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Publicado em 08/09/2025, às 13h25 Foto: Oday Alshobaki/MSF Giovana Gurgel
Os palestinos na Cisjordânia vivem um cenário de deslocamentos forçados em massa, provocado por ações do Exército e de colonos israelenses, alerta Médicos Sem Fronteiras (MSF). A organização humanitária, que atua há 36 anos na Palestina, afirma que a situação chegou a um ponto crítico e representa risco de limpeza étnica.
Segundo a entidade, políticas e práticas recentes têm como objetivo expulsar comunidades inteiras de suas terras e impedir qualquer possibilidade de retorno.
A MSF pede à comunidade internacional, especialmente a países com laços políticos, militares e econômicos com Israel, como Estados Unidos e União Europeia, que exerçam pressão imediata para interromper as violações e garantir o fim da ocupação, considerada ilegal pelo Direito Internacional.
De acordo com a Agência da ONU para Refugiados da Palestina (UNRWA), a operação militarizada israelense chamada Muralha de Ferro já deslocou cerca de 40 mil pessoas no norte da Cisjordânia apenas em 2025.
Três campos de refugiados foram invadidos e esvaziados, enquanto escolas, casas e centros de saúde foram demolidos. Em resposta, a MSF mobilizou equipes médicas móveis em 42 localidades de Jenin e Tulkarem.
O avanço do plano de assentamento E1 também preocupa organizações internacionais, pois dividiria a Cisjordânia ao meio e isolaria Jerusalém Oriental.
“Essas ações estão enraizadas em um processo colonial mais amplo, cujo objetivo é a remoção forçada de comunidades palestinas”, afirma Simona Onidi, coordenadora da MSF em Jenin e Tulkarem.
Entre janeiro de 2023 e maio de 2025, mais de 6.450 palestinos foram deslocados devido à demolição de casas. Só em Hebron, 240 pessoas - incluindo 97 crianças - perderam suas residências em abril e maio deste ano.
“Eles não permitiram que pegássemos nossos pertences. Passaram por cima de tudo com a escavadeira”, relata Warda*, moradora da região.
Além das demolições, ataques de colonos israelenses, muitas vezes com apoio ou proteção militar, vêm forçando famílias inteiras a abandonar suas casas. Desde 2023, quase 2.900 palestinos foram deslocados em razão da violência e de restrições de circulação.
Em Masafer Yatta, vilarejos sofrem ataques diários, e uma pesquisa da MSF mostrou que 28% das famílias têm ao menos um membro com trauma psicológico grave.
As barreiras físicas também se multiplicam. Entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, foram criados 36 novos postos de controle fixos na Cisjordânia. Já os bloqueios temporários cresceram de 116 no fim de 2023 para 370 entre janeiro e abril de 2025.
O resultado, segundo a MSF, é a limitação do acesso a hospitais, escolas e empregos, obrigando pacientes a recorrerem a clínicas móveis em vez de atendimento especializado.
A infraestrutura de água é outro alvo das restrições. Desde maio de 2025, a província de Hebron enfrenta cortes que reduziram em mais de 50% o abastecimento público, afetando 800 mil pessoas.
Há relatos de colonos cortando encanamentos em comunidades rurais, situação que obrigou a MSF a distribuir tanques de armazenamento emergencial.
A perda de terras agrícolas, o cancelamento de autorizações de trabalho e a proibição de pastoreio também têm comprometido os meios de subsistência palestinos.
“Não se trata apenas de demolir casas, mas de tirar nossas terras e renda, inviabilizando que possamos continuar aqui”, afirma um morador de Masafer Yatta.
As políticas de anexação e deslocamento forçado na Cisjordânia ocupada configuram violações graves do Direito Internacional Humanitário, destaca a MSF. Para a organização, o fim da ocupação é a única forma de reduzir as dificuldades enfrentadas pela população palestina e garantir perspectivas de futuro no território.
*Nome alterado para proteção.