Geral
por Ari Alves
Publicado em 01/08/2025, às 21h36
Uma decisão inédita do governo brasileiro está chamando a atenção da comunidade diplomática global. Pela primeira vez, dois oficiais generais das Forças Armadas brasileiras foram designados para atuar como representantes permanentes na China. A presença oficial do Exército e da Marinha em solo chinês foi formalizada pelo Decreto nº 12.480, publicado em 2 de junho de 2025, e deve fortalecer o vínculo entre os dois países.
Os militares brasileiros atuarão como adidos de defesa junto ao governo de Xi Jinping. Embora esse tipo de cooperação militar não seja novo no mundo, o nível de representação adotado pelo Brasil é inédito e carrega implicações políticas importantes. A movimentação foi interpretada como um marco na política externa do país, refletindo a intenção do governo Lula de diversificar seus alinhamentos estratégicos.
Mais do que apenas um gesto protocolar, essa nova representação deve ser lida em conjunto com outras iniciativas recentes. Entre elas estão os estudos para criar um sistema de navegação por satélite independente, a intensificação do relacionamento dentro do bloco Brics e o avanço de empresas chinesas em setores estratégicos, como o agronegócio brasileiro.
Sinais de tensão com os Estados Unidos
A oficialização dos militares em Pequim acontece em meio ao agravamento das tensões diplomáticas com os Estados Unidos. Segundo informações da inteligência americana, a CIA iniciou uma apuração sobre a influência crescente da China no setor agrícola do Brasil. A suspeita gira em torno da possibilidade de que o território brasileiro esteja sendo usado como uma via alternativa para ampliar o alcance estratégico de Pequim no embate global com Washington.
Essa conjuntura tem levado analistas militares e diplomatas a apontar uma mudança sensível na postura do Brasil em relação às grandes potências. O gesto, embora simbólico à primeira vista, tem sido visto como um reposicionamento do país no tabuleiro da chamada nova guerra fria. A presença de oficiais generais em território chinês pode servir de gatilho para respostas econômicas ou políticas por parte dos norte-americanos.
Tradicionalmente, a diplomacia militar brasileira manteve vínculos muito mais sólidos com os EUA. Dados da revista Sociedade Militar mostram que, entre 2018 e 2025, o Exército Brasileiro realizou 74 exercícios conjuntos com os americanos. Para comparação, as interações com México, Canadá, Guatemala e Honduras somaram, juntos, menos de 40 exercícios nesse mesmo período.
Nova configuração global
Além dos dois oficiais generais, a comitiva brasileira em Pequim contará com três oficiais superiores designados como adjuntos e adido aeronáutico. A escolha de um general do Exército e de um almirante da Marinha para compor essa missão reforça a aposta em um novo perfil de atuação internacional. Nem mesmo países aliados históricos, como a Inglaterra, que vendeu ao Brasil diversos navios de guerra, contou com uma representação militar brasileira desse nível.
A medida pode ter sido estratégica para consolidar a parceria com a China em áreas como defesa, tecnologia e segurança. Mas também representa uma quebra de tradição. Até o momento, apenas os Estados Unidos haviam recebido oficiais generais brasileiros como adidos militares.
O movimento do governo brasileiro é, portanto, mais do que simbólico. É uma sinalização clara de que o país busca ampliar seus canais de influência, mesmo que isso implique em rever antigas alianças e correr o risco de retaliações em um cenário geopolítico cada vez mais tenso.
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