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por Ari Alves
Publicado em 01/08/2025, às 21h14
Nem todo desabafo online é inofensivo. Para muitas pessoas, compartilhar sentimentos nas redes sociais pode parecer um alívio imediato, especialmente quando não se encontram espaços seguros de escuta na vida real.
A psicóloga Débora Porto, de Brasília, explica que registrar emoções, seja por meio da escrita ou da fala, pode funcionar como uma catarse e ajudar a liberar sentimentos reprimidos.
Contudo, essa abertura pública nem sempre é benéfica. Ela ressalta que, embora esse tipo de exposição traga uma sensação de autenticidade e proximidade com quem acompanha, também pode interferir no processo de luto emocional.
Segundo Débora, o luto precisa de tempo, introspecção e, muitas vezes, privacidade para ser bem elaborado. Ao tornar a dor um conteúdo, a pessoa se coloca em risco de julgamentos e pressões externas, o que pode reabrir feridas constantemente.
Superexposição digital
A psiquiatra Vanessa Greghi, diretora médica do Instituto de Psiquiatria Paulista (IPP), reforça que a exposição emocional nas redes pode ter efeitos profundos. “Tornar público um término ou uma perda pode agravar quadros de depressão e ansiedade. O excesso de estímulo ativa um estado de alerta, fazendo com que a pessoa reviva o sofrimento repetidamente”, explica.
Esse cenário pode desencadear uma série de reações adversas, como insônia, ataques de pânico e até episódios depressivos. Adolescentes, por estarem mais suscetíveis ao bullying e à influência das redes, são ainda mais vulneráveis.
Além disso, o contraste com os conteúdos idealizados que circulam nas redes sociais pode intensificar a dor. Imagens de casais felizes e frases sobre superação tornam-se gatilhos para quem está emocionalmente abalado.
A comparação com um padrão idealizado de amor e felicidade tem efeitos diretos na autoestima. “A pessoa não sofre só pelo fim do relacionamento, mas por se comparar a algo inalcançável. Isso pode gerar retraimento social, ansiedade e atitudes impulsivas, como reatar o relacionamento ou vasculhar obsessivamente a vida do ex-parceiro”, comenta Débora.
Curtidas não curam
Apesar de, num primeiro momento, as curtidas e comentários parecerem um alento, eles também escondem armadilhas emocionais. A psicóloga destaca que, embora as mensagens possam motivar a busca por ajuda, existe o risco de desenvolver uma dependência emocional da validação online. Quando a interação diminui, a dor tende a retornar com mais intensidade.
Outro ponto sensível são os comentários que reforçam visões simplistas ou pouco empáticas, dificultando um processo saudável de luto, que envolve ambivalência emocional, como raiva, tristeza e dúvidas.
Vanessa lembra que, nesses períodos, a capacidade de julgamento fica comprometida. “O sistema psíquico está fragilizado. Isso compromete a tomada de decisões e pode levar a publicações das quais a pessoa se arrependa depois”, alerta a psiquiatra.
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