Cidades
Uma nova opção para tratar a insônia deve chegar em breve ao mercado brasileiro. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou recentemente o lemborexante, comercializado como Dayvigo pela farmacêutica japonesa Eisai.
O medicamento possui mecanismo de ação inovador, atuando em um sistema cerebral diferente dos remédios tradicionais e com menor risco de dependência.
Pesquisadores da Universidade de Oxford avaliaram 36 alternativas para insônia e elegeram o lemborexante como o fármaco com melhor perfil de eficácia, tolerabilidade e aceitabilidade, publicado na revista científica The Lancet.
Diferencial em relação aos tratamentos tradicionais
Enquanto benzodiazepínicos e as chamadas drogas Z (como zolpidem) agem estimulando o neurotransmissor GABA para induzir o sono, o lemborexante bloqueia receptores da hipocretina, substância que mantém o estado de vigília.
A grosso modo, ele impede o que nos mantém acordados, ao contrário de outras classes que ‘desligam’ o cérebro”, explica Lucio Huebra, neurologista do Hospital Sírio-Libanês.
Esse mecanismo inovador foi desenvolvido a partir de estudos sobre narcolepsia, doença em que a falta de hipocretina causa sono repentino. O bloqueio desses receptores permite induzir o sono sem alterar completamente a atividade cerebral.
Uso e posologia
A dose recomendada é de 5 mg, uma vez por noite, alguns minutos antes de dormir, com intervalo mínimo de 7 horas até despertar. Em alguns casos, a dose pode ser ajustada para 10 mg, conforme resposta clínica e tolerabilidade. A aprovação da Anvisa é limitada a adultos.
Nos Estados Unidos, onde o lemborexante foi aprovado em 2019, a caixa com 30 comprimidos custa em média US$ 300 (aproximadamente R$ 1.600). No Brasil, o preço ainda depende de definição da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
Perfil de segurança e dependência
Especialistas destacam que o lemborexante apresenta baixo risco de dependência, diferentemente dos benzodiazepínicos, que, apesar de eficazes, podem causar déficit cognitivo, dependência e complicações graves quando combinados com álcool.
O lemborexante mantém a arquitetura do sono preservada e reduz risco de insônia rebote ao suspender a medicação”, afirma Alexandre Pinto de Azevedo, psiquiatra do Hospital das Clínicas da USP.
Entre alternativas mais antigas, a eszopiclona também se destaca por menor risco de dependência, sendo considerada pela maioria das diretrizes internacionais como outra opção segura para insônia crônica.
Tratamento da insônia: medicação não é o primeiro passo
Dados da Associação Brasileira do Sono (ABS) mostram que 2 a cada 3 brasileiros apresentam dificuldades para dormir. A terapia não farmacológica é prioridade: prática de exercícios, higiene do sono, redução de estímulos (como telas e cafeína), ajustes ambientais e Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCC-I) são consideradas padrão-ouro.
Medicamentos são indicados quando o sono é insuficiente (<6 horas), há prejuízos funcionais e a terapia convencional não é eficaz. Sempre deve-se usar a menor dose possível, pelo menor tempo necessário, sob supervisão médica.
Expectativa para o mercado brasileiro
A Eisai informou que está preparando o lançamento do lemborexante no Brasil, sem data definida, mas com expectativa de disponibilizá-lo em breve.
Para pacientes com insônia crônica, a novidade representa uma alternativa eficaz e mais segura, com mecanismo inovador que age diretamente no que mantém o cérebro desperto, sem os riscos clássicos de dependência dos tratamentos tradicionais.
Classificação Indicativa: Livre