Geral
O Brasil tem hoje 29% da população de 15 a 64 anos em situação de analfabetismo funcional, índice que não apresenta melhora desde 2018 e que chega a ser pior do que o registrado em 2009, quando era de 27%.
O dado é do Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf) 2024, coordenado pela ONG Ação Educativa. Entre os jovens de 15 a 29 anos, 17% enfrentam esse problema, e quase um quinto deles não estuda nem trabalha.
O indicador considera como analfabetos funcionais tanto aqueles que não conseguem ler palavras ou números de telefone (analfabetismo absoluto) quanto os que sabem ler e escrever, mas têm dificuldade de compreender textos simples ou realizar operações básicas de matemática (nível rudimentar).
A coordenadora do Inaf, Ana Lúcia Lima, alerta que esses jovens estão excluídos dos dois espaços onde poderiam desenvolver as habilidades de leitura, escrita e cálculo: a escola e o mercado de trabalho.
O levantamento mostra que 45% dos jovens com alfabetismo consolidado estão empregados, enquanto, entre os analfabetos funcionais, essa taxa cai para 17%. No grupo mais vulnerável, 18% não estudam nem trabalham, e 7% acumulam trabalho e estudo.
A desigualdade de gênero é marcante: 42% das jovens mulheres analfabetas funcionais não estão nem no mercado nem na escola, contra 17% dos homens na mesma situação.
Entre eles, 56% trabalham exclusivamente, enquanto a sobrecarga com cuidados domésticos e familiares mantém muitas mulheres afastadas de oportunidades de renda e estudo.
A pesquisa também indica diferença racial: 17% dos jovens negros são analfabetos funcionais, contra 13% dos brancos. No grupo com alfabetismo consolidado, 53% são brancos e 40% são negros.
Para Lima, é urgente ampliar a oferta de Educação de Jovens e Adultos (EJA), modalidade voltada para quem não concluiu a escolarização na idade adequada, e investir em capacitação no ambiente de trabalho, que pode ter papel alfabetizante.
O estudo aponta que a EJA vive um momento de retração: em 2023, registrou-se o menor número de matrículas desde o início da série histórica, em 1996. A especialista defende que o mercado de trabalho também precisa se mobilizar, já que a digitalização dos serviços aumenta a demanda por mão de obra qualificada.
Segundo ela, “o trabalho pode ser alfabetizante, pois à medida que os jovens avançam profissionalmente e pessoalmente, também desenvolvem seu letramento”.
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