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Publicado em 22/07/2025, às 13h26 Reprodução/Freepik BNews Natal
O Brasil exportou, em 2024, 2,89 milhões de toneladas de carne bovina, movimentando US$ 12,8 bilhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
Do total, 229 mil toneladas foram adquiridas pelos Estados Unidos, com valor superior a US$ 1,35 bilhão. A maior parte dos embarques atende à indústria alimentícia norte-americana, com destaque para cortes de dianteiro, como peito, paleta, acém e costela, usados em hambúrgueres, embutidos e pratos congelados.
Mesmo após a abertura parcial do mercado americano à carne bovina in natura brasileira em 2020, o produto segue posicionado como commodity. Isso ocorre por questões estruturais: a percepção do consumidor americano sobre o gado brasileiro e as diferenças no padrão de produção entre os dois países.
Enquanto os Estados Unidos privilegiam gado confinado, o Brasil se destaca pelo modelo de criação a pasto, sem hormônios, com menor teor de gordura e melhor custo-benefício.
O modelo encaixa-se perfeitamente na lógica industrial dos EUA, que substituem parte da produção interna, mais cara, pela proteína brasileira, mantendo a carne premium local para exportações de alto valor agregado — especialmente para Europa, Japão e Coreia do Sul.
Entraves tarifários limitam avanço, mas cenário pode mudar
Apesar do desempenho positivo, o Brasil ainda enfrenta barreiras significativas. A cota isenta de tarifa para exportação de carne bovina aos Estados Unidos é inferior a 1% da capacidade de importação do país. Qualquer volume acima desse teto sofre tarifa de 26,4%, o que afeta diretamente a competitividade brasileira frente a países como Austrália, México e Uruguai, que têm acordos mais vantajosos com o mercado americano.
Além das restrições tarifárias, o setor também sente os impactos de uma conjuntura política instável. No entanto, especialistas avaliam que essas barreiras são momentâneas. Uma eventual reconfiguração do governo norte-americano pode abrir caminho para renegociações mais favoráveis ao agronegócio brasileiro, especialmente em relação às cotas e tarifas.
Enquanto isso, os pecuaristas devem mirar o segmento industrial, onde há alta demanda e valorização por carne de dianteiro. Trata-se de uma reconfiguração de percepção: não se busca competir com carnes nobres nos restaurantes americanos, mas sim ocupar um espaço essencial na cadeia produtiva alimentícia dos EUA.
Três pilares para conquistar o mercado americano
Para aproveitar plenamente o potencial norte-americano, o setor precisa investir em três frentes fundamentais:
O Brasil tem o rebanho, a experiência e a estrutura para liderar esse processo. Mais do que exportar carne, a missão é consolidar uma posição estratégica na cadeia global de proteína. E os Estados Unidos, mesmo com os desafios atuais, continuam sendo um dos mercados mais promissores para quem enxerga além da porteira.