Polícia
Publicado em 31/08/2025, às 18h38 Gakiya alerta que o PCC pode estar financiando campanhas políticas, aumentando sua influência sobre o governo e a sociedade. - Reprodução BNews Natal Redação
O promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que há mais de 20 anos se dedica a combater o Primeiro Comando da Capital (PCC), expressou seu pessimismo quanto ao futuro.
Segundo ele, a facção nunca esteve tão forte, com operações em 28 países e forte influência na economia e política do Brasil.
Gakiya, que faz parte do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo, alerta que a capacidade de faturamento e a atuação da organização dentro da economia formal estão em seu auge, tornando-a mais poderosa do que nunca.
De acordo com o promotor, o PCC já pode ser classificado como uma organização mafiosa. Em entrevista concedida ao jornal O Globo no sábado (30), Gakiya afirmou que é praticamente impossível saber em quantos setores do mercado formal o PCC já conseguiu se infiltrar.
“Não precisa mais da ostensividade da violência, exibindo fuzis e praticando crimes cinematográficos. Ele já passou dessa fase, está ganhando muito dinheiro, principalmente com o tráfico internacional de cocaína para a Europa.”
O promotor ainda alertou que, sem uma agência nacional para coordenar o combate ao crime organizado, o Brasil corre o risco de se tornar um narcoestado nas próximas três décadas.
Para reintroduzir o dinheiro ilegal, o PCC se infiltra na economia formal, utilizando empresas legítimas com funcionários e serviços reais, o que torna o rastreamento pelas autoridades mais difícil.
Gakiya revelou que, há pelo menos uma década, o PCC já utilizava a compra de postos de gasolina e concessionárias de veículos como um dos principais meios para lavar dinheiro.
Questionado sobre a sobreposição de tarefas entre o Ministério Público e a Polícia Federal, Gakiya ressaltou que a ausência de integração entre os órgãos é um grande obstáculo.
"O maior desafio do Brasil, hoje, em termos de segurança pública, é a coordenação e integração", afirmou.
O promotor defende a criação de uma agência que possa coordenar e tornar o combate ao crime organizado mais eficiente.
O promotor defende a criação de uma agência antimáfia, argumentando que "nós já temos máfia no Brasil, o PCC já é uma organização mafiosa". Ele sugere que a agência seja composta por todas as instituições de segurança e justiça, pois atualmente não há subordinação entre elas, o que gera "muita disputa institucional".
O diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, já se manifestou contra a ideia, afirmando que a própria PF cumpre essa função. No entanto, Gakiya discorda, afirmando que "se tivesse suprido o papel de fazer essa integração entre as instituições, não estaríamos no estado que estamos agora".
Risco de narcoestado
O promotor alerta que o Brasil está em um processo de consolidação de um "Estado paralelo" e corre o risco de se tornar um narcoestado em até três décadas, a menos que medidas sejam tomadas.
"O crime organizado está num processo de crescimento exponencial", ele afirma, "e ninguém sabe onde isso vai chegar".
A principal característica de um narcoestado é o domínio da política. Gakyia então destaca que, "quando o crime começa a dominar as prefeituras, as câmaras municipais, e depois a ter influência sobre os governos estaduais, pode chegar a eleger um presidente ou então ter ligações diretas com o presidente". Ele enfatiza a necessidade de evitar esse cenário.
Para o promotor, essa influência já pode estar em andamento. "No ano que vem, teremos campanhas e é bem possível que o PCC também esteja financiando algum candidato".
Ele complementa que, "tendo todo o interesse, estando na economia formal, de participar dessa fatia do bolo, ou seja, de licitações ou dos negócios públicos", o crime organizado pode cobrar favores mais tarde. "Quando você elege um representante, seja no Legislativo, seja no Executivo, você vai cobrar a conta depois".