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Projeto-piloto leva diagnóstico e tratamento da doença de Chagas ao Sertão

Projeto-piloto leva diagnóstico e tratamento da doença de Chagas ao Sertão - Reprodução
Com menos de 10% diagnosticados, a doença de Chagas se torna crônica, levando a complicações graves e mortes no Brasil  |   BNews Natal - Divulgação Projeto-piloto leva diagnóstico e tratamento da doença de Chagas ao Sertão - Reprodução
Ari Alves

por Ari Alves

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Publicado em 11/08/2025, às 19h04



Um protocolo inovador para o controle da doença de Chagas está sendo testado em uma das regiões com maior incidência da enfermidade no país, o Sertão do Pajeú, em Pernambuco.

A principal proposta é descentralizar o tratamento, permitindo que ele seja realizado na cidade onde o paciente vive. Hoje, o atendimento ainda depende de deslocamento para centros especializados, como a Casa de Chagas, no Recife, que concentra a maioria dos casos no estado.

O diagnóstico é um dos principais entraves. Isso porque, logo após a infecção, a doença não apresenta sintomas claros, passando despercebida até se tornar crônica e silenciosa. Com o tempo, pode provocar complicações graves, especialmente no coração, levando à morte de cerca de 4,5 mil pessoas por ano no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.

Quando identificada precocemente, o tratamento com medicamentos ajuda a evitar essas complicações.

Dados da Organização Panamericana da Saúde (Opas) mostram que menos de 10% das pessoas infectadas nas Américas recebem diagnóstico e menos de 1% passam por tratamento antiparasitário. O resultado é que muitos descobrem a doença apenas em estágio avançado. Por isso, o projeto-piloto recebeu o nome “Quem tem Chagas, tem pressa”.

Testes rápidos expõem realidade preocupante

Na primeira etapa, profissionais de saúde, estudantes e moradores das cidades pernambucanas de Triunfo e Serra Talhada participaram de ações educativas. Já na segunda fase, no fim de julho, cerca de mil pessoas foram submetidas a testes rápidos. O resultado revelou um cenário alarmante: 9% dos moradores testaram positivo para a doença. Para comparação, a média nacional varia de 2% a 5%, segundo o médico Wilson Oliveira, da Casa de Chagas, responsável pela iniciativa.

A gerente de Vigilância das Arboviroses e Zoonoses da Secretaria de Saúde de Pernambuco, Ana Márcia Drechsler, explica que o teste rápido é um dos pilares do projeto. Atualmente, casos suspeitos precisam ser confirmados por exame de sorologia no centro de referência, a até oito horas de carro das cidades. Esse exame leva até 45 dias para ficar pronto, enquanto o teste rápido oferece resultado em minutos. Ainda assim, por segurança, todos os casos positivos seguem para a confirmação sorológica.

A meta é descentralizar o diagnóstico e identificar os casos o mais cedo possível. Segundo Ana Márcia, se o projeto for bem-sucedido, haverá economia de tempo e de exames, já que apenas pacientes com resultado positivo no teste rápido farão a sorologia.

Tratamento mais próximo do paciente

Os testes usados na iniciativa são fabricados pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fiocruz (Biomanguinhos). A fase de tratamento começa em setembro para todos os casos confirmados. A proposta é que o atendimento seja feito próximo da residência do paciente, evitando deslocamentos longos. Wilson Oliveira destaca que isso facilita a adesão ao tratamento, que dura 60 dias.

No centro de referência, há pacientes que percorrem até 800 quilômetros para receber atendimento. Como cerca de 70% das pessoas infectadas não desenvolvem doença cardíaca ou apresentam formas pouco agressivas, o acompanhamento pode ser feito na atenção primária, que possui alta capacidade de resolução.

Uma doença ainda negligenciada

Causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, a doença de Chagas é transmitida principalmente pela picada do barbeiro contaminado. Também pode ocorrer por ingestão de alimentos infectados, transfusão de sangue ou da mãe para o bebê durante a gestação e o parto.

Segundo Wilson Oliveira, a enfermidade é negligenciada porque afeta majoritariamente populações pobres, sendo ao mesmo tempo consequência e causa da pobreza. Isso contribui para que seja pouco diagnosticada e tratada. Muitas pessoas descobrem a doença apenas no fim da vida, já debilitadas por complicações cardíacas ou digestivas.

A prevalência é maior em áreas rurais com habitações precárias, onde o barbeiro encontra abrigo em frestas e buracos. É comum a presença do inseto em regiões de mata, lavoura e criação de animais.

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