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Casos de estresse pós-traumático disparam, alerta Médicos Sem Fronteiras

Mais da metade da população ucraniana sofre com problemas psicológicos devido à guerra, segundo a OMS  |  Profissional de MSF durante atendimento no centro para pessoas deslocadas em Vinnytsia, na Ucrânia - Carolina Thirion/MSF

Publicado em 05/06/2025, às 13h08   Profissional de MSF durante atendimento no centro para pessoas deslocadas em Vinnytsia, na Ucrânia - Carolina Thirion/MSF   Redação

A guerra na Ucrânia continua afetando gravemente a saúde mental da população. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais da metade dos ucranianos vive hoje com algum grau de sofrimento psicológico. O problema mais prevalente são transtornos mentais relacionados a traumas de guerra, impactando 46% da população.

Diante desse cenário, Médicos Sem Fronteiras (MSF) tem ampliado sua atuação no país, com foco em assistência psicológica. A organização atende principalmente pessoas que vivem perto da linha de frente, deslocados internos, feridos em combate e familiares de vítimas do conflito. O objetivo é oferecer suporte psicológico estruturado para tratar, entre outros transtornos, o estresse pós-traumático (TEPT).

Em Vinnytsia, no centro da Ucrânia, um centro de apoio da MSF se dedica exclusivamente ao atendimento de pessoas com TEPT. A equipe multidisciplinar oferece sessões individuais de terapia e atividades em grupo. Entre os métodos aplicados está a terapia EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares), utilizada para amenizar os sintomas associados ao trauma.

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A demanda por apoio psicológico tem crescido de forma expressiva. “O número de pacientes em tratamento ativo para TEPT saltou de 57 em janeiro de 2024 para 118 em abril de 2025”, afirma Christine Mwongera, coordenadora médica da MSF. Segundo ela, há um aumento significativo de homens entre os novos atendimentos — em especial veteranos de guerra que enfrentam dificuldades para se readaptar à vida civil.

O estigma ainda é um grande obstáculo. Muitos pacientes, principalmente homens, resistem em buscar ajuda por acreditarem que devem enfrentar o trauma sozinhos. “Essa doença invisível mina a qualidade de vida, agrava problemas crônicos e isola socialmente os afetados”, explica Mwongera.

Oleksandr Zelenii, de 27 anos, é um dos pacientes atendidos pela organização. Ferido por uma explosão na região de Luhansk, ele lida com distúrbios de sono, perda de memória e sintomas de TEPT. “No início, minha resposta ao terapeuta foi: tudo me incomoda, até você. Hoje, me sinto mais equilibrado”, relata. Depois de anos em reabilitação, ele conseguiu um novo emprego e agora quer ajudar outros veteranos no processo de recuperação.

Desde o início da invasão em larga escala, MSF tem adaptado suas operações à realidade do conflito. Em 2025, a organização atua com ambulâncias para remoção de feridos da linha de frente, clínicas móveis em regiões como Donetsk, Mykolaiv e Kharkiv, além de atendimento a saúde sexual, reprodutiva e apoio psicológico contínuo. A organização também distribui medicamentos e presta assistência em reabilitação física e saúde primária.

Médicos Sem Fronteiras reforça que ninguém deve enfrentar os traumas da guerra sozinho. O acesso a serviços de saúde mental é essencial para que sobreviventes reconstruam suas vidas mesmo diante de perdas e da destruição deixada pelo conflito armado.

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