Política

Por que Brasil tem menos esgoto tratado que Índia, Iraque e China? Entenda o atraso e o risco de novas crises

Em comparação com países da América Latina, Brasil apresenta índices preocupantes - Foto: André Porto/UOL
Apesar de avanços, Brasil está entre os piores em saneamento, com apenas 55,2% de cobertura de esgoto em 2023  |   BNews Natal - Divulgação Em comparação com países da América Latina, Brasil apresenta índices preocupantes - Foto: André Porto/UOL

Publicado em 24/06/2025, às 13h40   Redação



O Brasil segue entre os países mais atrasados do mundo em saneamento básico, especialmente no que diz respeito à coleta e tratamento de esgoto. Segundo dados do Banco Mundial, até 2022 o país apresentava índices inferiores aos de nações como Índia, Iraque, China, África do Sul e vários vizinhos latino-americanos.

Mesmo com avanços recentes após a aprovação do novo Marco Legal do Saneamento Básico, em 2020, especialistas alertam que o país corre o risco de não cumprir as metas estabelecidas para 2033. O marco determina que 99% da população tenha acesso à água potável e 90% a serviços de esgoto tratado até o fim da próxima década.

Atualmente, os números estão bem abaixo disso. Em 2023, 83,1% da população tinha acesso à água e apenas 55,2% ao esgotamento sanitário. Para efeito de comparação, o Peru já tinha 57,7% de cobertura de esgoto e o México, 62,5%. O Chile lidera na América Latina, com 95,3% de cobertura.

Para atingir as metas, o Brasil precisa mais que dobrar os investimentos anuais no setor: de R$ 25,6 bilhões em 2023 para R$ 45,1 bilhões por ano até 2033. Isso representa um aumento de investimento per capita de R$ 124,74 para R$ 223,82 por habitante ao ano.

A entrada da iniciativa privada, por meio de privatizações, PPPs e concessões, tem impulsionado parte desses aportes. Estados como Pernambuco, Pará, Espírito Santo e Rondônia anunciaram investimentos bilionários que devem beneficiar cerca de 16 milhões de pessoas.

Entretanto, o alto custo de financiamento continua sendo um dos principais obstáculos. Com a Selic ainda em patamar elevado (15% ao ano), os investimentos acabam refletindo em tarifas mais caras para os consumidores. Segundo a Aesbe (Associação das Empresas Estaduais de Saneamento), muitas companhias estaduais têm dificuldade para acessar recursos mais baratos, mesmo com linhas de crédito do FGTS.

Apesar dos avanços, as empresas estatais ainda são responsáveis pelo abastecimento de água em 3.301 municípios e pelo esgotamento sanitário em 1.213 cidades, de um total de 5.570 municípios brasileiros.

Desde a aprovação do marco, o setor privado já participou de cerca de 60 leilões, que movimentaram mais de R$ 160 bilhões em investimentos, segundo a Abcon-Sindcon, entidade que representa as concessionárias privadas de saneamento.

Para Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, o país ainda “aparece mal na foto, mas com um filme promissor pela frente”. Segundo ela, o desafio agora é fortalecer as agências reguladoras e garantir segurança jurídica para atrair ainda mais capital privado ao setor.

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