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Publicado em 09/07/2025, às 20h03 BNews Natal
Um levantamento recente revelou que 34,4% dos apostadores entrevistados terão de interromper os gastos com apostas esportivas para ingressar em um curso de nível superior no início de 2026.
Segundo o diretor-geral da Abmes, Paulo Chanan, esse resultado evidencia uma tendência preocupante, especialmente quando comparado aos dados da primeira edição do estudo, publicada em setembro de 2024.
Ele destacou que o fenômeno está se aprofundando e afetando, sobretudo, jovens das classes C e D. Trata-se de uma realidade relativamente recente no Brasil, que ainda demanda amadurecimento por parte da sociedade e uma regulação mais eficaz por parte do poder público, conforme declarou à Agência Brasil.
Quem respondeu à pesquisa
Na segunda edição do levantamento, foram realizadas 11.762 entrevistas entre os dias 20 e 24 de março. A partir dessas entrevistas, 2.317 pessoas responderam o questionário completo.
O estudo concentrou-se em jovens de 18 a 35 anos, residentes nas cinco regiões do país e pertencentes a todas as classes sociais. O perfil dos apostadores permaneceu semelhante ao verificado na primeira edição, conduzida pela Educa Insights em setembro de 2024:
85% são homens
85% trabalham
72% têm filhos
38% pertencem à classe B; 37%, à classe C
79% têm como fonte principal de renda o salário do trabalho
40% estão na faixa de 26 a 30 anos; 30%, entre 31 e 35 anos
Impacto entre os que já cursam o ensino superior
A pesquisa, intitulada O Impacto das Bets 2, revelou que, entre os apostadores que já estão matriculados em instituições de ensino superior, 14% atrasaram mensalidades ou trancaram o curso em função dos gastos com apostas.
Entre aqueles que iniciaram a graduação em faculdades particulares, 35% afirmaram que precisarão interromper os gastos com apostas online.
Com base nos dados do Censo da Educação Superior de 2023, a entidade que representa o setor privado estima que 986.779 estudantes poderão ser diretamente impactados pela prática de apostas virtuais em 2026.
O diretor Paulo Chanan destacou o dado mais alarmante em relação ao futuro. Segundo ele, a projeção aponta que quase 1 milhão de possíveis novos alunos da rede privada podem deixar de efetivar matrícula no ensino superior devido ao comprometimento financeiro com apostas e jogos online.
Frequência e valores apostados
O estudo também indicou que apostar faz parte da rotina de metade dos entrevistados. Entre os que têm esse hábito, a frequência média varia de uma a três vezes por semana. Desses, 41% vivem na região Sudeste e 40% no Nordeste.
Em setembro de 2024, 30,8% dos entrevistados afirmaram ter gastado mais de R$350 com apostas. Já na edição de 2025, esse número subiu para 45,3%.
Ao serem questionados sobre a possibilidade de recuperar total ou parcialmente o valor gasto, 30,3% disseram, em 2024, que não conseguiram reaver os recursos. Em abril de 2025, esse índice caiu para 22,9%.
Daniel Infante, diretor do instituto Educa Insights, comparou os dados recentes aos da primeira edição do estudo. Ele afirmou que o mercado educacional passou a competir diretamente com as apostas pelo orçamento dos potenciais alunos.
Para ele, essa nova realidade, somada às mudanças regulatórias em andamento, pode causar impacto significativo no ensino superior privado brasileiro, conforme declarou à Agência Brasil.
Outros efeitos do comprometimento financeiro
Além das consequências no acesso e na permanência no ensino superior, o estudo mostrou que, entre os afetados pelas perdas financeiras causadas pelas apostas em abril de 2025:
28,5% deixaram de frequentar restaurantes, bares ou sair com amigos
23,6% interromperam investimentos em academia ou atividades físicas
20,9% deixaram de investir em cursos, idiomas ou outras formas de aprendizado
Caminhos possíveis para enfrentar o problema
A Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior não se posiciona contra a regulamentação do setor, mas defende a implementação de limites, controle e políticas públicas de conscientização.
Para Paulo Chanan, o enfrentamento dos impactos das apostas deve ser baseado em responsabilidade e dados, com discussões nos fóruns educacionais e políticos. Segundo ele, a solução precisa ser multissetorial.
A entidade também aponta a necessidade de campanhas educativas voltadas à conscientização sobre os riscos do uso excessivo dessas plataformas. Essas ações devem atingir diferentes setores da sociedade, inclusive as instituições particulares de ensino.
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