Com a tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre o pescado brasileiro, a indústria da pesca no Rio Grande do Norte já se mobiliza para enfrentar o impacto direto na exportação. Empresas do setor se reúnem nesta quinta-feira, 24, para decidir se manterão suas frotas em terra em agosto, mês em que a nova tarifa começa a valer.
“Provavelmente, não sairemos em agosto”, declarou Arimar França Filho, diretor da Produmar, uma das principais exportadoras de peixe fresco do Brasil, e vice-presidente do Sindipesca-RN.
A medida, apelidada de “Tarifa Trump”, ameaça inviabilizar as exportações, já que o custo extra será descontado do valor pago pelos clientes internacionais, tornando as vendas inviáveis. Como o mercado brasileiro não tem capacidade de absorver a produção e o europeu está fechado desde 2017, as empresas enfrentam um impasse.
Setor sem alternativas e com perdas milionárias
Os barcos de pesca de peixe fresco ficam cerca de 20 dias no mar e dependem de transporte aéreo para a comercialização. Embora as vendas de julho ainda estejam garantidas, a partir de agosto a situação muda drasticamente. Caso a tarifa se mantenha, os 35 navios da região devem permanecer atracados, afetando um faturamento anual estimado em US$ 50 milhões.
Além do prejuízo nas exportações, aproximadamente 1,5 mil trabalhadores do setor também sentirão os impactos. “Os pescadores são registrados, mas têm salários atrelados à produção. Com os barcos parados, vão ganhar menos”, explicou França.
A crise se soma à queda de 20% na demanda americana, provocada pela redução do turismo europeu e canadense nos EUA. França afirma que, com o atual cenário político nos Estados Unidos, a expectativa é de piora e não de recuperação.
Crédito emergencial e dependência dos EUA agravam crise
A Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca) solicitou ao governo federal uma linha emergencial de crédito de R$ 900 milhões para capital de giro. A proposta prevê carência de seis meses e pagamento em 24 meses. A entidade também pressiona por uma reunião com o ministro Fernando Haddad, que prometeu apresentar um plano ao presidente Lula ainda esta semana.
Os Estados Unidos representam 97% das exportações brasileiras de peixes de aquicultura e 58% das de peixes pescados. Dos 30 associados da Abipesca, pelo menos 20 dependem diretamente das vendas para o mercado americano. “O Brasil representa só 1% das importações dos EUA. Eles podem substituir facilmente por Caribe ou Ásia”, afirma Jairo Gund, diretor executivo da Abipesca.
Europa é saída ignorada há anos, diz setor
Gund defende a abertura do mercado europeu como saída urgente e viável, ressaltando que os problemas técnicos que impediram a exportação para o bloco desde 2017 já foram resolvidos. Segundo ele, o empenho do governo federal é essencial para reduzir a dependência dos EUA.
A curto prazo, a paralisação da frota pode até baratear o preço do pescado no Brasil, mas os produtores alertam: o alívio será passageiro. “Talvez o consumidor pague menos por um tempo, mas o efeito colateral será a escassez quando a situação voltar ao normal”, alerta França. “Com barcos parados, a produção some”.