Muito mais que uma composição visual, o paisagismo regenerativo transforma os espaços em ecossistemas vivos. Ele integra saúde, sustentabilidade e identidade cultural ao valorizar espécies nativas, regenerar o solo e reconectar as pessoas com a natureza.
A proposta se alinha à tendência internacional Wellness Home, da WGSN, que defende que o bem-estar deve estar presente em todas as dimensões do lar — inclusive nas áreas externas.
Diferente do paisagismo tradicional, que costuma usar plantas exóticas, adubos químicos e irrigação intensa, a abordagem regenerativa preza pela funcionalidade ecológica.
Jardins, quintais e varandas deixam de ser meros espaços de contemplação para se tornarem áreas de cultivo, descanso, meditação, convivência e apoio à biodiversidade.
“Cada planta tem um papel. Algumas alimentam pássaros, outras ajudam a regenerar o solo ou marcam as estações do ano. Não se trata só de beleza, mas de intencionalidade”, explica Iago de Oliveira, sócio-fundador do Bloco Blase, escritório que atua com foco em sustentabilidade e bem-estar.
Sustentabilidade real é processo, não discurso
Mais do que optar por insumos sustentáveis, o paisagismo regenerativo propõe uma relação contínua com o ambiente. Isso significa melhorar a infiltração de água, aumentar a diversidade microbiana do solo, atrair polinizadores e reduzir a dependência de manutenção intensiva. É uma resposta concreta aos desafios ambientais e emocionais das cidades.
O arquiteto Fabio Lima, da GT Building, reforça que a adoção desse modelo nos empreendimentos imobiliários traz benefícios práticos e simbólicos. Ele lista cinco diretrizes centrais para transformar um paisagismo comum em regenerativo:
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Regenerar solo e biodiversidade – Com o uso de plantas nativas, o solo ganha vida, retém mais água e atrai espécies locais, promovendo equilíbrio ecológico.
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Reduzir a pegada ambiental – Evita insumos químicos e materiais transportados de longe, o que diminui emissões e impactos.
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Criar resiliência climática – Jardins com plantas adaptadas ao clima exigem menos irrigação, resistem a extremos e reduzem custos.
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Valorizar estética e função – A beleza natural se soma ao papel ecológico dos jardins, que passam a ser também educativos e restauradores.
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Resgatar a brasilidade – Espécies brasileiras, antes esquecidas, voltam a ter protagonismo. O resultado é uma paisagem com identidade, que exige menos manutenção e atrai fauna nativa.
5 espécies e práticas para cultivar um jardim verdadeiramente regenerativo
Conhecer a flora nativa da região é o primeiro passo. O que é natural no Sul pode ser exótico no Nordeste. Veja algumas sugestões para começar:
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Araucária – Nativa do Sudeste ao Sul, é símbolo da mata brasileira. Pouco cultivada hoje, apesar de protegida por lei. Exige espaço, mas contribui para a biodiversidade.
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Pitangueira – Presente do Alagoas ao Rio Grande do Sul, é frutífera, pode ser plantada em vasos e atrai pássaros.
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Banana-de-Macaco – Originária do Cerrado e da Mata Atlântica, tolera ventos e geadas, precisa de pouca água e vai bem até à sombra.
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Adubos orgânicos – Substitua adubos químicos por húmus de minhoca e compostos naturais.
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Tenha uma composteira – Produza seu próprio adubo e reduza o lixo doméstico com uma composteira caseira.
O paisagismo regenerativo é uma prática que conecta beleza, saúde, identidade e sustentabilidade. Não é apenas uma tendência: é uma forma de viver em harmonia com a terra.