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Israel pode retirar do território palestino dezenas de organizações internacionais que atuam há décadas em Gaza, aprofundando um cenário de fome generalizada. A ameaça é vista por entidades como parte de uma estratégia para militarizar a ajuda humanitária e controlar sua distribuição, excluindo profissionais palestinos e impondo burocracias consideradas ilegais.
A menos que aceitem todas as exigências do governo, como compartilhar listas completas de funcionários e informações sobre doadores, muitas ONGs podem ter de encerrar atividades em Gaza e na Cisjordânia em até 60 dias.
Algumas receberam apenas uma semana para fornecer dados sensíveis de suas equipes, o que, segundo as próprias organizações, viola leis internacionais de proteção de dados e expõe trabalhadores a riscos.
O bloqueio já deixa milhões de dólares em alimentos, remédios e itens básicos retidos em armazéns na Jordânia e no Egito, enquanto a população palestina enfrenta fome extrema e doenças evitáveis.
Apesar de afirmar que não há restrições à entrada de suprimentos, Israel rejeitou desde 2 de março dezenas de pedidos para levar itens essenciais a Gaza. Só em julho, mais de 60 solicitações de ONGs foram negadas com a justificativa de que não estavam autorizadas a fornecer ajuda.
A Anera, por exemplo, mantém mais de US$ 7 milhões em suprimentos, incluindo 744 toneladas de arroz, o equivalente a 6 milhões de refeições, parados a poucos quilômetros de Gaza. Já a CARE relata ter US$ 1,5 milhão em remessas de cestas básicas, kits de higiene e suprimentos médicos bloqueados.
A Oxfam, por sua vez, afirma que mais de US$ 2,5 milhões em alimentos, água e itens de higiene foram impedidos de entrar no território. As organizações destacam que a recusa em liberar esses carregamentos ameaça diretamente a sobrevivência de crianças, idosos e pessoas com deficiência.
O chamado “Fundação Humanitária de Gaza” (GHF), promovido por Israel como solução, é apontado pelas ONGs como um mecanismo militarizado que transforma a fome em arma. Desde que começou a operar, pelo menos 859 palestinos morreram nos locais de distribuição, muitos deles jovens, mulheres e crianças que buscavam comida.
O coordenador de emergências de Médicos Sem Fronteiras, Aitor Zabalgogeazkoa, denuncia que as distribuições da GHF resultaram em violência extrema. Para ele, a única resposta eficaz seria abrir todas as fronteiras para permitir a entrada imediata de milhares de caminhões com alimentos e suprimentos médicos já estocados na região.
As ONGs e mais de 100 signatários do apelo internacional exigem que Israel acabe com as restrições burocráticas, suspenda a obrigatoriedade de compartilhar informações sensíveis e permita a entrada incondicional de ajuda humanitária.
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