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Desertificação avança no RN e IBAMA alerta: “clima igual do Saara”

O avançado estágio de desertificação no Rio Grande do Norte, em especial na região Seridó, é o tema de uma audiência pública na Câmara de Caicó  |  Hoje, pelo menos 97 dos 167 municípios do estado estão na situação de seca - Anderson Barbosa

Publicado em 11/06/2025, às 14h30   Hoje, pelo menos 97 dos 167 municípios do estado estão na situação de seca - Anderson Barbosa   Anderson Barbosa

O avançado estágio de desertificação no Rio Grande do Norte, em especial na região Seridó, é o tema de uma audiência pública marcada para a próxima quarta-feira (18) na Câmara Municipal de Caicó. Proposta pelo vereador Tales Rangel, integra a programação alusiva ao Dia Nacional de Combate à Desertificação e à Seca. O objetivo é reunir autoridades, pesquisadores e a população para debater o avanço da degradação ambiental no semiárido potiguar. O IBAMA estará lá.  

"No Brasil, temos cinco áreas em avançado estado de desertificação. Uma delas está no RN, com o clima igual do Saara”, alertou o professor Rivaldo Fernandes, superintendente estadual do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.

Professor Rivaldo Fernandes, superintendente do IBAMa no RN

 

O deserto do Saara fica no Nordeste do continente Africano, e tem uma área do tamanho da Europa. É conhecido por ser o maior deserto quente do mundo. Oficialmente, é o terceiro maior deserto da Terra. Só perde para a Antártida e o Ártico, pois estas duas também são consideradas desertos, só que gelados. O tempo no Saara também é marcante. Prevalece o clima seco e árido, com temperatura que pode chegar a 40º. Na região Seridó potiguar, a temperatura mais alta registrada pela estação climatológica da UFRN foi de 40,9°C, em Caicó, no dia 9 de novembro de 2023.

“Fui convidado pelo deputado estadual Vivaldo Costa, do Partido Verde, um dos nomes históricos da defesa do Seridó e do meio ambiente na Assembleia Legislativa”, destacou o professor, ao mesmo tempo em que intensificou sua preocupação com a questão. “Estaremos em Caicó ao lado de gestores públicos de toda a região do Seridó, estudantes, parlamentares, representantes da sociedade civil e instituições ambientais. Precisamos analisar, com base científica e técnica, o avanço do processo de desertificação nos municípios da região, seus impactos e as medidas urgentes que precisam ser adotadas”, destacou.

Desertificação no Seridó potiguar

 

O destaque da audiência será a palestra da Dra. Meire Cavalcante, renomada pesquisadora da UFRN e especialista no bioma Caatinga, com mais de 40 anos de experiência em estudos sobre o semiárido nordestino. A pesquisadora apresentará dados atualizados, mapas da região e análises sobre os riscos que a desertificação representa para a biodiversidade, a produção agrícola e a qualidade de vida no Seridó.

O deputado Vivaldo Costa também fará uma abordagem política e histórica da questão ambiental na região, reforçando a importância de políticas públicas voltadas à convivência com o semiárido e à recuperação das áreas degradadas. 

Além do superintendente do IBAMA-RN, também devem comparecer à audiência representantes da Fundação Verde Hebert Daniel e da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN).

Seca avança no RN

Relatório de abril do Monitor de Secas mostra que os indicadores de estiagem estão piorando e a seca avançando por todas as regiões do Rio Grande do Norte. Hoje, pelo menos 97 dos 167 municípios do estado estão na situação de "seca fraca”, o que representa 58,08% de todo o território potiguar. Os outros 70 municípios (41,92%) estão com "seca moderada".

Diante deste cenário,  e de uma eventual necessidade de ampliação das atividades em razão da possibilidade de um período maior de estiagem, principalmente no interior do estado, o Exército Brasileiro disse que está pronto para reforçar a Operação Carro-Pipa no Rio Grande do Norte. O número de municípios atendidos pelo programa, inclusive, deve aumentar.

Atualmente, 61 municípios potiguares são atendidos pela Operação Carro-Pipa. Em Acari e Paraú as ações estão temporariamente suspensas, aguardando a contratação de pipeiros. Lagoa D'Anta e Senador Elói de Souza estão em processo de inclusão no programa, que é feito pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, em Brasília. 

Desertificação no Seridó já foi destaque no ‘The New York Times’

O tema é tão alarmante quanto conhecido. Em 2021, O Rio Grande do Norte foi destaque em um dos principais jornais do mundo, o americano The New York Times. Na capa, a foto de uma olaria em Parelhas, no Seridó potiguar, como exemplo de uma transformação em câmara lenta de um "Nordeste fértil" em deserto, como citou o Instituto Humanas Unisinos. 

The New York Times destacou a desertificação no Seridó potiguar

 

Município vizinho, Carnaúba dos Dantas também foi citado. Na reportagem, um correspondente pôde presenciar, nas duas cidades, um processo de desertificação que se agrava em todo o planeta. "É um desastre natural", afirmou. As mudanças climáticas e necessidades econômicas da região, centro nacional para produção de telhas através das cerâmicas, contribuiriam com agravamento da processo de desertificação.

A reportagem mergulhou na história da produção do insumo na região e explica que o processo de fabricação, utilizando águamadeira e argila, todas matérias-primas escassas, contribui para o processo. Em agosto, o último grande relatório das Nações Unidas sobre a mudança climática disse que o Nordeste do Brasil enfrenta o aumento das temperaturas, um declínio acentuado nas águas subterrâneas e secas mais frequentes e intensas. Imagens de satélite e testes de campo mostram que 13% das terras já perderam sua fertilidade, enquanto quase o resto da região está em risco.

A desertificação no Brasil 

A desertificação é um problema grave no Brasil. E a situação mais séria é a do Nordeste. Atualmente, a região tem cerca de 13% de sua área em avançado estágio de degradação, o que leva à perda de vegetação, redução da fertilidade e diminuição da disponibilidade de água.  

Para ajudar ainda mais a acelerar o processo, está o uso inadequado do solo, desde o plantio sem rotação, ausência de proteção da terra e o uso excessivo de fertilizantes e pesticidas. Sem vegetação, o solo fica mais exposto à erosão e às ações do vento.  

O uso não sustentável da água e da vegetação também elevam a degradação do solo, assim como a pecuária insustentável, que impede a regeneração da vegetação.Por fim, soma-se ao caos as secas e mudanças constantes na temperatura, que agravam ainda mais a desertificação em áreas já bastante vulneráveis. E quem mais sente estes efeitos é o bioma. Estamos falando da Caatinga, que só existe no Nordeste. Por enquanto.    

Seca em escala planetária 

Ano passado, a Agência Câmara de Notícias trouxe à pauta um alerta feito pela Organização das Nações Unidas, a ONU. O destaque era o aumento da desertificação no Brasil e a iminência de uma seca em escala planetária.

Segundo o Departamento de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente, atualmente a área de desertificação no Brasil atinge aproximadamente 38 milhões de pessoas, mais de um milhão e setecentos mil estabelecimentos da agricultura familiar, 42 povos indígenas e centenas de comunidades quilombolas.

“A cada segundo, o mundo perde o equivalente a quatro campos de futebol de terra saudável devido à destruição da vegetação nativa e ao mau gerenciamento da terra. Anualmente, isso totaliza 100 milhões de hectares. Se as tendências atuais continuarem, vamos precisar restaurar 1,5 bilhão de hectares de terra até 2030 para atingir a meta de neutralidade na degradação da terra. As secas estão ocorrendo com mais rapidez e representam uma emergência sem precedentes em escala planetária”. Os dados foram apresentados pelo mauritano Ibrahim Thiaw, durante audiência ocorrida em 2024 na Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, no Distrito Federal.

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