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Publicado em 03/07/2025, às 21h33 Brasil pronto para testar vacina contra gripe aviária em humanos - Reprodução BNews Natal
O Instituto Butantan recebeu sinal verde da Anvisa para iniciar os testes clínicos da primeira vacina brasileira contra a gripe aviária do subtipo H5N8. A autorização foi concedida no dia 1º de julho.
Agora, o instituto aguarda o parecer da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para começar a aplicação em voluntários.
A vacina influenza monovalente A (H5N8) será testada inicialmente em adultos entre 18 e 59 anos, com duas doses administradas em um intervalo de 21 dias. Na etapa seguinte, o estudo será ampliado para pessoas com mais de 60 anos.
Ensaios pré-clínicos realizados em camundongos e coelhos indicaram segurança e boa resposta imunológica.
O plano é recrutar cerca de 700 participantes entre adultos e idosos nas fases 1 e 2 do estudo. As aplicações ocorrerão em centros de pesquisa localizados em Pernambuco, Minas Gerais e São Paulo.
A previsão é que o acompanhamento dos voluntários se estenda até 2026, quando os dados serão reunidos para o pedido de registro da vacina junto à Anvisa.
Risco de pandemia motiva o desenvolvimento
Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan, chama atenção para os perigos dos vírus influenza aviários. Alguns subtipos, segundo ele, podem sofrer mutações e se adaptar a mamíferos, incluindo os humanos.
Desde 1996, o subtipo H5 tem demonstrado capacidade de infectar pessoas, ainda que de forma esporádica.
Nos últimos anos, foi observado aumento da transmissão entre mamíferos terrestres, elevando o alerta para uma possível pandemia. Kallás ressalta que a criação da vacina é uma medida de preparação essencial.
“A ideia é nos anteciparmos a um cenário em que o vírus consiga se adaptar ao organismo humano. Desde o começo de 2023, o foco tem sido desenvolver um imunizante capaz de prevenir infecções e quadros graves da doença.
Se houver transmissão entre humanos, queremos estar prontos para produzir a vacina”, explicou.
Mutação do vírus é a principal preocupação
Fernanda Boulos, diretora médica do Butantan, destaca que, até agora, o vírus não conseguiu se adaptar ao sistema respiratório humano. No entanto, por ser altamente mutável, há risco de que essa adaptação ocorra.
Ela explica que a vacina usa o vírus inativado, sem capacidade de causar infecção. Com a liberação ética, os centros de pesquisa estarão prontos para iniciar o recrutamento e a vacinação, com foco na segurança e na resposta imunológica dos participantes.
Letalidade elevada acende alerta global
A Anvisa enfatiza a gravidade de subtipos como H5N1, H5N8 e H7N9. Esses vírus são altamente letais e têm capacidade de mutação acelerada.
Segundo dados internacionais, entre 2021 e 2024, eles causaram a morte de 300 milhões de aves e afetaram mais de 300 espécies silvestres em 79 países.
Em humanos, os números são menores, mas preocupantes. Entre 2003 e 2024, foram registrados 954 casos em 24 países, com 464 mortes — uma taxa de letalidade de 48,6%, muito acima da registrada para a covid-19.
No Brasil, não há casos humanos registrados. O Ministério da Saúde afirma que o risco de contágio é baixo.
A infecção não ocorre pelo consumo de carne ou ovos cozidos, mas pelo contato direto com aves doentes ou ambientes contaminados. A recomendação é evitar qualquer interação com animais mortos ou adoecidos.
Monitoramento e resposta no Brasil
Em 2025, uma granja comercial em Montenegro, no Rio Grande do Sul, identificou infecção em aves.
Após seguir o protocolo de vazio sanitário, que exige 28 dias sem novos casos, o Brasil voltou a ser considerado livre da influenza aviária, conforme comunicado do Ministério da Agricultura à OMSA.
A transmissão do vírus acontece por saliva, secreções ou fezes das aves infectadas. Humanos podem se contaminar ao inalar partículas no ar ou ao tocar em superfícies contaminadas e depois levar as mãos aos olhos, boca ou nariz.
O risco é maior para quem está exposto sem equipamentos de proteção individual.
Preparação do SUS e plano emergencial
Em dezembro de 2024, o Ministério da Saúde lançou um plano nacional de contingência para a gripe aviária. O documento estabelece diretrizes para vigilância, diagnóstico, assistência e comunicação em caso de surtos.
Também foi publicado um guia de vigilância específico para a gripe aviária em humanos, com orientações detalhadas para o monitoramento e resposta à doença.
A estrutura do SUS inclui laboratórios de referência, estoques do antiviral oseltamivir e domínio tecnológico para a produção de vacinas, o que garante capacidade de resposta rápida em caso de emergência.