante deliberação expressa do STF, por meio de Reclamação Constitucional ou outra ação judicial cabível.

A decisão já foi comunicada ao Banco Central, à Febraban, à CNF e à CNSeg, que representam instituições financeiras e seguradoras do país.

Ação sobre desastre de Mariana

A decisão de Dino foi proferida dentro de uma ação do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que busca impedir que municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo prossigam com uma ação judicial no Reino Unido relacionada à tragédia de Mariana, causada pelo rompimento de uma barragem há dez anos.

O processo, iniciado em 2024, questiona a legalidade de municípios recorrerem à Justiça estrangeira sobre fatos ocorridos no Brasil.

O STF já havia homologado um acordo de R$ 170 bilhões entre empresas como Samarco, Vale e BHP Billiton, a União, estados e representantes das comunidades afetadas. A ação em Londres pode chegar a R$ 260 bilhões, com foco na BHP, empresa anglo-australiana que controla a Samarco junto à Vale.

Dino fundamenta sua decisão em uma petição britânica enviada ao STF em março, que aconselha a desistência de pedidos relacionados a contratos e acordos entre os municípios. Segundo ele, a medida estrangeira não tem efeito sobre empresas e municípios sediados no Brasil, reforçando o princípio da soberania nacional.

Blindagem de Moraes e Lei Magnitsky

O ministro aproveitou a discussão sobre extraterritorialidade e soberania para ampliar o alcance da decisão, garantindo proteção a Moraes.

A Lei Magnitsky permite que cidadãos estrangeiros sejam sancionados com bloqueio de ativos nos EUA e restrições a operações financeiras internacionais, incluindo o uso de cartões de crédito como Mastercard e Visa.

Até o momento, bancos brasileiros têm interpretado que apenas transações internacionais, em dólar, estão afetadas, mantendo operações em reais. A decisão de Dino deve ser levada ao plenário do STF para referendo, consolidando a posição do tribunal sobre o tema.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou ter comunicado ao secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, que bancos brasileiros não estariam cumprindo integralmente as sanções contra Moraes, destacando a pressão política sobre as instituições financeiras nacionais.

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