Política
Publicado em 20/09/2025, às 20h00 A decisão de não convidar os EUA reflete preocupações sobre a regressão democrática interna e a pressão sobre a imprensa americana. - Reprodução Simone Santos
Os Estados Unidos ficaram de fora da lista de convidados para a reunião sobre democracia, que acontecerá à margem da Assembleia Geral da ONU. Diferentemente do ano anterior, quando o governo de Joe Biden enviou um representante de segundo escalão para a primeira edição do encontro, a ausência norte-americana agora é completa.
A reunião é organizada pelo Brasil, Espanha, Chile e Uruguai, e a lista oficial de convidados, com cerca de 30 países, não foi divulgada. A expectativa, no entanto, é que os participantes de 2024, como a Alemanha, França, Canadá e México, estejam novamente presentes.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também é aguardado no encontro, que acontecerá na próxima quarta-feira, dia 24, em Nova York.
A decisão de não convidar os Estados Unidos foi tomada pelo grupo organizador porque o governo de Donald Trump é visto como um questionador das instituições democráticas de outros países, como o Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil. Além disso, a visão é de que o próprio governo americano regrediu internamente, ao pressionar a imprensa por críticas.
De acordo com membros do governo brasileiro, o Brasil não poderia sugerir o convite aos EUA neste momento, já que o país sofre sanções e promessas de novas punições devido ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Ele foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por liderar uma tentativa de golpe de Estado em 2022.
O grupo também argumentou que a ONU tem 193 integrantes e que, pela quantidade de países, é preciso fazer escolhas para a composição do evento.
Em 2024, os Estados Unidos enviaram o vice-secretário de Estado Kurt Campbell para o evento. A escolha de um funcionário de segundo escalão, comunicada de última hora, gerou desconforto na comitiva brasileira, que interpretou a decisão como um desprestígio por parte do governo de Joe Biden.
O próprio presidente americano havia sido convidado diretamente por Lula em uma conversa telefônica. Na época, a avaliação interna dos norte-americanos foi de que a participação poderia prejudicar a campanha eleitoral, já que a vice-presidente Kamala Harris enfrentava Donald Trump na disputa.
Desde sua criação em 2024, durante a semana da Assembleia Geral da ONU, o grupo liderado por Brasil e Espanha vem se firmando como um espaço relevante para o debate de desafios contemporâneos à democracia.
Embora as reuniões coincidam com agendas apertadas dos chefes de Estado e sejam marcadas por declarações breves, os encontros têm levantado questões centrais como o avanço das fake news, o papel das big techs na desinformação e os riscos que essas dinâmicas representam para as instituições democráticas.
Também tem ganhado destaque a relação entre desigualdade social e o enfraquecimento das democracias, com alertas sobre como contextos de exclusão econômica tornam os sistemas políticos mais vulneráveis a discursos extremistas e à erosão da confiança nas instituições públicas.
Para aprofundar as discussões, o grupo tem promovido reuniões técnicas intermediárias entre os encontros de alto nível. Um desses encontros foi realizado no Chile, em julho de 2025, reunindo representantes de diversos países para debater propostas concretas e trocar experiências.
A expectativa é de que uma nova reunião aconteça em 2026, na Espanha, com foco em consolidar recomendações conjuntas que possam influenciar a formulação de políticas públicas e orientar regulamentações internacionais sobre o combate à desinformação e à defesa da democracia em escala global.