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Mesmo com banimento e viveiros dinamitados, criadores de camarão do RN lutam para voltar ao topo das exportações

Anderson Barbosa
O camarão já liderou as exportações no RN, mas perdeu espaço. Presidente da Associação Norte-Rio-Grandende de Criadores de Camarão explica o motivo  |   BNews Natal - Divulgação Anderson Barbosa

Publicado em 28/06/2025, às 22h00   Anderson Barbosa



Já foi dito que o cultivo de camarão é uma verdadeira joia. E com toda razão. O Nordeste produz 99,6% de todo o camarão do Brasil. Foram mais de 120 mil toneladas no ano passado. Ceará e Rio Grande do Norte, sozinhos, produzem 76,4% de tudo isso. A questão é que o camarão, que até o ano de 2001 estava no topo da balança comercial potiguar e liderava a pauta de exportações ao movimentar mais de US$ 28 milhões, perdeu espaço. Hoje, óleo combustível, sal marinho, melão, mamão, caramelos e confeitos, são produtos que o RN vende mais que camarão.

O que aconteceu? O que fazer para reverter essa realidade? Qual a situação da carcinicultura potiguar? Para falar de tudo isso, o BNews Natal entrevistou Orígenes Monte Neto. Presidente da Associação Norte-Rio-Grandende de Criadores de Camarão (ANCC), o empresário tratou com zelo sobre o assunto, e destacou as dificuldades que o setor enfrenta, mas também destacou os avanços.

RN é um dos maiores produtores de camarão de cativeiro do país
RN é um dos maiores produtores de camarão de cativeiro do país

BNews Natal – Por anos, muito se falou que o camarão era um dos principais produtos de exportação do RN. O que aconteceu que a balança comercial do estado não mostra mais o camarão em alta?

Orígenes Monte Neto – Inicialmente, perdemos competitividade quando uma ação antidumping movida pelos pescadores da América do Norte, de camarão do Golfo do México, nos colocou fora do maior mercado comprador da época, os Estados Unidos. A Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) reverteu esta ação após mais de 10 anos de embate. A Comunidade Europeia baniu o pescado brasileiro pelo fato de embarcações pesqueiras brasileiras de captura não atenderem a certos requisitos sanitários. E o camarão de aquicultura entrou nessa relação de pescados. O fato é que, até hoje somos proibidos de exportar para a Europa. Outro mercado comprador em larga escala é a China, que não autoriza a espécie que é cultivada no Brasil. Atualmente, temos abertura para os EUA, Ásia (exceto China), países Árabes, mas hoje não temos como competir pela defasagem e desaparelhamento da nossa indústria e das fazendas.

O camarão Paenaues Vannamei, oriundo do Pacífico, é predominante no cultivo
O camarão Penaeus vannamei, oriundo do Pacífico, é predominante no cultivo

BNews Natal – Desde quando a Comunidade Europeia baniu o pescado brasileiro?

Orígenes Monte Neto – Primeiro, o Brasil deixou de exportar para a UE de forma parcial, pela perda do SGP (Sistema Geral de Preferência). Isso foi em 2012. E, segundo, de forma definitiva, pelo banimento do pescado brasileiro, em 2017, o qual passou a vigorar à partir de janeiro de 2018 e persiste até hoje.

BNews Natal – Antes do banimento, o RN chegou a exportar quantas toneladas de camarão para a Comunidade Europeia?

Orígenes Monte Neto – Entre 8.000 e 12.000 toneladas por ano vinham sendo exportados do RN para a Europa nos anos anteriores ao banimento.

BNews Natal – Quais as principais espécies cultivadas hoje no estado?

Orígenes Monte Neto – O camarão Penaeus vannamei, oriundo do Pacífico, é predominante no cultivo.

Orígenes Monte Neto, presidente da ANCC
Orígenes Monte Neto, presidente da ANCC

BNews Natal – Qual o volume total (em toneladas) que o RN produz por ano?

Orígenes Monte Neto – Aproximadamente 35 mil toneladas em 2024.

BNews Natal – Quem são os estados que mais consomem o camarão potiguar?

Orígenes Monte Neto – Estados do Sul e Sudeste. Para camarão fresco, principalmente Santa Catarina e Rio de Janeiro.

Santa Catarina e Rio de Janeiro são os estados que mais consomem o camarão potiguar / Foto: Freepik
Em 2001, o camarão ocupava o primeiro lugar no pódio dos produtos exportados pelo RN / Foto: Freepik

BNews Natal – Qual o valor estimado, em reais, a carcinicultura gera para a economia do estado?

Orígenes Monte Neto – Em torno de R$ 1 bilhão por ano.

BNews Natal – Quantas empresas de produção de camarão existe atualmente no estado?

Orígenes Monte Neto – 480 no último censo setorial

BNews Natal – Quantos empregos diretos e indiretos essa cadeia gera no RN?

Orígenes Monte Neto – 30 mil empregos

BNews Natal – Existe uma política de incentivo à carcinicultura potiguar?

Orígenes Monte Neto – Não

BNews Natal – Quais são as principais vitórias e conquistas que a ANCC tem para citar nestes últimos anos?

Orígenes Monte Neto – Contribuímos com o setor de uma maneira cotidiana, representando e defendendo os interesses do setor na estrutura da administração pública, nos meios políticos e nas demandas de mercado. Participamos ativamente na elaboração da Lei do Camarão, Lei Cortez Pereira, nas questões de outorga de água, na defesa do mercado nacional frente as ameaças de importação de camarão sem certificado sanitário, participação em Conselhos, Câmaras e Comitês, Parcerias com a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), Federação da Agricultura e Pecuária do RN (FAERN), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), entre outras.

Camarão potiguar já liderou as exportações no Rio Grande do Norte
Camarão potiguar já liderou as exportações no Rio Grande do Norte

BNews Natal – Quais as principais dificuldades do setor?

Orígenes Monte Neto – Os produtores do RN enfrentam concorrentes de outros estados que não têm no encalço a fiscalização ambiental, fiscal e trabalhista que temos aqui. O RN possui 95% das fazendas devidamente legalizadas com todos os ônus que isso implica e concorre com outros estados que possuem apenas 5% das suas unidades legalizadas disputando o mesmo mercado. Já tivemos viveiros dinamitados pelo Exército pelo fato de não possuir Licença Ambiental. Já houve caso de uma senhora de 73 anos ser encarcerada pelo fato de ter um viveiro de camarão no quintal de sua casa. De longe, não vemos este tipo de coisa nos estados vizinhos.

Líder nas exportações

O camarão cultivado no Rio Grande do Norte fechou o ano de 2001 ocupando o primeiro lugar no pódio dos produtos exportados, com 28,832 milhões de dólares, contribuindo para o superávit de US$ 98,844 milhões ou 24,96% da balança de exportação do estado (US$187,584 milhões). Hoje, a realidade é outra, e o camarão sequer aparece na cesta de exportações. 

Pescado banido da Europa

A União Europeia (UE) determinou a suspensão da importação de pescado e produtos de pesca de origem brasileira com destino ao continente, segundo memorando divulgado pelo Ministério da Agricultura, com data de 20 de dezembro de 2017.

Dumping

O dumping ocorre quando empresas estrangeiras vendem produtos a preços inferiores ao valor normal no mercado interno, causando prejuízos à concorrência local. Essas medidas, geralmente na forma de tarifas adicionais sobre as importações, visam equalizar os preços e evitar danos à indústria doméstica.

Penaeus vannamei

O Penaeus vannamei, também conhecido como camarão-branco-do-Pacífico ou camarão-de-patas-brancas, é uma espécie de camarão amplamente cultivada para fins comerciais, representando uma parte significativa da produção global de crustáceos. É conhecido por seu rápido crescimento e alta tolerância a diferentes condições de cultivo, incluindo água doce.

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