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A reabilitação precisa ocupar o centro do cuidado em demência. Essa é a principal mensagem do Relatório Mundial de Alzheimer 2025, divulgado pela Alzheimer’s Disease International (ADI) durante a campanha Setembro Lilás.
O documento reúne evidências científicas e aponta que, mesmo reconhecida pela ONU e pela Organização Mundial da Saúde como direito das pessoas com demência, a reabilitação ainda é pouco incorporada às políticas públicas e às práticas clínicas.
O lançamento ocorreu na última quinta-feira (18), com apoio de entidades internacionais e brasileiras, entre elas a Federação Brasileira das Associações de Alzheimer (Febraz).
A proposta é mudar a perspectiva sobre o pós-diagnóstico, garantindo que pessoas com demência tenham acesso a intervenções que favoreçam a autonomia em atividades cotidianas, como se vestir, caminhar com segurança ou manter a vida social.
Segundo a ADI, a reabilitação deve ser entendida como uma jornada conjunta, que envolve a pessoa diagnosticada, a família e uma equipe multiprofissional. A abordagem não deve ser feita “para” o paciente, mas sim “com” ele, respeitando desejos e necessidades individuais.
O relatório foi coordenado pela Universidade de Exeter, no Reino Unido, e propõe um modelo de cuidado baseado em planos de ação personalizados. O processo começa com uma avaliação ampla das capacidades cognitivas e funcionais, seguida da definição de metas alinhadas ao que é relevante para cada pessoa.
Esses objetivos orientam intervenções que devem ser constantemente revisadas e ajustadas.
Entre os exemplos reunidos no estudo estão casos clínicos que comprovam o impacto das terapias não farmacológicas. A proposta inclui psicoterapia, estimulação cognitiva, grupos de apoio e estratégias práticas, como uso de lembretes visuais, organização de ambientes e simulações de tarefas diárias.
As evidências mostram que, quando aplicadas, essas medidas ajudam não apenas a preservar habilidades, mas também a reduzir o estresse de familiares cuidadores. A reabilitação, segundo a ADI, fortalece vínculos sociais e amplia a participação das pessoas em atividades significativas.
No Brasil, o relatório deu visibilidade ao Programa de Extensão em Psiquiatria e Psicologia da Pessoa Idosa da Universidade Federal de Minas Gerais. Há oito anos, a iniciativa oferece terapias não medicamentosas de baixo custo, envolvendo práticas colaborativas com idosos e familiares.
Um dos casos relatados é de um homem de 77 anos, diagnosticado com Alzheimer em estágio inicial. Graças ao plano de reabilitação, ele recuperou autonomia em atividades como fazer a barba, cuidar do quintal e varrer a casa.
A participação em grupos possibilitou melhora na comunicação e até retomada da espiritualidade, que voltou a ocupar papel central em sua rotina.
Outro exemplo brasileiro vem do Instituto Não Me Esqueças, em Londrina (PR), que atende atualmente 130 famílias com oficinas de memória, musicoterapia e atividades de convivência.
A presidente da Febraz, Elaine Mateus, afirma que os resultados confirmam na prática o que a ciência já comprova: com recursos simples e apoio adequado, é possível manter habilidades, ampliar a autonomia e reduzir o estresse.
A ADI e a Febraz defendem que a reabilitação seja parte obrigatória do cuidado no pós-diagnóstico, incluída em planos nacionais de saúde e acompanhada por formação profissional. Também ressaltam que a adoção dessas práticas traz benefícios econômicos.
Atualmente, os custos globais relacionados às demências somam trilhões de dólares e podem atingir a marca de US$ 2,8 trilhões por ano até 2030. Para as entidades, investir em reabilitação é otimizar o uso dos recursos disponíveis e garantir qualidade de vida para milhões de pessoas em todo o mundo.
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