Geral
Publicado em 03/07/2025, às 10h30 Foto: Kunal Patil/Hindustan Times/Getty Images. Redação
O dalai-lama, Tenzin Gyatso, irá discursar nesta semana para mais de cem líderes budistas no maior encontro do tipo desde 2019, dias antes de completar seus 90 anos.
Em seu discurso, os seguidores esperam que ele dê sinais sobre sua sucessão , tema que incomoda a China, que o vê como separatista e quer controlar a escolha de seus herdeiros espirituais.
Dalai-lama é um título, não um nome. Ele é atribuído à pessoa que no budismo tibetano seria a reencarnação do Buda da Compaixão, em uma linhagem iniciada em 1391.
Exilado na Índia desde 1959, o líder tibetano já disse que sua próxima encarnação poderá nascer fora da China. Autoridades do Tibete em exílio acusam Pequim de tentar usar uma tradição para fins políticos.
Histórico de repressão
O religioso já tinha indicado que só falaria sobre sua sucessão quando chegasse aos 90. Isso porque, da última vez que apontou a reencarnação do panchen-lama, responsável por identificar sua nova forma, Pequim aprisionou uma criança, e ela e seus pais nunca mais foram vistos em público.
Em geral, as discussões sobre a reencarnação não costumam ocorrer enquanto um monge ainda está vivo, mas os seguidores de Gyatso alertam sobre a necessidade de fazê-lo agora devido às alegadas concentrações de interferência do governo.
O evento dele acontecer neste sábado (5), um dia antes do aniversário do monge. Na plateia já estão confirmados artistas convidados como o ator Richard Gere e o ministro para assuntos parlamentares indianos, Kiren Rijiju.
Por que é importante?
A sucessão do Dalai-lama assusta a comunidade internacional porque o pacote de poder ou tentativas burocráticas do Partido Comunista em escolher uma reencarnação por conta própria pode desencadear protestos em massa no Tibete.
Sabendo do risco, Gyatso vem apresentando fidelidade para a morte e, desde 2011, admite ter na liderança do seu povo um governador democraticamente eleito, o que consolidaria uma tradição de 368 anos em que o dalai-lama ocupava a carga de chefe político e espiritual dos tibetanos.
Como se escolhe um Dalai Lama?
Os budistas tibetanos acreditam que o Dalai Lama é a manifestação terrena de Avalokiteshvara, um ser espiritual e compassivo que permanece no mundo para guiar todos os outros no caminho da iluminação. Segundo a tradição, quando um Dalai Lama morre, renasce sob uma nova forma humana para continuar a sua missão de compaixão e liderança espiritual.
O homem que o mundo atualmente conhece como Dalai Lama nasceu como Lhamo Dhondup a 6 de julho de 1935 na aldeia de Taktser, onde hoje é a província chinesa de Qinghai.
Recebeu o título de 14º Dalai Lama após uma missão do governo tibetano que o identificou, quando tinha apenas dois anos, como a reencarnação do espírito de seu antecessor, Thubten Gyatso.
A identificação baseou-se em diversos sinais, como uma visão de um monge experiente e a identificação pela criança de objetos que pertenceram a Gyatso. Lhamo Dhondup foi entronado no inverno de 1940 no Palácio de Potala, em Lhasa, capital do Tibete, e oficialmente declarado líder espiritual dos tibetanos, adotando o nome Tenzin Gyatso.
A tarefa de encontrar a reencarnação do próximo Dalai Lama será assumida pela Fundação Gaden Phodrang, criada por Tenzin Gyatso em 2015, a qual tem por missão promover os valores humanos básicos, a compreensão mútua entre religiões, a paz e a não violência, e a proteção do meio ambiente.
A entidade visa ainda preservar a cultura tibetana e apoiar o povo tibetano, mas também outras pessoas necessitadas, independentemente de nacionalidade, religião e origem.