Política
A Polícia Federal avançou nas investigações sobre a trama golpista e apontou, nesta quarta-feira (20), o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por tentativa de interferência no julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF).
O pastor Silas Malafaia também entrou no radar da corporação: não foi indiciado, mas teve celular e passaporte apreendidos.
Conversas recuperadas pela perícia
De acordo com o relatório, mensagens e áudios revelam que o ex-presidente buscava pressionar ministros do STF e parlamentares para tentar barrar a ação penal em que é réu.
As conversas estavam em celulares já apagados, mas recuperados pelos peritos. Para os investigadores, o conteúdo comprova que Bolsonaro descumpria de forma deliberada medidas cautelares impostas pelo Supremo.
Plano de asilo na Argentina
Entre os diálogos encontrados, aparece um rascunho de carta que Bolsonaro pretendia enviar ao presidente argentino Javier Milei.
No texto, ele afirmava: “De início, devo dizer que sou, em meu país de origem, perseguido por motivos e por delitos essencialmente políticos. No âmbito de tal perseguição, recentemente, fui alvo de diversas medidas cautelares”.
“Anistia light” para salvar Bolsonaro
Já Eduardo Bolsonaro, em mensagens ao pai, demonstrava preocupação em garantir que a eventual anistia não fosse coletiva, mas sim um benefício direto ao ex-presidente.
Se a anistia light passar, a última ajuda vinda dos Estados Unidos terá sido o post do Trump. Eles não irão mais ajudar (…) temos que decidir entre ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia ou enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num semiaberto”, escreveu.
Articulações nos EUA e apoio de Trump
Em 10 de julho, o deputado aconselhou Bolsonaro a agradecer publicamente Donald Trump pelo tarifaço de 50% contra produtos brasileiros. “Opinião pública vai entender e você tem tempo para reverter se for o caso. (…) Na situação de hoje, você nem precisa se preocupar com cadeia, você não será preso. Mas tenho receio que por aqui as coisas mudem”, disse Eduardo.
Duas semanas depois, a PF identificou outra mensagem do parlamentar indicando que a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes estava próxima. Poucos dias depois, os EUA anunciaram as sanções.
Descumprimento de restrições
Apesar de estar proibido de usar redes sociais, Bolsonaro reativou um novo celular em 25 de julho, apenas uma semana após ter o anterior apreendido. O aparelho, também confiscado, revelou intensa movimentação em listas de transmissão no WhatsApp, usadas para compartilhar conteúdos políticos e mobilizar apoiadores.
Atuação de Silas Malafaia
Mensagens analisadas mostram Malafaia pedindo que Bolsonaro disparasse vídeos em apoio às manifestações pró-anistia. O pastor também pressionava deputados a fazer postagens alinhadas ao discurso do ex-presidente.
Em decisão, Moraes destacou:
“A continuidade das investigações demonstrou fortes indícios de participação de Silas Malafaia na empreitada criminosa, de maneira dolosa e com unidade de desígnios com Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro”.
Em resposta, Malafaia atacou: “Vai ter que me prender para me calar”.
Troca de xingamentos
O relatório ainda traz mensagens ásperas entre pai e filho. Após uma fala de Bolsonaro sobre o conflito de Eduardo com o governador paulista Tarcísio de Freitas, o deputado escreveu:
“VTNC SEU INGRATO DO CARALHO! (…) Se o IMATURO do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui, PORQUE VC ME JOGA PRA BAIXO, quem vai se fuder é vc”.
Malafaia também entrou nas críticas, chamando Eduardo de “babaca, inexperiente e idiota”:
Esse seu filho Eduardo é um babaca, inexperiente que está dando a Lula e a esquerda o discurso nacionalista, e ao mesmo tempo te ferrando. Um estúpido de marca maior”.
Braga Netto e contatos proibidos
Outro ponto levantado pela PF foi o contato do ex-ministro Walter Braga Netto com Bolsonaro, mesmo sob proibição judicial.
A mensagem dizia: “Estou com este número pré-pago para qualquer emergência. Não tem zap. Somente face time. Abs Braga Netto”.
Dinheiro em nome das esposas
As apurações também apontam indícios de que Eduardo Bolsonaro utilizou a conta bancária da esposa, Heloísa, para ocultar valores destinados ao pai.
A prática, segundo a PF, foi igualmente empregada por Jair Bolsonaro usando a conta de Michelle Bolsonaro.
Relação com a plataforma Rumble
O ex-presidente ainda manteve contato com Martin de Luca, advogado ligado à Rumble e ao Trump Media & Technology Group.
Segundo os investigadores, De Luca fornecia documentos e auxiliava Bolsonaro a moldar discursos de “perseguição política” contra Moraes.
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