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Dispositivo odontológico da UFRN traz mais precisão ao diagnóstico em tratamentos complexos

Com aplicação em diversas áreas da odontologia, novo dispositivo promete precisão na avaliação estética e funcional dos dentes  |  Dispositivo odontológico da UFRN traz mais precisão ao diagnóstico em tratamentos complexos - Reprodução

Publicado em 14/08/2025, às 18h58 - Atualizado às 19h29   Dispositivo odontológico da UFRN traz mais precisão ao diagnóstico em tratamentos complexos - Reprodução   Ari Alves

Um novo dispositivo para a área odontológica, de fácil manuseio e utilização, custo baixo e alta reprodutibilidade, foi objeto de pedido de patente no mês de junho por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Com ele, é possível medir a quantidade de dente anterior que fica exposto em uma posição que os profissionais chamam de repouso — posição representada pelos músculos da face relaxados, com os dentes sem contato.

A professora Adriana da Fonte Porto Carreiro, orientadora do projeto que resultou na invenção, explica que o dispositivo pode ser utilizado em todas as áreas odontológicas que tenham interesse em mensurar com precisão a exposição da coroa dos dentes incisivos superiores ou inferiores, já que, quando adaptado no dente, permite medir a quantidade de exposição de dentes anteriores.

“É um dispositivo intraoral, ou seja, usamos dentro da boca do paciente. Ele permite mensurar e acompanhar modificações faciais e dentárias, como as que ocorrem com o envelhecimento, que provocam a diminuição da exposição dos incisivos superiores e o aumento da exposição dos incisivos inferiores. Essa alteração, com o envelhecimento, transforma desde a oclusão até o sorriso”, pontua Adriana Carreiro.

A docente Hallissa Simplício, coorientadora do projeto, lista outro exemplo de aplicação nas áreas de Cirurgia e Ortodontia: nos casos de cirurgia ortognática, indicada para melhorar a função mastigatória, respiratória e a estética facial. Nessa situação, o planejamento da cirurgia é norteado pela posição dos dentes anteriores superiores, o que torna a mensuração essencial.

Outra situação é em casos de harmonização facial, em que o dispositivo é útil para o acompanhamento dos procedimentos estéticos faciais que alterem a posição dos lábios. Simplício frisa que o dispositivo consegue fornecer as informações para guiar o plano de tratamento e indicar a necessidade de correções da posição dos dentes, seja com procedimentos reabilitadores, com ortodontia ou com a combinação de especialidades.

Egressa do Programa de Pós-Graduação em Clínicas Odontológicas, do Departamento de Odontologia da UFRN, Marina Bozzini Paies acrescenta outros exemplos de aplicação do equipamento:

na reabilitação oral e na área de Dentística, onde pode justificar ajustes estéticos e quantificar o incremento necessário para tratamentos estéticos que sugerem a jovialidade do paciente, ou ainda na área acadêmica, possibilitando comparações precisas em pesquisas científicas clínicas, com padronização e alta reprodutibilidade.

“Parece fácil medir com precisão a exposição de dentes anteriores. A dificuldade está relacionada ao fato de que, com métodos convencionais, ao aproximarmos a régua ou o paquímetro dos lábios e dentes, o paciente reage involuntariamente com contração muscular, alterando a quantidade de exposição dos dentes.

Destaco ainda que esta invenção é inovadora devido ao fato de permitir quantificar com precisão os casos em que o lábio cobre totalmente os dentes anteriores. Mensurar essa diferença entre a borda incisal do incisivo e o lábio, em casos orto-cirúrgicos, é uma dificuldade que o cirurgião Ruy Veras Filho, também inventor do dispositivo, enfrentava clinicamente. Usualmente, essa medida é feita de forma extraoral, com paquímetros ou réguas convencionais, o que exige a atuação de dois operadores.

O nosso dispositivo de mensuração intraoral se torna inovador por reduzir a necessidade de outro profissional para conferir a mensuração, tanto em casos de conferência clínica imediata quanto em casos de avaliação por aquisição fotográfica para realizar a medição, já que o profissional consegue fazer isso sozinho, pois não é necessário segurar este dispositivo na boca do paciente”, circunstancia Marina Paies.

Além das três, integram o grupo de inventores Lucas Cavalcante de Sousa, Anne Kaline Claudino Ribeiro e Ruy Veras Filho. O pedido de patente recebeu o nome de “Dispositivo intraoral para mensuração de exposição de dentes anteriores”. Os protótipos desenvolvidos foram impressos em resina e estão em processo de ajustes finos, melhoria de impressão e produção em aço cirúrgico. Segundo o grupo de pesquisa, o intuito é verificar a forma mais prática e menos onerosa de ser comercializado.

Eles descrevem que o dispositivo é uma peça única, rígida, de vinte milímetros em seu maior comprimento, que pode ser fabricada em aço cirúrgico ou por impressão 3D de alta precisão com resinas, como foi o caso do protótipo. Por fim, os inventores salientam que o dispositivo oferece uma medida crucial para a análise facial e dentária, um momento minucioso, o qual atualmente não conta com um dispositivo similar para aferição.

Patenteamento

Na UFRN, o primeiro passo para os interessados em proteger a tecnologia é fazer a notificação de invenção dela. O procedimento ocorre no próprio sistema SIG, na aba Pesquisa. Os passos seguintes recebem o acompanhamento da Agência de Inovação da Reitoria (Agir). Dessa maneira, a Universidade procura garantir aos seus cientistas suporte no processo de pedido, auxiliando na escrita e até em questões burocráticas, como a responsabilidade pelo pagamento de taxas.

Assim, uma série de atividades necessárias à existência da patente, como a quitação de anuidades, o pedido de exame e a concessão do pedido, são exemplos de atribuições da UFRN, especificamente da Agir.

O ponto culminante é a concessão da patente. Também chamada de Carta Patente, é um documento concedido pelo INPI após análise sobre, entre outros aspectos, os requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial.

A carta é um ato administrativo declarativo e confere a seu titular a exclusividade de uso, comercialização, produção e importação de determinada tecnologia no Brasil.

A caminhada para a concessão de uma patente exige obediência a critérios temporais previstos em lei. Após o depósito, o Instituto guarda o documento por 18 meses em sigilo. Em seguida, o estudo é publicado e fica, pelo mesmo período, aberto a contestações. Passados os três anos, o Instituto parte para a análise em si. Por esse motivo, é comum a concessão ocorrer após quatro anos do depósito.

Classificação Indicativa: Livre


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