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Poda do Maior Cajueiro do Mundo pode virar tragédia ambiental no RN

Foto: Idema/Divulgação
A Justiça determinou a poda do maior cajueiro do mundo, gerando preocupações sobre a saúde da planta e segurança da comunidade local  |   BNews Natal - Divulgação Foto: Idema/Divulgação

Publicado em 08/07/2025, às 17h14   BNews Natal



Reconhecido internacionalmente como o Maior Cajueiro do Mundo, o exemplar que se espalha por cerca de 10 mil metros quadrados na praia de Pirangi, em Parnamirim, pode sofrer um impacto drástico nos próximos meses.

A Justiça determinou a poda de parte dos galhos da planta, ação que o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema) planeja iniciar em agosto. A medida foi solicitada por moradores e comerciantes que convivem com galhos avançando sobre ruas, casas e estabelecimentos comerciais.

Segundo o Idema, atualmente mais de 1.200 metros quadrados da copa do cajueiro extrapolam a área cercada, alcançando quase metade da avenida São Sebastião.

Entenda

Embora a intervenção seja tratada pelo governo como necessária para segurança, cientistas e moradores afirmam que o corte indiscriminado pode comprometer a saúde e até a sobrevivência da planta centenária. O cajueiro tem 136 anos e é um dos principais cartões-postais turísticos do estado.

Para discutir o assunto, uma audiência pública foi realizada na Câmara Municipal de Parnamirim na manhã desta terça-feira. Após as reuniões e uma análise técnica, o Idema definirá exatamente quais galhos serão removidos. O investimento previsto é de R$ 200 mil, com execução que pode durar até seis meses.

Técnicos defendem intervenção controlada

O diretor técnico do Idema, Thales Dantas, afirmou que a poda não deve ser vista como ameaça ao cajueiro, mas como ação de cuidado. Ele explicou que, até hoje, apenas cortes de manejo higiênico foram realizados, com remoção de partes atacadas por cupins e brocas, sem uma poda estruturada de contenção. Para ele, a operação é essencial para evitar acidentes, como quedas de galhos sobre veículos.

"O governo não está matando o cajueiro, muito pelo contrário. Essa poda é necessária para preservar a planta e garantir segurança. O cajueiro vai continuar sendo o maior do mundo mesmo após a intervenção", defendeu Thales.

O engenheiro agrônomo Marcelo Gurgel também considera a poda viável. Ele lembrou que cajueiros comerciais passam por cortes anualmente e toleram bem esse manejo, desde que realizado com técnica adequada e ferramentas esterilizadas. “É um trabalho que melhora a saúde da planta. Não há risco de morte se for feito corretamente”, avaliou.

Ambientalistas denunciam risco de envelhecimento precoce

Por outro lado, especialistas alertam para efeitos potencialmente irreversíveis. A bióloga Mica Carboni, que já trabalhou no local, considera que a poda de contenção pode comprometer o metabolismo único do cajueiro de Pirangi. Segundo ela, a árvore mantém vitalidade por mais de um século porque os galhos que tocam o chão criam raízes novas, gerando hormônios que rejuvenescem a planta inteira.

“Podar esses galhos para conter o tamanho pode gerar uma catástrofe. É esse enraizamento que faz com que ele siga frutificando mesmo com quase 140 anos. Cortar essa parte vital pode atrofiar a planta e acelerar seu envelhecimento”, afirmou.

Moradores também criticam a intervenção. O corretor Francisco Cardoso disse temer infecções por fungos e bactérias após o corte de quase mil metros de copa. “Vai ser um impacto enorme. Sem muito cuidado, podemos perder o maior cajueiro do mundo”, alertou.

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Patrimônio único que divide opiniões

Para muitos moradores e ambientalistas, preservar o tamanho original do cajueiro é uma questão simbólica e ecológica. “Uma rua ou uma casa podem ser construídas em outro lugar. Mas só existe um maior cajueiro do mundo”, destacou Mica Carboni.

Apesar das divergências, o governo estadual mantém o compromisso de executar a ordem judicial com acompanhamento técnico especializado. O Idema reforça que não haverá poda indiscriminada e que todo o processo será acompanhado por engenheiros agrônomos e biólogos.

Nova audiência pública deve ocorrer ainda nesta semana para tentar construir um consenso entre comunidade, especialistas e gestores sobre o futuro da árvore que é orgulho do Rio Grande do Norte.

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