Política
Publicado em 18/08/2025, às 13h53 Foto: Diogo Zacarias/MF Giovana Gurgel
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (18) que as negociações tarifárias entre Brasil e Estados Unidos não avançam porque Washington insiste em impor ao Brasil uma solução considerada “constitucionalmente impossível”, isto é, legalmente inviável.
Segundo Haddad, a cobrança de uma tarifa de 50% sobre diversos produtos brasileiros, aplicada pelo governo de Donald Trump no início do mês, está travando o diálogo. A justificativa americana para o tarifaço foi a suposta “caça às bruxas” enfrentada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro no Judiciário.
No evento promovido pelo Times Brasil e pelo Financial Times, o ministro explicou que o Executivo não pode interferir em assuntos do Poder Judiciário, como querem os Estados Unidos. Ele ressaltou que o Brasil está aberto a negociações, mas que Washington não tem demonstrado disposição.
Haddad avaliou que o comércio entre os dois países já não possui o mesmo peso de anos anteriores e deve diminuir ainda mais. “Hoje o comércio com os EUA representa metade do que representava no começo do século e, pelo andar dos acontecimentos, acredito, infelizmente, que vai cair ainda mais”, declarou.
O ministro, contudo, afirmou que não vê o impasse se arrastando por anos e destacou que Brasil e Estados Unidos têm grande potencial de parceria. O governo Lula, segundo ele, seguirá tentando avançar em cooperações bilaterais.
Enquanto isso, o Planalto anunciou medidas para apoiar empresas brasileiras atingidas pelo tarifaço. Entre elas estão a criação de uma linha de crédito de R$ 30 bilhões, o adiamento de impostos e a redução de tributos sobre exportações, com alíquotas menores para grandes, médias, pequenas e microempresas.
Além do pacote de apoio, o governo deve enviar a Washington um relatório detalhando investigações sobre áreas financeira, comercial, digital, ambiental, combate à corrupção e propriedade intelectual.
A resposta brasileira ocorre após os EUA abrirem investigação com base na Seção 301 da Lei de Comércio, que chegou a incluir o PIX e até o comércio popular da Rua 25 de Março, em São Paulo, no radar das autoridades.
Haddad reforçou que o objetivo é manter canais diplomáticos ativos, mas sem abrir mão de princípios constitucionais. “As negociações só não ocorrem porque os Estados Unidos estão tentando impor ao Brasil uma solução impossível”, disse.
Além das tarifas, o ministro foi questionado sobre o compromisso do governo com a meta fiscal. Ele garantiu que o arcabouço aprovado em 2023 será respeitado este ano e também em 2026. “Cumprimos no ano passado, vamos cumprir este ano e no próximo”, assegurou.
A meta fiscal é o compromisso de equilibrar receitas e despesas públicas, apontando se haverá superávit, déficit ou equilíbrio. Haddad destacou que, apesar da descrença inicial, o país cresceu, aumentou a renda e saiu do Mapa da Fome. “Tudo isso é resultado de decisões complexas que tivemos que tomar”, disse.
O ministro reconheceu, no entanto, as dificuldades para reduzir gastos diante de um orçamento engessado por despesas obrigatórias, como aposentadorias, salários, benefícios sociais e transferências a estados e municípios, que só podem ser alteradas com aprovação do Congresso.