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Estudo revela números da violência contra meninas e mulheres no RN e ganha destaque em revista científica internacional

Gleidson Paulino, coordenador da COINE - Angleib Soares
Objetivo é provocar discussões para a elaboração de políticas públicas de forma a melhor a dinâmica de combate à violência contra meninas e mulheres  |   BNews Natal - Divulgação Gleidson Paulino, coordenador da COINE - Angleib Soares

Publicado em 30/06/2025, às 13h40   Anderson Barbosa



"Violência contra Meninas e Mulheres no Nordeste do Brasil: Uma Análise Integrada de Dados". Este é o tema de um estudo realizado por pesquisadores no Rio Grande do Norte com o objetivo de provocar discussões para a elaboração de políticas públicas de forma a melhor a dinâmica de combate à violência contra meninas e mulheres. Na semana passada, a propósito, o estudo ganhou notoriedade internacional ao ser publicado na Revista Pan-Americana de Saúde Pública, principal periódico científico e técnico da Organização Pan-Americana da Saúde.

A missão da revista é contribuir para a produção e disseminação de informação científica em saúde pública de relevância mundial, além de fortalecer os sistemas e melhorar a saúde dos povos das Américas. A publicação é gratuita para os autores e todos os manuscritos são de acesso aberto e gratuitos para os leitores. Clique AQUI e veja a íntegra do estudo.

O objetivo do trabalho foi integrar e analisar dados de saúde e segurança pública do estado do Rio Grande do Norte, na região Nordeste do Brasil, sobre violência contra meninas e mulheres. "Como é um estudo inovador, sem nunca antes ter tido essa integração de dados, foi de máxima importância e relevância essa publicação. Um orgulho para todo nós, com certeza. Esperamos agora provocar discussões para a elaboração de políticas públicas mais eficazes", destacou Gleidson Paulino, chefe da Coordenadoria de Informações Estatísticas e Análises Criminais (COINE) da Secretaria da Segurança Pública e da Defesa Social do Rio Grande do Norte, e um dos pesquisadores responsáveis pelo trabalho. 

Vítimas de violência no RN

"O estudo demonstra que, entre 2019 e 2021, foram identificadas 43.626 meninas e mulheres vítimas de violência no RN, revelando a predominância dos registros no sistema de segurança (83,5%) e uma integração mínima entre os setores de saúde e segurança (apenas 0,4% dos casos). A violência física foi mais registrada pela saúde, enquanto a psicológica concentrou-se nos boletins de ocorrência. Já a violência sexual, teve maior incidência em meninas de 0 a 9 anos. Os encaminhamentos foram documentados apenas no sistema de saúde, sendo majoritariamente intrasetoriais. No total, 149 mortes foram contabilizadas, com destaque para mulheres negras adultas, e causas externas, como suicídio e agressões, liderando entre os óbitos registrados pela saúde", acrescentou Paulino.

Necessidade de integração

Fátima Marinho, da Vital Strategies
Fátima Marinho, da Vital Strategies

"Somente 0,4% das vítimas notificadas pela saúde tiveram um Boletim de Ocorrência. Isso mostra a necessidade de integrar as informações de saúde e segurança pública para dar proteção as vítimas e prevenir novas violências. As crianças estão com encaminhamento falho, não são atendidas nas delegacias ou não chegam até lá. Precisa trazer a delegacia até a criança e proteger. Assim como está estamos revitimizando as crianças", ressaltou a pesquisadora Fátima Marinho, da Vital Strategies, organização global de saúde.

Evidências concretas

Denise Guerra Wingerter, subcoordenadora de Vigilância Epidemiológica da SEAP
Denise Guerra Wingerter, subcoordenadora de Vigilância Epidemiológica da SEAP

Denise Guerra Wingerter, subcoordenadora de Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde Pública do RN, destacou que a unificação dos dados entre os sistemas de saúde e segurança pública proporciona uma compreensão mais ampla e precisa da violência contra mulheres, crianças e pessoas idosas. Essa abordagem integrada, ainda segundo ela, permite a identificação de lacunas e padrões que dificilmente seriam percebidos a partir de uma única base de informações, fortalecendo a formulação de políticas públicas baseadas em evidências concretas. "Um dos principais avanços deste projeto é a cooperação estratégica entre as Secretarias Estaduais de Saúde e de Segurança Pública, que, ao atuarem de forma articulada, promovem respostas mais eficazes, integradas e humanizadas no enfrentamento da violência. Essa colaboração intersetorial representa um marco na construção de redes de proteção mais robustas e na garantia dos direitos das populações mais vulneráveis", pontuou.

Produto de extrema importância

Paola Costa, enfermeira da área técnica de Vigilância de Causas Externas da SESAP
Paola Costa, enfermeira da área técnica de Vigilância de Causas Externas da SESAP

“A publicação do artigo representa um produto de extrema importância, onde o linkage dos registros das bases de dados de sistemas de informação da saúde e da segurança pública permitem melhor descrever o cenário epidemiológico da violência contra a mulher no Estado do RN, reforça a importância do tema, e embasa a construção de políticas públicas voltadas à mulher em situação de violência", reforça Paola Costa, enfermeira da área técnica de Vigilância de Causas Externas da SESAP.

Mecanismos de inteligência

"O trabalho demonstra a importância da atuação intersetorial e com base em dados para o enfrentamento às violências contra mulheres e meninas. Integração de políticas e dados é um passo fundamental que os órgãos governamentais brasileiros precisam fazer para melhor compreender o fenômeno e proteger meninas e mulheres. Esperamos que a identificação das violências possa ser feita utilizando mais mecanismos de inteligência e que as medidas sejam realizadas de forma mais ágil e precoce, prevenindo o agravamento dos casos", concluiu Sofia Reinach, que também é pesquisadora Vital Estrategies e que também integra a equipe.

Resumo

Violência contra Meninas e Mulheres no Nordeste do Brasil: Uma Análise Integrada de Dados

É um estudo recentemente realizado no Rio Grande do Norte, e que integrou dados de saúde e segurança pública para entender melhor a dinâmica da violência contra meninas e mulheres. Os resultados mostram que a falta de integração entre os sistemas de saúde e segurança pública mascara a magnitude da violência contra esse grupo.

Principais Resultados

⦁ Foram identificadas 43.627 meninas e mulheres vítimas de violência entre 2019 e 2021.
⦁ A maioria dos casos (83,5%) foi registrada apenas nos boletins de ocorrência (BO) da polícia, enquanto 16,5% foram registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) da saúde.
⦁ A saúde registrou proporcionalmente mais casos de violência física e sexual, enquanto a segurança pública registrou mais casos de violência psicológica.
⦁ A análise dos óbitos mostrou que o grupo com registro no Sinan teve mais mortes por causas externas relacionadas à violência.

Conclusão

Existe um sub-registro da violência contra meninas e mulheres no Estado.
O estudo destaca a importância da integração de dados para reduzir o sub-registro e compreender melhor a violência contra meninas e mulheres, desenvolvendo estratégias eficazes e efetivas de prevenção. A falta de integração entre os sistemas de saúde e segurança pública leva a uma subnotificação dos casos de violência, o que dificulta a elaboração de políticas públicas para o fim da violência contra mulheres e meninas.

Recomendações

⦁ É necessário melhorar a integração entre os sistemas de saúde e segurança pública para obter uma visão mais completa da violência contra meninas e mulheres.
⦁ A qualidade e completude das informações são cruciais para a robustez dos estudos e para o desenvolvimento de políticas públicas eficazes.
⦁ A interoperabilidade entre diferentes áreas pode ser viabilizada por identificadores únicos, como registros civis.

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