Cidades
A segunda maior cidade do Rio Grande do Norte, Mossoró, entra para a infinita vitrine digital com uma polêmica envolvendo saúde, estética e talvez, para muitos, doses de preconceito.
Uma postagem feita pelo médico endocrinologista e nutrólogo, Dr. Kítaro, vem causando fervor nas redes e repercutindo negativamente por onde passa.
O médico, que se apresenta como especialista em emagrecimento e performance esportiva, traça no vídeo publicado no instagram, com mais de 100 mil seguidores, um perfil de sucesso no meio social e profissional, condicionando que pessoas magras conseguiriam ter maior desenvoltura e poder de alcance na sociedade e nos negócios em geral.
Confira algumas das frases destacadas do vídeo gravado e postado pelo médico:
“Se você quer fazer parte do meio e andar com uma galera selecionada, se estiver acima do peso eles não vão te aceitar”.
“Mulher magra não gosta de mulher gorda”.
“Sobrepeso é sinal de desleixo”.
“No mundo dos negócios, gente gorda e feia não se desenvolvem”.
“Se quiser se enquadrar, tem que seguir os termos — goste ou não”.
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Um dos blogs de Natal que trouxe o assunto para a pauta é comandado pelo jornalista Dinarte Assunção; para ele a questão se trata de "marketing da magreza travestido de verdade social”.
O jornalista ainda traz o fato de que a maneira como Dr. Kítaro impõe a estética pode reforça o preconceito e "empurrar as pessoas para transtornos alimentares", afastando os pacientes do consultório.
Para os pacientes interessados nas estratégias desenvolvidas por Dr. Kítaro, que atende tanto no Rio Grande do Norte quanto na zona sul de São Paulo, a consulta não sai por menos de R$700 e a mensagem recebida pelo atendimento via WhatsApp diz que o momento exclusivo com o médico engloba:
Diagnosticar e tratar doenças nutricionais, como diabetes, hipertensão ou obesidade. Identificar maus hábitos alimentares ou de vida, orientando o paciente sobre a relação deles com o seu estado de saúde".
Na descrição da consulta, o Dr. Kítaro promete prescreve protocolos injetáveis, manipulados e também implante hormonal, mediante exames de sangue e conversa.
Na postagem feita pelo jornalista Dinarte sobre o caso, os internautas se dividiram nos comentários; muitos consideram que o médico disse o que muitos gostariam de dizer, mas não podem, por não ser "politicamente correto". E outros, condenam a posição do especialista.
Veja alguns comentários que estão na publicação:
Os que acreditam que o médico está certo
"Já fui obesa! E vivi isto na pele. E pra mim ele só falou o que ninguém tem coragem de dizer; infelizmente essa é a realidade"
"Parabéns pelo posicionamento sincero e verídico"
"Pior que ele tá certíssimo"
Os que acreditam que o médico erra ao transmitir essa ideia
"No tutorial de hoje: como perder a credibilidade… Porque essa fala é desumana"
"Isso tem comprovação científica ou é só uma mera opinião? E absurda, diga-se de passagem"
"Taí exemplo de caráter raso, bizarro e sem noção em base acadêmica!"
Já o médico se defendeu em um dos comentários: "Sou eu a pessoa. Não falei isso, está distorcido aí. Apenas falei que era uma realidade da sociedade que poucos tem coragem de falar. Ter coragem de debater o tema não significa concordar com ele".
Gordofobia no Brasil: como a Justiça já pune casos de discriminação
Apesar de ainda não existir uma lei que tipifique a gordofobia como crime no Brasil, atos discriminatórios contra pessoas gordas já encontram respaldo em diferentes esferas do Judiciário.
Dependendo da situação, a conduta pode ser enquadrada como injúria, gerar indenizações por danos morais ou até mesmo resultar em condenações trabalhistas.
Além disso, há um projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional que pretende incluir a discriminação por condição corporal na Lei de Crimes Raciais (Lei nº 7.716/1989), ampliando o alcance das punições.
Como a gordofobia pode ser punida hoje
1. Esfera Penal
Ofensas, insultos ou xingamentos ligados ao peso de alguém podem configurar crime de injúria, previsto no Artigo 140 do Código Penal Brasileiro.
2. Esfera Cível
Vítimas podem entrar na Justiça pedindo indenização por danos morais, já que a gordofobia fere a honra e a imagem da pessoa.
3. Esfera Trabalhista
No ambiente corporativo, a prática pode gerar ações trabalhistas e resultar em condenações contra empresas. Em um caso recente, uma vendedora de bijuterias recebeu R$ 50 mil de indenização após sofrer discriminação por seu peso.
O que muda com o projeto de lei
A proposta que tramita no Congresso quer enquadrar a gordofobia na Lei de Crimes Raciais.
Se aprovada, a punição para quem praticar, induzir ou incitar discriminação por condição corporal será de um a três anos de prisão, além de multa.
A questão na prática
Mesmo sem legislação específica, a Justiça brasileira já reconhece que atos gordofóbicos não são “mimimi”, mas sim formas de violência que podem e devem ser punidas.
Cada vez mais casos chegam aos tribunais e têm decisões favoráveis às vítimas, reforçando a importância de denunciar situações de preconceito.
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