Geral
Três pacientes canadenses chamaram atenção mundial ao recuperar a visão graças a uma cirurgia rara que implanta um dente no olho. O procedimento foi realizado no hospital Mount Saint Joseph, em Vancouver, pelo médico australiano Greg Moloney, e é conhecido como osteo-odonto-queratoprótese.
Inventada em 1960 pelo oftalmologista italiano Benedetto Strampelli e aprimorada por cirurgiões italianos e austríacos nos anos 2000, a técnica é recomendada apenas para pacientes com fundo de olho saudável, mas que sofreram danos graves na córnea.
Queimaduras químicas ou reações autoimunes são exemplos de casos em que o procedimento é indicado.
“É como trocar um para-brisa estragado de um carro”, explicou Moloney ao programa The Today Show, da NBC. O dente funciona como suporte para uma lente artificial, e por ser tecido do próprio paciente, não é rejeitado pelo corpo.
O médico Greg Moloney, cirurgião responsável pelo implante de dente-no-olho
Imagem: Divulgação/Mount Saint Joseph Hospital
Na primeira etapa, um canino superior saudável é removido da boca do paciente. O dente é serrado, polido e perfurado no meio para receber futuramente a lente. Em seguida, ele é implantado em uma “bolsa de gordura” na bochecha por três meses, período em que o corpo forma um tecido ao redor, criando uma espécie de âncora biológica.
Após esse período, o dente é retirado da bochecha, recebe a lente e é costurado dentro do olho. O procedimento, como no caso da paciente Gail Lane, pode durar cerca de cinco horas. Esse método é usado apenas quando transplantes de córnea não funcionam ou não são viáveis por problemas de saúde, como condições autoimunes.
O “dente-no-olho” é extremamente raro. Estima-se que apenas algumas centenas de cirurgias tenham sido realizadas em 65 anos, segundo Moloney. Apesar disso, o resultado é duradouro: 90% dos pacientes mantêm lentes firmes e funcionais por até 30 anos.
O dente já com a lente
Imagem: Divulgação/Greg Moloney/Providence Health Care
Brent Chapman, um dos pacientes, já passou por 10 transplantes de córnea sem sucesso, mas recuperou visão parcial no olho afetado.
Ele sofreu a Síndrome de Stevens-Johnson aos 13 anos, ficando em coma por 27 dias, e é irreversivelmente cego de um olho. Com a cirurgia, Brent tem agora 50% a 67% de chance de manter a visão conquistada nos próximos 30 anos.
A técnica oferece uma alternativa única para cegos que ainda têm retina e nervo óptico saudáveis, permitindo recuperar a visão quando todas as outras opções falharam.
Moloney compara o procedimento a “plantar um cacto no deserto”: o dente sobrevive e se adapta, tornando-se a base firme que sustenta a lente e devolve a luz aos pacientes.
Brent Chapman, em seu pós-operatório
Imagem: Divulgação/Mount Saint Joseph Hospital
Classificação Indicativa: Livre