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Fraudes no INSS: Mansão de Lobby e dinheiro de aposentados em esquema bilionário

Camisotti e Sávio, alvos da investigação, teriam movimentado milhões em transações irregulares e corrupção no INSS  |  A constituição da Fenap visava pressionar o INSS e garantir privilégios, mas investigações revelaram um esquema de fraudes. - Reprodução

Publicado em 04/05/2025, às 17h37   A constituição da Fenap visava pressionar o INSS e garantir privilégios, mas investigações revelaram um esquema de fraudes. - Reprodução   Aryela Souza

Empresários e um lobista investigados em um esquema bilionário de fraudes contra aposentados do INSS montaram uma verdadeira operação para pressionar o Congresso, o Judiciário e até o próprio órgão federal. Eles chegaram a alugar e mobiliar uma mansão no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, com o objetivo de criar uma federação de associações que visava promover seus interesses e influenciar decisões do INSS.

A Federação Nacional dos Aposentados e Pensionistas (Fenap) teria como representante um parente do empresário Maurício Camisotti, conhecido por sua atuação em três associações envolvidas no esquema de descontos indevidos. Camisotti foi um dos alvos da Operação Sem Desconto da Polícia Federal (PF). Outras duas entidades ligadas ao também investigado Domingos Sávio, acusado de estelionato em outros processos, estavam na jogada.

Fontes internas das associações afirmam que o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, também esteve envolvido na articulação, com registros de transferências milionárias entre ele e os empresários responsáveis por oito das associações que arrecadaram milhões com descontos de mensalidades sobre aposentadorias.

O escândalo apontou que as entidades envolvidas conseguiram arrecadar R$ 2 bilhões em um ano com os descontos irregulares. A série de reportagens foi crucial para o início das investigações da PF e da Controladoria-Geral da União (CGU). A operação, deflagrada em abril de 2024, resultou nas demissões do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.

O plano dos envolvidos era claro: constituir uma federação com o intuito de reunir várias associações de aposentados e pressionar o INSS para obter controle sobre nomeações no órgão e garantir privilégios. A ata de constituição da Fenap detalha a intenção de defender interesses das associações junto aos três poderes, além de promover eventos e projetos de captação de recursos.

Com o avanço das investigações, os empresários e o lobista começaram a se afastar da operação, abandonando inclusive a casa que havia sido alugada para as atividades de lobby. Segundo fontes, das oito associações que integravam a federação, cinco estão ligadas diretamente a Camisotti, incluindo Ambec, Unsbras e Cebap, todas já com acordos com o INSS e responsáveis por grandes quantias em descontos irregulares. A ONAP e a URAP, por outro lado, estavam em processo de obtenção de convênios.

As fraudes, que totalizam R$ 6,3 bilhões desde 2019, envolveram transações financeiras de grande porte. Camisotti e Sávio, por exemplo, transferiram R$ 14 milhões para o lobista “Careca do INSS”, que também é acusado de pagar propinas a ex-diretores do INSS.

Segundo a PF, o lobista ainda envolveu membros da alta cúpula do órgão e de outros setores públicos em um esquema de corrupção que inclui pagamentos, viagens internacionais e até transferências de bens, como um Porsche.

Tanto Maurício Camisotti quanto Antonio Camilo Antunes negam qualquer envolvimento em atividades ilegais ou fraudes no INSS.

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